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A Altice Portugal espera que a auditoria interna iniciada na sequência da Operação Picoas esteja concluída até ao final deste ano, apurou o Dinheiro Vivo (DV) junto de fontes das estruturas representativas dos trabalhadores da telecom.
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A presidente executiva da Altice Portugal, Ana Figueiredo, reuniu-se com os sindicatos da empresa na manhã de quinta-feira, para formalizar a abertura do processo de revisão do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) para 2024. Não obstante a ordem de trabalhos, os sindicatos procuraram mais esclarecimentos sobre o impacto da investigação do Ministério Público (MP), conhecida como Operação Picoas. A gestora fez saber que poderá haver conclusões preliminares sobre a auditoria interna antes do final do ano.
Apesar de não haver um calendário para a auditoria ficar fechada, a cúpula da telecom quer o tema “arrumado” o quanto antes, para mitigar os estragos reputacionais que a investigação judicial provocou. Idealmente, sabe o DV, Patrick Drahi, fundador e líder do grupo Altice, quererá já ter dados concretos sobre a auditoria aquando da apresentação de resultados do terceiro trimestre a analistas – prevista para novembro.
A auditoria interna foi solicitada ainda antes do final de julho, dias depois de se tornar pública a Operação Picoas. Considerando que a operação portuguesa tem uma escala internacional (casos do Altice Labs ou da Geodesia), a auditoria interna passa também pelas operações do grupo Altice em França, EUA e outras geografias onde surgiram suspeitas sobre alguns negócios efetuados. Em setembro, o Jornal Económico noticiou que a Altice International, que controla as holdings em Portugal, em França, na República Dominicana e em Israel, encomendou a auditoria forense à consultora EY.
Na mesma reunião com sindicatos, Ana Figueiredo terá dito que, neste momento, não estão a ser equacionadas alienações em Portugal, incluindo a venda da Meo. Terá explicado que as avaliações a ativos da empresa servem para apurar o valor dos mesmos, tendo em conta a elevada dívida do grupo. Este posicionamento contradiz notícias recentes de que o grupo Altice está a estudar a venda de ativos não-estratégicos, sobretudo em Portugal e França – é o caso dos centros de dados do grupo em França e daquele que a dona da Meo tem na Covilhã.
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Do lado dos sindicatos, foi pedido à administração da Altice Portugal um encontro com Patrick Drahi, à semelhança do que o empresário fez com os sindicatos franceses na terça-feira. Ao que o DV apurou, a hipótese da reunião ocorrer é remota, sendo que não foram dadas quaisquer garantias aos sindicatos para tal. O patrão da Altice está em Tel-Aviv, Israel. Também o governo quis reunir com Drahi, mas o encontro aconteceu apenas com Ana Figueiredo a 2 de outubro.
Contactada, fonte oficial da Altice Portugal diz que a “a empresa não comenta” a versão dos factos atribuída às estruturas sindicais, remetendo o tema da Operação Picoas e de eventuais alienações para as call de 7 e 8 de agosto com analistas sobre os resultados da Altice International e Altice França.
“A CEO da Altice Portugal, Ana Figueiredo, recebeu esta manhã as diversas entidades sindicais, no contexto das reuniões regulares da administração com as várias estruturas de representação coletiva dos trabalhadores. Nesta reunião, a CEO da Altice reiterou que a empresa continua focada na operação, na entrega do seu plano estratégico e em entregar os melhores serviços aos seus clientes, parceiros e aos portugueses por via da inovação e da tecnologia que desenvolve”, afirma fonte oficial da dona da Meo.
A Operação Picoas, desencadeada a 13 de julho, levou a várias detenções – entre as quais a do cofundador do grupo Altice Armando Pereira e do parceiro de negócios deste Hernâni Vaz Antunes. Ocorreram, pelo menos 90 buscas domiciliárias e não domiciliárias, incluindo à sede da Altice Portugal, em Lisboa. As autoridades suspeitam de um alegado esquema fraudulento que lesou a dona da Meo em 600 milhões de euros e impediu o Estado português de arrecadar 100 milhões em impostos. O caso levou à suspensão de mais de uma dezena de funcionários do grupo Altice – incluindo Alexandre Fonseca, que tinha deixado de ser CEO da Altice Portugal para ser co-CEO da Altice International e chairman da Altice USA. Em Portugal, este caso provocou uma remodelação no comité executivo da telecom.
A investigação judicial acabou também por colocar pressão no grupo Altice, cuja dívida global ascenderá a cerca de 60 mil milhões de euros, atualmente. Patrick Drahi tem procurado formas de aliviar a dívida, estando em cima da mesa diferentes cenários: entrada de novos parceiros de capital ou de dívida ou a alienação de ativos não estratégicos. A 14 de outubro, o Expresso noticiou que uma potencial venda da Altice Portugal apenas desperta o interesse de fundos de investimento.
Negociações arrancam em novembro
É neste contexto que a Altice Portugal parte para a revisão do ACT de 2024 com os sindicatos. A primeira reunião para negociar o ACT está marcada para 8 de novembro. Já existe uma proposta do laod dos sindicatos, sendo que nos primeiros dias de novembro a administração deverá apresentar uma contraproposta.
A proposta já conhecida, a que o DV teve acesso, partiu dos Sindicato das Comunicações de Portugal (Sicomp) e do Sindicato Democrático dos Trabalhadores dos Correios, Telecomunicações, Media e Serviços (Sindetelco).
As duas estruturas colocam no topo das prioridades o aumento em 90 euros nas tabelas salariais e nos vencimentos base de todos os trabalhadores no ativo, em suspensão de contrato e em situação de pré-reforma, bem como a fixação do subsídio de refeição em 9,60 euros. Querem também que sejam atribuídas diuturnidades a todos os trabalhadores e um pagamento em dobro do prémio de reforma ou aposentação até 31 de dezembro de 2026. Além disso, defendem a atualização igual á taxa de inflação dos complementos de reforma, aos reformados que a eles têm direito.
O Sicomp e o Sindetelco defendem a proposta com a necessidade de dar “previsibilidade” e “segurança” aos trabalhadores, argumentando que as contas da dona da Meo, desde 2019, dão “condições” para aceitar os valores propostos. A proposta, defendem, deve ser válida para os funcionários das empresas Meo, Altice Labs, ACS, Fundação Altice Portugal, Portugal Telecom Data Center, Geodesia, Fastfiber e PT Contact.
O Sindicato dos Trabalhadores do Grupo Altice em Portugal (STPT), que se afirma como o mais representativo na Altice Portugal, ainda não deu a conhecer a sua proposta. No entanto, num comunicado divulgado na quinta-feira à tarde, defende a discussão de “eventuais alterações que se mostrem necessárias implementar ao atual modelo de carreiras, tabela de remunerações mínimas, avaliação de desempenho e evolução profissional, visando negociar as respetivas propostas”, do teletrabalho, no âmbito da agenda do trabalho digno”, bem como “dos princípios e critérios a considerar em futuros processos de revisão salarial, baseados designadamente no desempenho operacional da empresa”.
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