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A norte-americana Oracle desenvolve atividade em Portugal há três décadas e, apesar da subsidiária portuguesa não ir além das três centenas de profissionais, a operação nacional é uma aposta séria da gigante tecnológica. O principal escritório acaba de ser renovado e um novo líder da Oracle Portugal nomeado. Há sinais de que a multinacional poderá reforçar a aposta no país, depreende-se das palavras de Rodrigo Vasques Jorge, o novo country leader da Oracle Portugal, em entrevista ao Dinheiro Vivo.
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De acordo com o gestor, não só a embaixadora dos Estados Unidos em Portugal, Randi Charno Levine, está proativamente a abrir o apetite das empresas norte-americanas para apostarem em Portugal, como também “existe uma procura de elementos [dos EUA e outras geografias] da Oracle” para o país.
Pode isso significar novos investimentos da tecnológica por cá? “Seguramente, não tenho dúvidas”, responde Rodrigo Vasques Jorge, realçando, todavia, que não está nada definido para já.
O que há – sabe o gestor – são “conversas” no sentido de trazer para o país administradores de topo da Oracle que, ao virem, “trazem áreas críticas [da operação global] para Portugal”.
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“Estou em crer que atraindo administradores de topo [da tecnológica] para Portugal, eles próprios acrescentarão mais valor, porque também vão querer garantir que as unidades que lideram continuam a crescer”, diz.
“[Aliás] eventualmente podemos vir a ter outro hub no país, mas não vou falar disso nesta entrevista”, deixa escapar o gestor.
Acresce a imagem que Austin, cidade do Texas onde se localiza a sede da tecnológica, tem da operação portuguesa. “A casa-mãe vê-nos como pioneiros. Somos early adopters e somos os primeiros a vender [novos soluções]. Somos ágeis e, tendo em conta a dimensão do país, somos mais imaginativos”, afirma Vasques Jorge.
Para o novo líder da operação nacional da tecnológica há esperança na concretização de algo no futuro, o que “iria ajudar a Oracle Portugal a crescer ainda mais”. O gestor garante que não está envolvido em qualquer processo de decisão, atualmente, mas mostra-se expectante. E ainda que a operação portuguesa esteja inserida num cluster ibérico com Espanha – o que não retira autonomia na gestão da filial lusa -, o gestor confia na preferência pelo país, devido ao “estilo e contexto de vida diferentes” do país vizinho.
De Portugal para o mundo
Desde 1991 em Portugal, a Oracle pode oferecer hoje, a partir dos escritórios de Lisboa e Porto, serviços de todas as linhas de negócio da gigante norte-americana: engenharia de sistemas (hardware e software) assente em data information, big data e analytics, middleware (infraestruturação de dados) e aplicações (seja em CRM, ERP ou RH); acesso a data centers (não têm em Portugal, mas fornecem cloud públicas ou instalam software no data center do cliente); serviços de consultoria e de suporte.
A multinacional criada por Larry Ellison, Bob Miner e Ed Oates em 1977 afirma-se hoje como uma “cloud company“sempre focada no segmento empresarial, sendo que tudo é produzido e desenvolvido dentro de portas com capacidade de “integração” com tecnologias de outras origens. “A Oracle é agnóstica à tecnologia”, sublinha o líder da filial nacional.
Do portefólio disponível, Rodrigo Vasques Jorge destaca o trabalho dos centros de competências instalados em Lisboa e no Porto, respetivamente, dedicados a soluções MySQL e Retek.
“É a partir destes dois hubs que nós prestamos serviços a nível mundial, em todas as geografias da Oracle”, conta o gestor. A partir de Lisboa, a Oracle serve clientes em regiões tão distintas como EUA, Austrália e países de língua oficial portuguesa (PALOP). Por sua vez, a cidade Invicta não raras vezes trabalha para o Médio Oriente – Arábia Saudita em concreto -, mas também para Brasil e EUA.
A exportação de serviços da Oracle Portugal “tem um peso enorme, muito superior à procura interna”.
“Esta nossa capacidade é importante porque destaca a operação, cria postos de trabalho e traz know-how para Portugal, o que também fornece a subsidiária”, de acordo com o country leader.
É, por isso, que Rodrigo Vasques Jorge está expectante com a possibilidade de ver a casa-mãe reforçar a atividade em Portugal. O gestor afiança não só existir capacidade como há vontade na estrutura nacional em “replicar” o que já é feito nos hubs cá instalados noutro tipo de ofertas. Isto, sabendo que “não há nenhuma indústria que não queira ter Oracle ou que a Oracle não possa estar presente”.
Crescimento orgânico
Questionado pelos indicadores financeiros da operação lusa da Oracle, o gestor diz não poder deslindar números – a gigante norte-americana não desagrega dados. No entanto, assevera: “Acompanhamos o crescimento da casa-mãe. Temos sempre um crescimento muito orgânico”.
“O crescimento da operação portuguesa foi de dois dígitos no último ano fiscal”, adianta, revelando que o setor público representa 60% do negócio, enquanto o setor privado vale 40%.
No setor público, o country leader destaca o cliente Estado, tendo projetos grandes, por exemplo, com os ministérios das Finanças, Saúde, Educação e Segurança Social. Por exemplo, o processamento dos dados para o IRS ou para as pensões corre em sistemas desta tecnológica.
“E há uma tendência do negócio no setor público crescer por causa dos fundos da União Europeia. O Estado está de facto a investir numa transformação digital que se necessita”, salienta.
Questionado, o gestor diz que devido ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) “há muitos mais” projetos a caminho, “tanto no público como no privado”.
No setor privado, entre os clientes nacionais encontram-se o grupo Sonae, a Jerónimo Martins, a Galp, a EDP, a Caixa Geral de Depósitos, a Meo e a Prio. Lá fora, podem beneficiar dos serviços portugueses a Mercadona, o Santander, a Inditex, a Vodafone e o Wallmart, por exemplo.
A área de negócio mais relevante é o desenvolvimento de tecnologia – a que implica infraestruturação de dados -, que representa “60% dos novos negócios”.
Recrutamentos cirúrgicos
A Oracle emprega hoje 290 pessoas em Portugal. Rodrigo Vasques Jorge refere que, apesar da “pandemia ter mudado a forma como se trabalha”, e a perceção da cultura organizacional, a filial nacional não regista constrangimentos face ao que é a capacidade em reter e captar talento. “Há continuidade e rotatividade”, bem como “flexibilidade” no escritório e a marca Oracle “continua muito forte” no setor.
Neste momento, a Oracle Portugal não tem em vista novas contratações. Só “consoante necessidades”. Contudo, mantém desde há um ano o Generation Oracle, um programa que pretende antecipar necessidades da empresa, abrindo a organização a todos os interessados não tenham um background de formação tecnológica.
“O importante são as características humanas”, diz Rodrigo Vasques Jorge.”Estamos com seis pessoas neste programa [de um ano] e vamos meter mais três pessoas até maio de 2023″, revela, explicando que toda a formação é feita dentro de portas e os participantes entram diretamente nos quadros.
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