Partilhareste artigo
Até 2050, a União Europeia tem de triplicar o número de passageiros em comboio de alta velocidade e duplicar o tráfego ferroviário de mercadorias. O cumprimento destas metas depende de um “investimento público massivo”, entende o ministro português das Infraestruturas e da Habitação. Na abertura do Ano Europeu do Transporte Ferroviário, esta segunda-feira, Pedro Nuno Santos salientou que o mercado é insuficiente para responder às necessidades da sociedade.
“Para mudarmos grande parte do transporte por avião ou pela estrada, precisamos de um investimento público massivo em infraestrutura ferroviária, material circulante e em serviços”, referiu Pedro Nuno Santos durante o discurso de abertura, transmitido remotamente a partir de Lisboa.
Segundo o ministro, “apenas o setor público poderá “comprometer-se com os elevados montantes de investimento necessários“. Toda a sociedade poderá beneficiar com esta aposta: o comboio permitirá “poupar tempo e custos, aumentar a segurança e preservar o ambiente”. O governante recordou que, graças ao envolvimento do Estado, foi possível desenvolver o comboio de alta velocidade.
Reconhecendo os objetivos “muito ambiciosos”, Pedro Nuno Santos compara os investimentos necessários até 2050 com as apostas que foram feitas durante o século XIX. Foi nesse período, por exemplo, que Portugal construiu mais de dois mil quilómetros em linhas ferroviárias.
Subscrever newsletter
Pedro Nuno Santos não quer afastar os privados do futuro da ferrovia mas defende que houve falhas nos últimos 30 anos na Europa. A aplicação dos quatro pacotes ferroviários, que tentaram liberalizar este mercado, “falhou no reforço da quota de mercado da ferrovia”. Essa também foi a posição do Comité Económico e Social Europeu, que avaliou os efeitos dos quatro pacotes ferroviários na semana passada.
Comparando a Europa com os Estados Unidos, Pedro Nuno lembrou que a quota do mercado ferroviário nos Estados Unidos é superior a 35% – mais do dobro da europeia. Apesar de apenas 1% da rede ferroviária norte-americana ser eletrificada, as emissões de dióxido de carbono são inferiores às da Europa.
O ministro também assinala que as múltiplas iniciativas para promover o regresso dos comboios internacionais de passageiros mostram que este mercado, liberalizado desde 2010, “não respondeu como esperado. O mercado, por si só, não é capaz de proporcionar os serviços importantes ou essenciais para a sociedade””.
Sem querer voltar ao passado – ao mercado dos operadores ferroviários nacionais -, Pedro Nuno Santos sustenta que “não se pode avançar cegamente na liberalização na crença que a concorrência fornecerá tudo aquilo de que os cidadãos precisam. As autoridades públicas são essenciais para garantir aos cidadãos a acessibilidade e a mobilidade de que precisam.”
O apoio dos estados-membros da UE à ferrovia já tinha sido defendido pelo ministro das Infraestruturas e da Habitação. Em fevereiro, Pedro Nuno Santos destacou que “o caminho-de-ferro não conseguirá responder aos objetivos da Estratégia para a Mobilidade Inteligente e Sustentável, do Pacto Ecológico Europeu e, sobretudo, àquilo que as sociedades esperam dele se estiver a braços com dificuldades financeiras”.
Deixe um comentário