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Quando Manuel Pestana comprou, em 1966, o pequeno hotel Atlântico, na cidade do Funchal, estava longe de imaginar que estas seriam apenas as primeiras linhas da história daquele que viria a ser o maior grupo hoteleiro português. O empresário, natural da pequena vila piscatória madeirense Ribeira Brava, e pai do atual chairman do grupo, Dionísio Pestana, inaugurou, seis anos depois, o Pestana Carlton Madeira. Esse foi o primeiro investimento de um império que conta atualmente com mais de uma centena de unidades hoteleiras espalhadas por 16 países e quatro continentes.
O marco do meio século de vida celebra-se este fim de semana com pompa e circunstância no primeiro hotel do grupo, onde a história nasceu. E ainda antes de soprar as 50 velas, o Pestana já tem motivos para celebrar mais um recorde para juntar à história. Este ano serão atingidas receitas recorde de 500 milhões de euros, o melhor resultado de sempre do grupo (50 milhões de euros acima das contas de 2019). A forte retoma do turismo no país, a elevada procura dos portugueses e o crescimento de mercados internacionais foram os principais impulsionadores de um ano sem memória, depois de, em 2020, a pandemia ter levado as contas aos prejuízos, com um resultado negativo de 32 milhões de euros – o primeiro em quatro décadas.
O CEO do grupo, José Theotónio, admite que este foi um ano de desafios, principalmente pela fatura mais pesada da inflação, mas o “aumento da receita” permitiu “acomodar a subida dos custos na comida e bebida, energia e nos custos com pessoal”. O responsável assegura que os preços não subiram, o que aumentou foi a margem de lucro dos hotéis devido à mudança de hábitos dos clientes, que acabam por optar cada vez mais por reservas diretas ou plataformas online, eliminando a intermediação de operadores turísticos, o que se traduz em ganhos 20% superiores nas unidades no país e de 30% na operação da Madeira.
O orçamento do próximo ano está já a ser desenhado e o grupo irá prosseguir com a política de remuneração mínima. Para 2023, a promessa é a de que o salário mínimo no Pestana esteja entre 10% e 15% acima do salário mínimo nacional e que seja aplicado durante o primeiro trimestre. Já este ano a empresa tinha implementado uma retribuição mínima de 750 euros aos trabalhadores.
Do governo e do Orçamento do Estado para 2023, o responsável diz não esperar nada. “O grupo Pestana é considerado uma grande empresa e grande empresa hoje não tem acesso a nada. Teve acesso na altura da pandemia ao lay-off, mas, de uma forma geral, estamos fora de todo o tipo de incentivos. Não esperamos nada, queremos é que mexam o menos possível e que deixem, no fundo, a economia funcionar, principalmente no setor do turismo”, pede.
2023: Grupo está preparado para manter hotéis encerrados
José Theotónio acompanhou mais de duas décadas da vida do Pestana. Juntou-se ao grupo em 2000, onde assumiu a pasta das contas como CFO, e há sete anos que ocupa o cargo de presidente executivo. Conhece todos os meandros da vida da empresa e fala com a serenidade de quem já se sentou à mesa com diversas crises. Uma recessão à espreita fazem do próximo ano uma incógnita e quando questionado sobre se a incerteza não o assusta, ri-se bem disposto e devolve: “Habituei-me. Temos de saber viver sempre neste clima de incerteza e ter cenários alternativos”. A estratégia para os anos menos bons não está a ser definida agora, já foi testada e é resultado da experiência de quem gere mais de uma centena de hotéis e continua a crescer.
“Estamos preparados para um ano em que haja alguma diminuição da procura e a olhar muito para a nossa estrutura de custos, tornando-a variável e não só com base em custos fixos”, exemplifica. O encerramento prolongado de alguns hotéis é outra das hipóteses a considerar, caso as nuvens se adensem. Tanto em Porto Santo como no Algarve já vários hotéis fecharam portas, como é habitual durante a época baixa em destinos sazonais. “Temos alguns hotéis encerrados a partir de novembro e até fevereiro ou março. No nosso calendário, com o melhor cenário possível, esperamos voltar a abri-los na altura do carnaval e na Páscoa. Mas estamos preparados para, caso o cenário melhor não aconteça, manter as unidades encerradas mais tempo”, afiança.
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A discussão do novo aeroporto de Lisboa está congelada até ao final do próximo ano, altura em que o governo diz avançar com uma decisão sobre a futura localização. O empresário diz não perceber este hiato na discussão e alerta que não é só o turismo que está a ser afetado.
“Sobre o aeroporto já não compreendo nada. O aeroporto não é para o turismo. O aeroporto de Lisboa tem impacto no resto das atividade económicas que existem em Portugal. O aeroporto está a ser um gargalo para o desenvolvimento do país”, aponta. Já a hipótese de uma alternativa em Santarém arranca um cético encolher de ombros. “Um aeroporto de Lisboa tem de estar perto de Lisboa. Olhe eu sou de Beja, faça-se em Beja, a diferença seria pouca. Se vamos fazer um aeroporto a 80 ou 90 quilómetros de Lisboa então não é um aeroporto de Lisboa. Se a discussão repetida sobre as infraestruturas aeroportuárias do país não não provoca surpresa, o mesmo não se pode dizer quando a conversa versa sobre cancelamentos e as greves na TAP.
“Não percebo, vindo de uma empresa que teve o apoio do Estado em 3,2 mil milhões de euros. O dinheiro do Estado é o dinheiro dos portugueses todos. Anuncia um trimestre com resultados positivos e assim que isto acontece começa a luta laboral, não há dúvida de que é incompreensível”, diz, e desabafa: “3,2 mil milhões é muito dinheiro. Se fossem investidos em infraestruturas turísticas, se calhar o turismo cresceria mais”.
José Theotónio acredita ainda que a privatização da companhia “é claramente o melhor caminho”. “É inevitável, nunca deveria ter deixado de ser privada. Se virmos em toda a Europa quem é que tem companhias estatais? . Não existem companhias de bandeira na Europa, por alguma razão será. Por que é que Portugal há-de ter uma?”, questiona.
Marca de Cristiano Ronaldo chega a Paris em 2025
Com 2022 a chegar ao fim, os planos para o próximo ano no capítulo dos investimentos já estão traçados. O grupo prepara já a abertura de dois hotéis na capital no primeiro trimestre do próximo ano, orçados em dez milhões de euros: uma Pousada no bairro histórico de Alfama e um hotel na Rua Augusta. Num horizonte a médio prazo irá abrir em Paris o sexto hotel da marca Pestana CR7.
A construção do quatro estrelas, que resulta de uma joint venture entre o grupo hoteleiro e o jogador de futebol, irá arrancar no primeiro semestre de 2023 e tem um prazo de obra de entre 18 e 24 meses. Em 2025, a unidade localizada na Rive Gauche, próximo do Sena, abrirá portas depois de um investimento de 60 milhões de euros – o grupo de Dionísio Pestana assumirá metade do capital e o futebolista a outra fatia de 30 milhões de euros. Em fase final de aprovação está um hotel em Porto Santo, que poderá vir a ter até 200 quartos mas que, para já, deverá arrancar apenas com a construção da primeira fase com cem quartos. A iniciar licenciamento encontra-se ainda uma unidade no Funchal e José Theotónio admite que o objetivo é “manter a posição de liderança na Madeira”, embora “não esteja previsto crescer muito mais”.
O CEO atesta que o grupo quer continuar a crescer, mas não tem um plano definido. “Continuamos a estudar projetos, abrandámos durante a pandemia, agora retomamos. A taxa de mortalidade na análise de projetos é muito grande, por cada 30 que são analisados fazemos um”, diz.
Sobre os próximos passos sublinha que a prioridade de análise recai nas principais cidades europeias. “Foi muito importante termos feito este teste enquanto grupo e estarmos nas cidades onde há maior competitividade e concorrência como Madrid, Londres, Berlim ou Amesterdão. Estão lá todas as grandes cadeias europeias e as internacionais e temos conseguido comparar bem, fazer bem, ter bons desempenhos, e continuar este trajeto é uma das prioridades”, adianta. Cá dentro, está nos planos “olhar mais para os Açores”.
Com meio século de vida, o grupo soma mais de 11 mil quartos no portefólio e, para os próximos 50 anos, a ambição é firme: “Continuar a crescer passo a passo, sem dar passos maiores do que as pernas”, conclui o CEO.
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