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Pantene, Head & Shoulders ou Herbal Essences são alguns dos shampôs e condicionadores da Procter & Gamble (P&G) que vão até março chegar ao mercado nacional numa garrafa de alumínio e com capacidade para reenchimento. Uma solução que o gigante mundial acredita que só na Europa vai reduzir em 300 milhões o número de garrafas de plástico nos lares.
A solução é uma das apostas feitas pela P&G no âmbito da sustentabilidade do planeta, um “esforço de equipa”, defende Artur Litarowicz, vice-presidente sénior e diretor-geral da área de cuidados de cabelo da P&G Europa, em entrevista ao Dinheiro Vivo. Avançar com oferta de shampôs sólidos está a ser estudada pela companhia.
A P&G vai começar a vender champôs e condicionadores em latas de alumínio que permitem o reenchimento, reduzindo com isso o volume de entrada de plástico no ambiente. Porquê alumínio e não outro material?
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O anúncio que fizemos vai muito para além disso. Estamos a antecipar os nossos compromissos de 2030 para 2021, portanto, em nove anos: em 2021 queremos que todos os nossos champôs e condicionadores tenham embalagens completamente recicláveis em todos os países onde isso seja possível; outro ponto é a redução até 50% do uso de plástico virgem nas nossas embalagens, comparando com 2016, ano onde começamos esta jornada. É um movimento importante se pensar que alcançamos 300 milhões de lares em toda a Europa, significa que, com esta medida, podemos reduzir o equivalente a 300 milhões de embalagens de plástico por ano. É uma intervenção com dimensão. Estamos com isto a lançar o Good Refill System (sistema de reenchimento), que consiste em vários elementos: primeiro trazemos os produtos que os consumidores adoram – Head & Shoulders, Pantene ou Herbal Essences – para uma garrafa de alumínio e, em simultâneo, sacos de reenchimento. Vai permitir aos consumidores poupar até 60% de plástico, quando comparado com as garrafas tradicionais. Indo à sua pergunta, porquê alumínio, como imagina, quando está no banho quer uma embalagem que contenha o produto, mas que também seja seguro para usar; outro motivo é que queremos mesmo uma solução revolucionária. Estas garrafas vão permitir-nos oferecer ao consumidor até 20 vezes o reenchimento do produto, um ciclo de vida de cerca de quatro anos de uso do produto.
Estamos a trabalhar nos champôs sólidos e iremos lançá-los, mas só o faremos quando estivermos mesmo convencidos de que o produto que vamos entregar ao consumidor também entrega ao nível das expectativas de desempenho
Concorrentes da P&G já usaram este sistema de reenchimento em produtos de limpeza do lar, mas os resultados não foram muito entusiasmantes, com as vendas a não se revelar o sucesso que esperavam. Quais são as vossas expectativas? Os consumidores estão agora mais preparados?
Na P&G temos este mantra de que os consumidores é que mandam. Portanto, antes de fazermos o que quer que seja, testamos diferentes soluções com os consumidores, tentamos perceber os seus desejos, necessidades, e com base nisso oferecemos a solução. O que vamos fazer é uma intervenção múltipla, o Good Refill System é apenas uma delas. Temos que olhar para tudo o que estamos a fazer: estamos a movimentar o nosso negócio para o uso de materiais recicláveis; a reduzir o uso de plástico virgem em 50%, a que se junta o Good Refill System. Irão os consumidores aceitar? Tenho conhecimento que houve uma série de casos em outras categorias.
Foi a Johnsson & Johnsson que avançou.
Não penso que o sistema que estamos agora a avançar foi realmente oferecido antes. Requer alguma mudança de hábitos dos consumidores, mas não muito grande. O que me faz estar otimista que esta solução funcione é que, se olhar para toda a Europa, 63% dos consumidores quer reduzir o desperdício que gera em casa, querem soluções e 90% olha para as grandes companhias como a P&G para trazer essas soluções. Estamos a trazer uma solução relativamente fácil de usar e, mais importante, tem o produto em garrafas bonitas, o que na indústria da beleza é extremamente importante.
A L’Oréal – que também tem uma grande unidade de cuidados com o cabelo à venda nos supermercados – optou por avançar com champôs sólidos, eliminando simplesmente a embalagem de plástico. Porquê não dar logo esse salto?
Cada vez que uma grande companhia como a P&G, Unilever ou L’Oréal fazem algo a nível da sustentabilidade fico extremamente feliz. A sustentabilidade é um esforço de equipa. Todos temos de dar o nosso melhor e tentar soluções diferentes se queremos mudar a realidade e atingir os objetivos. Os champôs sólidos é uma das opções, mas hoje não tem necessariamente junto do consumidor o mesmo desempenho em termos de experiência que obtêm com os champôs ou condicionadores líquidos. Na P&G estamos a trabalhar nos champôs sólidos e iremos lançá-los, mas só o faremos quando estivermos mesmo convencidos de que o produto que vamos entregar ao consumidor algo que também entrega ao nível das expectativas de desempenho. Estamos comprometidos em apresentar soluções superiores, mal a tenhamos certamente encontrará o seu caminho para o mercado.
Têm algum prazo para esse lançamento?
Temos sempre a abordagem de fazer as coisas grandes primeiro. E o que vamos fazer em 2021 é em grande: reduzir o uso de plástico virgem em 50%. Temos 300 milhões de garrafas feitas de plástico virgem. É o que nos queremos focar agora pois tem um impacto significativo no planeta. Os champôs sólidos na prática ainda exigem uma grande mudança da parte dos consumidores. O consumidor não está ainda necessariamente, em escala, preparado para fazer essa mudança. E hoje em dia ainda representa um segmento marginal da categoria. Pessoalmente, penso que estes champôs sólidos, da forma que são hoje feitos, exige maior mudança de hábitos dos consumidores do que encontrar uma solução para reduzir o uso de plástico virgem nas embalagens.
63% dos consumidores quer reduzir o desperdício que gera em casa, querem soluções e 90% olha para as grandes companhias como a P
Em 2017, a P&G anunciou em Davos o compromisso de usar até 25% de plástico retirado do mar nas embalagens de H&S. É por ai o caminho? O plástico e os oceanos é um grande tópico de preocupação junto dos consumidores e dos governos.
Assumimos o compromisso de usar 25% de plástico reciclado em todas as nossas embalagens de H&S e já concretizamos, nesse mesmo ano, essa promessa. Foi um bom primeiro passo e isso encorajou-nos agora a dar um novo passo, um passo maior: 50% de redução do uso de plástico virgem a partir de 2021. Estamos a antecipar em nove anos o compromisso que tínhamos assumido anteriormente para 2031.
Esse objetivo será antecipado, disse, “nos países onde for possível”. Mesmo na Europa nem todos os países têm os mesmos níveis de reciclagem: em Portugal o nível é baixo, não é o mesmo da Suécia ou Alemanha. Estando a P&G presente em tantos mercados como é que vai gerir estes níveis diferenciados de modo a assegurar esse compromisso?
Algumas coisas vão acontecer em todos os mercados. A redução do uso do plástico virgem vai acontecer em todos os mercados, porque isso é como produzimos o nosso produto. Vamos assegurar que as embalagens que vão estar disponíveis em Portugal também entregam este compromisso. Ao fazermos o nosso produto pronto para ser reciclado isso também será transversal em todos os mercados. Mas tem razão, em alguns mercados nem sempre há um fluxo de reciclagem, nesses casos, também somos parceiros de empresas como TerraCycle (empresa com sede nos EUA, presente em 21 países, que trabalha em soluções para resíduos de difícil reciclabilidade e dona da plataforma Loop, que vende produtos em embalagens que permitem o reenchimento) para encontrar uma solução.
Mas pensam ajudar os Governos locais a terem sistemas mais eficientes de reciclagem?
A jornada da sustentabilidade ecológica é um esforço de equipa, não é só das empresas, é dos Governos, ONG, mas também do chamado fluxo de reciclagem. Estamos a trabalhar com todos os parceiros, dos reguladores aos recicladores, para encontrar as soluções para o nosso produto em todos os mercados europeus.
Estamos a fazer uma parceria com a TerraCycle para criar estes fluxos de reciclagem em locais onde não existam. Olhamos para este tema absolutamente como um esforço de equipa de todos os operadores, incluindo os Governos e recicladores.
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Os consumidores acabam por pagar pelos esforços ambientais das empresas. Habitualmente, os produtos amigos do ambiente são mais caros do que os outros e, quando confrontados no supermercado com essa decisão, muitas vezes os consumidores compram o mais barato. Os consumidores vão pagar mais para terem essa solução de reenchimento? Vão obter poupanças?
Os consumidores nem sempre estão dispostos a pagar mais por soluções ambientalmente mais sustentáveis. Por isso, quando desenhamos a nossa proposta pensamos sempre como podemos criar uma proposta global que crie um bom valor para os consumidores: uma combinação de produção, embalagem, perfil sustentável. Foi assim que tentamos desenhar o nosso sistema de reenchimento. O preço é definido pelos grandes retalhistas, por isso, não posso comentar, mas espero que tenhamos criado uma solução absolutamente competitiva, que ofereça aos consumidores um grande valor e os leve a escolher esta opção. Acreditamos que será o caso.
Estamos sempre à procura de soluções inovadoras, mas damos prioridade a coisas que podem ser escaláveis e que tenham impacto significativo. Hoje em dia, o impacto significativo é reduzir o uso de plástico virgem nos nossos produtos, algo que vai fazer uma grande diferença. Reduzir o equivalente a 300 milhões a garrafas de plástico virgem por ano tem impacto. É por aqui que queremos começar.
Os materiais inovadores muitas vezes trazem uma série de consequências não intencionais na sua peugada. O papel, por exemplo, pode levar à desflorestação. Temos de escolher e pisar com cuidado com o que escolhemos. A opção que tomamos tem significado, antecipamos em nove anos, e oferecemos de uma forma que esperamos os consumidores apreciem.
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