A tecnologia está a criar desafios ao mundo do trabalho – e as questões vão além do mundo da robotização e da digitalização de tarefas. Para Uma Rani, investigadora da Organização Internacional do Trabalho (OIT), é tempo de debater as mudanças que as plataformas digitais estão a trazer para o mundo do trabalho.
“Acho que é uma questão muito importante e que não estamos a ter este tipo de discussões”, diz Uma Rani, que vai estar em Lisboa a 29 de abril, para a conferência ‘Trabalho 4.0 – Tecnologia, Trabalho e Emprego no século XXI’, na Fundação Calouste Gulbenkian.
Com organização a cargo do CoLABOR (Laboratório Colaborativo para o Trabalho, Emprego e Proteção Social), a investigadora vai abordar temas como a transparência e necessidade de proteção dos trabalhadores que recorrem a plataformas digitais, onde se incluem a Amazon Mechanical Turk, Uber ou a Task Rabbit.
Num dos relatórios da IOT, este tipo de trabalhadores são referidos como “espécie de exército invisível de trabalho – que está disponível globalmente e pronto a trabalhar”, explica a investigadora. Habitualmente, as plataformas digitais ligam alguém que procura um serviço e outras pessoas, que disponibilizam o seu trabalho.
Para Uma Rani, é aí que começa uma grande mudança: “o mecanismo do algoritmo é o patrão, os trabalhadores estão a ser controlados por um algoritmo”. Para Rani, isto acontece devido “à falta de proteção” dos trabalhadores das várias plataformas digitais. E isto significa que “é o algoritmo quem decide se a pessoa recebe ou não – e não há um mecanismo para apelar à decisão”, recorrendo às apps que usam sistemas de classificação para avaliar os trabalhadores.
“Neste momento, os trabalhadores são avaliados pelos clientes e, baseado nas classificações, isto pode determinar se um trabalhador recebe um trabalho ou não ou até se pode continuar na app”. Além disso, Uma Rani alerta também para outro ponto: a capacidade que os algoritmos têm “para reproduzir duas coisas: preconceitos históricos e preconceitos de género – e isto é algo que temos visto através da nossa pesquisa”.
Para a investigadora, as plataformas digitais “operam num mundo livre de regulação”, que precisa de “ser mais transparente”. “Os governos, trabalhadores, empregadores, a sociedade civil… todos precisam de ter esta discussão”, alerta a investigadora da OIT.
Deixe um comentário