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Nasceu como Casa dos Cafés Portela, já lá vão 44 anos, mas com o passar do tempo, e o alargar da gama de produtos que serve, foi evoluindo e mudando a sua designação. Agora, assume-se como monomarca, Portela, que abrange tudo o que vende, desde os chás e infusões aos chocolates… sem nunca esquecer o café, o seu core business. “Assumimos que somos uma torrefatora familiar, especialista em tudo o que gira à volta do café”, diz Sónia Marçal, filha do fundador e a responsável pela rede de lojas Portela. A empresa está a investir um milhão de euros no rebranding da marca, bem como na expansão da sua rede de lojas. E quer chegar a novos consumidores, seja no B2B seja com o alargamento da oferta de cafés em cápsula.
Ângelo Pedro Marçal foi o fundador da empresa, em 1977, depois de ter vindo de Angola, onde era produtor de café. E foi no Centro Comercial da Portela que abriu a primeira loja, com “uma pequena máquina e algumas chávenas de barro” onde serviam o café, que comprava já torrado para, depois, criar lotes. Não descansou enquanto não avançou com a sua própria unidade de torrefação, em meados dos anos 80, ainda que “muito rudimentar”, substituída, em 2000, por uma “máquina moderna e respeitadora do ambiente”.
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Sónia Marçal reconhece que o percurso inicial foi “muito duro”, mas, aos poucos, a marca foi crescendo e ganhando notoriedade. A fase de maior expansão aconteceu no final no milénio, com a chegada à Gare do Oriente e ao Centro Comercial Vasco da Gama. Hoje, assume-se como a marca que tem “a maior variedade de cafés, todos os dias, nos seus dez espaços de venda”.
A Portela compra 15 a 20 toneladas de café, por ano, um pouco por todo o mundo, desde a Colômbia à Índia, passando pela Jamaica, Porto Rico, São Tomé e Príncipe, Timor ou Nicarágua, entre outros. E tem vindo a apostar, cada vez mais, nos cafés de especialidade, como o Brasil Sweet, o Quénia Matunda ou o Etiópia Kochere, entre outros, até porque o cliente “já não se satisfaz com os blends, exige cafés premium, de culturas muito cuidadas e com quantidades muito reduzidas”.
Em grão ou moído, são várias as misturas de café disponíveis, com teores de cafeína distintos. E ainda vende em algumas lojas e online as misturas com cevada e chicória, muito apreciadas para pequeno-almoço, por exemplo. Além disso, o cliente pode escolher o tipo de moagem que pretende, em função do equipamento, seja ele a tradicional cafeteira italiana, de balão, êmbolo ou expresso. Ou as cápsulas que, apesar de serem “mais caras e menos amigas do ambiente”, são aquilo que a maioria dos consumidores prefere. E é uma das novas áreas de aposta da empresa, que vai investir, no próximo ano, numa nova máquina para tornar a oferta de cápsulas compatíveis com mais marcas.
O ano de 2019 marcou a chegada da terceira geração à empresa, com Bernardo e Guilherme, filhos de Sónia e do seu irmão Jorge, a assumirem o cargo de administradores não executivos. Beatriz e Marta continuam a colaborar na empresa, mas ainda sem cargos associados. Aliás, de acordo com o protocolo familiar assinado para preparar o futuro da Portela, profissionalizando a gestão e definindo os vários pelouros de cada um, todos os membros da família terão de trabalhar entre sete a dez anos fora, “para adquirir experiência e referências noutras áreas”, antes de se juntarem ao negócio.
O rebranding e a expansão da marca foi definida em 2019, mas a pandemia veio colocar grandes entraves e prejudicar o natural desenvolvimento do projeto. Até porque muitas das lojas Portela estiveram encerradas alguns meses. Em 2019, a empresa obteve 5,4 milhões de euros de vendas brutas, que caíram para 2,9 milhões em 2020 e, este ano, “se tudo correr bem”, poderão chegar aos 3,3 milhões. “O primeiro semestre foi muito difícil, não há palavras para o expressar. As lojas nos centros comerciais estiveram três meses fechadas e só a partir de julho é que o mercado mudou e permitiu olhar com algum otimismo para o futuro”, diz Sónia Marçal.
O número de trabalhadores é outro indicador das exigências colocadas pela pandemia. Em 2019, a Portela era composta por um universo de 140 pessoas, no início de 2021 chegaram a rondar as 60. Com a abertura da nova loja no Parque das Nações, o regresso dos turistas e o retomar dos hábitos de trabalho e de consumo dos portugueses, a empresa já conta com cerca de 90 pessoas e vai continuar a contratar. Designadamente para a loja online, agora relançada.
Em termos de aberturas, em 2022 a marca pretende abrir duas novas lojas (uma será uma espécie de transferência para um espaço próximo do atual), sendo que a prioridade continua a ser a Grande Lisboa, embora a Portela tenha muitos clientes fiéis a Norte e no Algarve. Mas ainda não é tempo de pensar numa expansão tão grande. “A nossa prioridade, neste momento, é sermos muito criativos e trabalharmos cada vez mais este regresso à normalidade, criando fôlego para, depois, partirmos para fora de Lisboa”, refere.
Além disso, 2022 marcará o desenvolvimento do negócio B2B. “É o meu irmão Jorge que está com essa área, mas estamos, ainda, a dar os primeiros passos. Não queremos ir para as grandes superfícies, mas gostaríamos de ter os nossos produtos à venda em unidades de retalho alimentar mais pequenas ou, até, na restauração. É uma questão em estudo”, sustenta.
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