Vão nascer em Portugal, só neste ano, 19 novas centrais solares fotovoltaicas, concentradas sobretudo no sul do país, com um investimento privado, nacional e internacional, que deverá rondar os 350 milhões de euros (a fatia de leão – 200 milhões – diz respeito ao projeto de maior dimensão, Solara4, em Alcoutim). Quanto à potência de ligação, para o total dos 19 projetos é de quase 500 MVA (megavolt ampere) – ou seja, cerca de 475 megawatts, que geram cerca de 880 gigawatts de energia elétrica solar, o que equivale a cerca de dois terços do consumo total anual da cidade do Porto.
“No universo destas 19 centrais, já estão construídos 53,8 MVA”, garantiu fonte do Ministério do Ambiente e da Transição Energética (MATE).
Além destas centrais programadas para este ano, o governo tem atribuídas outras tantas licenças (ou seja, 38 até 2021) num total de 1500 MW (megawatts), “correspondentes a 1100,000 kva (kilovolt ampere). Para os restantes 400,000 kva foram emitidos certificados digitais equiparados a licenças de produção, mas que aguardam capacidade de receção da rede”. No total, o Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC) prevê até 2030 um investimento privado de 18 mil milhões de euros em nova capacidade de produção renovável e redes de transporte, distribuição e armazenagem, refere fonte do MATE.
Mais de metade da potência total prevista para este ano fica a cargo das cinco maiores centrais projetadas para entrar em produção nos próximos meses: a maior de todas, a Solara4, em Alcoutim, promovida pelos sino-irlandeses da Welink e comprada recentemente pelo fundo de investimento da seguradora alemã Allianz (que em 2018 já tinha comprado outra central portuguesa), tem uma potência instalada de 200 MVA, seguindo-se a de Ourique, com 49,5 MVA, Évora com 28,7MVA, e ainda Salvaterra de Magos e uma outra em Évora, ambas com 25 MVA.
De acordo com dados mais recentes da Secretaria de Estado da Energia e da Direção-Geral de Energia e Geologia, três destas 19 estavam calendarizadas para entrar em exploração até março, como é o caso de Évora e Castelo de Vide, com licenças de exploração atribuídas, e ainda a de Grândola, à qual “faltava apenas a construção do ramal de acesso à rede”. Para o segundo trimestre, ou seja, até ao final de junho, entram em funcionamento mais seis centrais, e depois outras cinco (incluindo a megacentral de Alcoutim, que será a maior da Europa) no terceiro trimestre, entre agosto e outubro. Para os últimos três meses do ano fica reservada a inauguração das últimas cinco centrais solares fotovoltaicas.
Por essa altura, e fazendo as contas aos custos de desenvolvimento de um projeto solar fotovoltaico, que de acordo com fontes do setor ouvidas pelo Dinheiro Vivo rondam os 750 mil euros por MW, terão já sido investidos cerca de 350 milhões de euros nas 19 centrais. As mesmas fontes alertam de que os valores variam em função de vários fatores, como os custos de desenvolvimento da linha, seja ela mais longa ou curta, e da tensão de ligação.
Em Alcoutim, por exemplo, com 220 MW de potência instalada e uma ligação à rede a 400 kVA, só a linha da central Solara4 custa vários milhões, garante fonte conhecedora do processo. No terreno, os trabalhos de construção daquele que será o maior parque fotovoltaico da Europa só arrancaram em força em janeiro de 2019, com um grande número de trabalhadores no terreno, depois de já ter sido concluída a construção da subestação elétrica, adjudicada à Siemens Portugal, e a ampliação da subestação de Tavira por parte da REN.
“A central Ourika, em Ourique, a primeira sem tarifas feed in, quando começou a funcionar em 2018 vendia ainda a energia diretamente ao mercado, mas isso não estava a atrair os investidores. Foi necessário garantir um PPA de longo prazo para convencer a alemã Allianz a investir”, relata fonte conhecedora do processo. Desta forma, foi absolutamente crucial para ambos os negócios, cujo valor não é revelado, a existência de acordos de compra de energia (PPA – Power Purchase Agreement) a 20 anos para as duas centrais, com preços garantidos, abaixo dos que são praticados no mercado grossista de eletricidade.
“No que diz respeito a todos os nossos investimentos em renováveis, é essencial termos a garantia de um fluxo de rendimentos anuais garantidos a longo prazo, com um risco aceitável. Com o custo das tecnologias a descer, a tendência é apostar em projetos sem tarifas subsidiadas e a operar em mercado, sobretudo em países com altos níveis de exposição solar como Portugal. A existência de acordos de compra de energia a longo prazo é muito importante, porque reduz a incerteza e a volatilidade dos rendimentos esperados. É por isso que a natureza dos projetos Ourika e Solara4, sem subsídios e em combinação com um PPA, foi um facto importante para nós”, explicou Marc Groves-Raines, investidor da Allianz Capital Partners. Empresas como a EDP, a Galp, Endesa e Cepsa também estão em força na corrida ao solar português.
Com o Governo a anunciar já para junho a realização do primeiro leilão em Portugal para a energia solar, com tarifas garantidas (fixação de um preço máximo pelo qual a energia poderá ser vendida durante um certo espaço de tempo), o mesmo não estará ao alcance destes novos projetos prontos a estrear. “Estas centrais já têm licença de produção emitida, mas terão que concluir os investimentos para lhes ser dada a licença de exploração, pelo que não faz qualquer sentido recorrerem ao mecanismo de leilão”.
Ainda pouco se sabe sobre estes leilões, mas uma das questões que está em cima da mesa é a obrigatoriedade das novas licenças atribuídas pelo governo preverem prazos mais apertados para a conclusão das obras das centrais. João Galamba, secretário de Estado da Energia, já deixou bem claro que não permitirá a venda de licenças para produção solar. Para evitar novos casos de “especulação”, o Governo vai proibir que os vencedores do leilão para o solar possam vender as licenças. Pelo menos até terem o investimento concluído, revelou João Galamba ao Negócios, garantindo não ter dúvidas que vai haver uma corrida ao sol português.
Seguro Sanches, o seu antecessor na Secretaria de Estado, chegou a avaliar, no ano passado, a corrida ao sol português em 800 milhões de euros. “Até 2021 vamos conseguir triplicar a capacidade solar em Portugal”, dos atuais 572 MW para perto dos 1600 MW. Há uma segunda vaga de projetos solares para 2024-2025″, garantiu nessa altura o ex-secretário de Estado da Energia, ao Dinheiro Vivo.
Deixe um comentário