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Portugal pode antecipar em cinco anos a meta de ter 80% da energia produzida a partir de energias renováveis, de acordo com a Adene – Agência para a Energia. A procura por energia em Portugal ainda está dependente dos combustíveis fósseis, mas o cenário poderá mudar a médio prazo, sobretudo graças às fontes eólicas e à energia solar fotovoltaica. Só em janeiro, Portugal foi o quarto país da Europa com maior incorporação renovável na geração de eletricidade, segundo o boletim de eletricidade renovável da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (Apren).
“Portugal está a apostar cada vez mais na produção de eletricidade a partir de energias renováveis”, comenta o presidente da Adene, Nelson Lage ao Dinheiro Vivo, relembrando que o país tem definido o objetivo de atingir 80% da produção de energia renovável até 2030, mas que “o ritmo de crescimento dos múltiplos projetos já em curso pode significar que este objetivo seja alcançado já em 2025”.
Nelson Lage considera que Portugal “pode orgulhar-se” do papel que está a desempenhar na produção de energias renováveis, “alinhado com os objetivos climáticos da União Europeia [UE] e com os compromissos assumidos no Acordo de Paris”. “A aposta nas renováveis tem vindo a crescer nos últimos anos de uma forma intensa”, afirma, referindo que em 2020 o país “era o quinto país da UE com maior incremento de fontes renováveis no consumo final de energia, integrando o grupo de Estados europeus que excederam as suas metas na incorporação de energias renováveis”.
Um ano antes, o país já era o quarto na UE a registar “maior produção de eletricidade com origem em fontes de energia renováveis, com 53,8% do consumo de eletricidade no país a ter origem nas renováveis”, um valor que “aumentou para os 59%”, em 2021. No final de janeiro deste ano, segundo a Apren, a percentagem já ascendia aos 57,9% – foram gerados 4085 (GW/h) de eletricidade em Portugal Continental, em janeiro.
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Portugal no top 4 da UE
Segundo o Boletim de Eletricidade Renovável da Apren, “entre 1 e 31 de janeiro de 2022, Portugal foi o quarto país com maior incorporação renovável na geração de eletricidade, ficando atrás da Noruega, Dinamarca e Áustria, que obtiveram 99,5%, 76,2% e 66,5%, respetivamente, a partir de FER [fontes de energia renovável]”.
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O preço médio horário registado no Mercado Ibérico de Eletricidade (Mibel) foi de 201,89 euros por megawatt/hora (MWh), em Portugal, traduzindo-se num “aumento superior ao triplo” face a janeiro de 2020.
A análise da Apren registou, ainda, importações de eletricidade equivalentes a 982 gigawatt-hora (GWh) e exportações de 211 GWh, resultando num saldo importador de 771 GWh.
Questionado sobre a dependência energética do país, o presidente da Adene entende que “Portugal não está hoje mais dependente do exterior para a produção de eletricidade”. Quanto ao aumento do preço da eletricidade, Lage considera que tal se deve a “um ano especialmente seco e a uma conjuntura de preços internacionais do gás natural a atingir níveis recorde nos mercados internacionais”. E sublinha que a subida do preço “só vem provar que a aposta nas renováveis é mesmo para continuar”.
Depreende-se nas respostas do líder da Adene que a dependência energética dos combustíveis fósseis – ainda que existente – diminui à medida que a aposta nas renováveis aumenta. Aqui é a produção eólica que mais se faz notar: 2021 foi um “ano de forte crescimento na capacidade instalada, com mais 126 MW do que em 2020”, com o país a atingir “uma potência 5628 MW, o que representa o maior volume de nova capacidade dos últimos cinco anos”, segundo o responsável.
Outra área em que o país se distingue é no solar, mas aí Nelson Lage diz que o país “está ainda numa posição débil”, embora “a capacidade solar fotovoltaica nacional tenha tido um aumento de 710 MW”, em 2021. “Este aumento da capacidade solar fotovoltaica permitiu a Portugal atingir os 1777 (MW) de potência, o que representa um recorde”, afirma.
Para o presidente da Adene, a energia solar pode dar um contributo ainda maior na produção de energia, ao ponto de o “consumo de eletricidade proveniente de energias renováveis ser cada vez mais feito através da produção de energia solar fotovoltaica” – consistência será a palavra-chave. “De 2019 a 2020 a potência instalada de solar fotovoltaico triplicou e este crescimento vai continuar, porque já há no terreno projetos em fase de aprovação ou em fase de implementação. Os próximos anos são decisivos”, diz. O parque fotovoltaico nacional poderá crescer e ultrapassar a meta dos 9,3 GW “antes de 2030”, dependendo do sucesso dos leilões solares de 2019 e 2020.
A par das fontes eólica e solar, Nelson Lage reitera as apostas no hidrogénio verde, “que devem começar a surgir com maior visibilidade”.
À medida que a aposta nas renováveis cresce, Lage assinala a relevância do fecho das centrais termoelétricas de Sines e do Pego, em 2021, pondo fim à produção de eletricidade a partir da queima do carvão. “Portugal deu um passo importante na transição energética e na dependência dos combustíveis fosseis ao decidir encerrar as centrais termoelétricas de Sines e do Pego”, diz o presidente da Adene.
Até 2021, Portugal importava carvão para a produção de energia, mas o encerramento das duas centrais acabou com essa prática. Nelson Lage nota que aquando dos encerramentos o volume de energia produzida nas duas centrais a carvão “era já muito reduzido porque não era competitivo, face aos preços praticados pelas centrais a gás e as hídricas”. “Em 2020, o Pego e Sines produziram 2133 GWh, contra os 12198 GWh das hídricas, os 12 067 GWh das eólicas e os 16 565 GWh das centrais a gás natural. Em 2021 a produção de energia a partir do carvão baixou drasticamente para 696 GWh”, complementa.
71% da energia bruta ainda vinha dos fósseis em 2020
Não obstante os marcos assinalados pelo líder da Adene, Portugal ainda tem muito a fazer. De acordo com dados do Eurostat, divulgados no início de fevereiro, em 2020, ainda que Portugal pudesse ser já o quinto Estado da UE a registar o maior incremento de fontes renováveis no consumo final de energia, os combustíveis fósseis representavam 71% da energia bruta disponível no país.
A percentagem representava uma quebra homóloga de quatro pontos percentuais, mas ainda estava um ponto percentual aquem da média da UE (70%). Portugal surgia em pé de igualdade com a vizinha Espanha, mas muito longe dos níveis da Suécia (31%), Finlândia (41%) e França (48%).
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