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2020 foi um ano de choque para os donos de automóveis elétricos e híbridos plug-in: duplicaram os postos de carregamento para estes veículos.
Nos últimos 12 meses, foram ligadas 707 novas localizações, o dobro dos postos que tinham nascido nos nove anos anteriores, segundo os dados obtidos pelo Dinheiro Vivo junto da gestora da rede nacional, Mobi.E. Mas carregar o carro na rua ainda não é para todos: há 77 municípios onde não existe qualquer posto aberto ao público.
A Mobi.E teve um papel fundamental para este súbito crescimento. A partir de 1 de julho, começaram a ser cobrados os carregamentos nos postos de carga normal (até 22 kwh de potência) – a cobrança nas estações de carga rápida (50 kWh) iniciara-se em novembro de 2018, enquanto os postos de carregamento privados de acesso público eram pagos desde abril de 2019.
Para este resultado foi também determinante, no ano passado, a concessão a privados dos 643 postos de carga normal que pertenciam ao Estado desde a fase piloto. Os privados começaram a perceber que o negócio poderia ser rentável.
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Das 707 estações nascidas em 2020, mais de três quartos (554) tinham até 22 kWh de potência. Portugal passou a contar com 1159 infraestruturas para carregamento normal. As restantes 153 estações criadas permitem carga rápida.
Para pagar, o utilizador é obrigado a ter um contrato com um comercializador de eletricidade para a mobilidade (CEME), que dá um cartão para ser utilizado em todos os postos de carregamento de acesso público, sejam eles de carga normal ou rápida. Os pontos de carga são geridos por operadores de carregamento (OPC).
A duplicação de estações de carga acompanhou as vendas recorde de híbridos plug-in (11 867 unidades) e de automóveis elétricos (8137), que passaram a representar 8,1% e 5,4% das vendas totais de veículos ligeiros. E as estações de carregamento de acesso público são fundamentais para quem não tem espaço em casa ou no local de trabalho.
“Notámos um grande reforço na rede durante o ano passado, o que nos livra termos problemas de carregamento”, destaca Pedro Almeida, proprietário de um automóvel elétrico da zona do Porto, e que reflete o crescimento da infraestrutura de carga.
Quando se sai do litoral, contudo, o cenário é diferente. “Nas férias, como fui para o interior, tive de alugar um automóvel a combustão para não correr riscos”, lamenta. Há ainda 77 municípios que não têm qualquer carregador elétrico de acesso ao público, detalha a Mobi.E. Esta desertificação não deverá durar muito mais tempo, porque não faltam planos para reforçar a rede – lá chegaremos.
No concelho de Lisboa, naturalmente, não faltam sítios para carregar, com 290 estações ligadas à rede. O município de Loures surge em segundo, com 37, mais uma do que Vila Nova de Gaia, com 36. Cascais (35), Porto (34) e Sintra (32) surgem logo a seguir.
As estações ligadas à Mobi.E encontram-se junto às mais diversas instalações, desde parques de estacionamento a restaurantes, passando por hotéis e supermercados, como no caso do Lidl, do Pingo Doce, do Intermarché e da Auchan.
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Nas retalhistas, no entanto, há duas particularidades: na Mercadona, basta ligar a tomada do carro e carrega-o de forma gratuita; no Continente, é preciso ter instalada uma aplicação móvel própria para carregar o carro – a operação poderá ser gratuita conforme o que gastar em compras.
Também de fora da rede da Mobi.E estão as 171 estações de carregamento no destino e oito supercarregadores (com mais cinco a caminho) da Tesla. A Porsche também tem 45 carregadores no destino.
Mercado amadurece
A multiplicação de OPC também reflete os efeitos da abertura deste mercado aos privados. Havia 63 operadores registados em Portugal no final do ano, duas vezes mais do que em meados de 2020. Mas há mais de duas dezenas de empresas que ainda não têm qualquer estação de carregamento ligada à rede, ou porque são privadas ou porque ainda nem sequer estão instaladas.
“Isto está a crescer exponencialmente mas estamos a atravessar uma fase de amadurecimento, graças a uma rede pública universal. Ou seja, haverá muitos OPC que vão ficar pelo caminho”, assinala Henrique Sánchez, presidente da associação de utilizadores de veículos elétricos (UVE) e que conta com uma base de dados pública para conhecer a localização destas infraestruturas.
EDP Comercial, Power Dot, Galp Power e KLC são os quatro maiores operadores em Portugal, segundo os dados da Mobi.E. A EDP Comercial conta com 292 postos, dos quais 23 são de carga rápida; a Power Dot tem 207 estações (18 rápidas); a Galp opera 181 (9 rápidos); a KLC tem 171 (44 rápidos).
Existem, ao todo, 3076 tomadas para carregar os cerca de 70 mil automóveis híbridos plug-in e elétricos em circulação em Portugal. Mas tal como nas bombas de combustível dois carros não podem usar a mesma bomba em simultâneo, cada estação de carregamento não permite que todos os automóveis ganhem bateria ao mesmo tempo.
É por isso que os operadores têm diferentes metodologias na contagem dos postos (infraestrutura) e pontos de carregamento (tomada).
Isto explica porque é que a EDP Comercial, por exemplo, “conta com mais de 700 pontos de carregamento contratados” em todo o país, mais de metade (385) em parceria com empresas ou municípios.
A líder dos carregadores também fala noutros “382 pontos de carga em mais de 90 municípios atribuídos no concurso da Mobi.E” mas que ainda não foram oficialmente transmitidos para o privado. Em 2021, a EDP Comercial pretende atingir mil pontos, sobretudo em municípios ainda sem uma única tomada.
A Power Dot, que também defende que tem mais de 700 pontos de carregamento em Portugal, pretende alcançar as mil unidades ao longo deste ano.
Para 2021 também está prevista, por exemplo, a disponibilização de 82 postos de carregamento na rede de autoestradas da Brisa, assim como a abertura de dez grandes estações de carregamento em dez cidades portuguesas da Mobi.E. Porque parece que nem a pandemia trava o contágio de carros elétricos entre os portugueses.
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