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As exportações da fileira do mobiliário atingiram, no primeiro semestre do ano, um novo recorde: foram quase mil milhões de euros vendidos ao exterior, um valor 9% acima do período homólogo e 5% superior ao do recorde anterior, no primeiro semestre de 2019. A indústria não tem problemas de abastecimento de matérias-primas, mas o “ajustamento contínuo” do preço das mesmas é uma preocupação. A aposta em “produtos de maior valor acrescentado” e, por isso, “menos vulneráveis ao fator preço” é uma das estratégias seguidas, diz o diretor-executivo da Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário e Afins (APIMA), Gualter Morgado.
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Nos primeiros seis meses do ano, as indústrias do mobiliário, estofos e colchoaria exportaram bens no valor de mais de 985 milhões de euros, quase 50 milhões de euros acima do valor histórico obtido nos primeiros seis meses de 2019. Já na comparação com 2021, o aumento é de 78 milhões. França, o principal mercado de destino dos móveis portugueses, cresceu quase 7% para 333,3 milhões. Segue-se Espanha, com 242,3 milhões, e os EUA, com quase 64 milhões, uma variação homóloga de 38,66%.
A APIMA admite a sua satifação face aos resultados alcançados “numa conjuntura particularmente desafiante”, sobretudo por via do aumento dos custos de produção e transporte.
Em causa estão subidas “acima dos 50%”, no último ano e meio, em alguns materiais, como os aglomerados, a madeira ou as ferragens, com “impacto brutal” na atividade das empresas, admite Gualter Morgado. Além da aposta nos segmentos de mercado médio e médio-alto e nas marcas próprias, como fator diferenciador, há ainda a ter em conta a “qualidade própria” do mobiliário nacional, “criado a pensar numa lógica de sustentabilidade, com uma durabilidade média de 25 anos”. “São produtos com uma grande longevidade e que podem ainda ser reconvertidos, recondicionados, ou simplesmente revendidos”, refere o responsável, admitindo que os mercados de artigos em segunda mão não estão ainda maduros, mas acredita que essa realidade “não tardará muito”.
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Apesar de tudo, este responsável admite que a “subida sucessiva” dos custos poderá vir a condicionar alguns investimentos, designadamente em setores como o hoteleiro, com efeitos nas empresas de mobiliário. “Quem aposta nos artigos de luxo não sofre tanto como os outros, mas vai acabar por sofrer”, reconhece.
Por outro lado, Portugal está a beneficiar das dificuldades de alguns dos seus concorrentes, designdamente dos encerramentos de unidades em Itália e Espanha, “o que liberta mais mercado” para as empresas nacionais. “Há concorrentes internacionais que sofreram bem mais com a crise do que nós”, garante a APIMA. E se é verdade que a produção da fileira está “praticamente no limite da sua capacidade”, a seleção de mercados e a aposta crescente em produtos de maior valor acrescentrado garante que “continua a haver uma forte margem de progressão e crescimento”.
Quanto à mão-de-obra, o setor estima que irá precisar, no espaço de cinco anos, de três a cinco mil trabalhadores, número que contempla já os funcionários em idade de reforma. Para já, “disputa, como todos os outros, os recursos humanos disponíveis”, procurando cativá-los para a indústria. Com o “apertar” da procura e a “canibalização na contratação”, as empresas acabam a “pagar mais do que o valor real dos recursos”, reconhece Gualter Morgado, lembrando que “o custo, para a empresa, de cada posto de trabalho é muito superior ao salário auferido pelo trabalhador”.
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