A ideia surgiu de uma necessidade operacional, quando tinha a cargo a segurança de uma embaixada e recebeu equipamento de comunicação que pouco tinha de seguro. O caso Snowden veio mostrar quão pouco fiáveis eram os sistemas de comunicação e revelar um ponto fraco em que Henrique Corrêa da Silva viu uma oportunidade de negócio. “Em 2004, gastou-se 1 milhão em telemóveis supostamente seguros que nunca saíram da caixa porque funcionavam pessimamente. O que fizemos ali por 2014 foi criar um sistema seguro baseado em software, sem ter de ficar preso a ninguém e confiando apenas na matemática.” Assim nascia, dois anos mais tarde, a Privus, empresa líder em cibersegurança, sediada na Suíça mas detida por capitais maioritariamente portugueses.
A Henrique, CEO, juntaram-se desde o primeiro momento Luís Lavradio, CFO, e Artur Goulão, CTO da Privus, que tem o SecurLine como principal pilar – um serviço dotado de uma tecnologia que garante os mais altos níveis de segurança e privacidade na comunicação de chats, voz e vídeo e que foi submetido a 18 meses de testes antes de ser certificado pelo Gabinete Nacional de Segurança para a proteção de comunicações classificadas, tendo sido agora posto ao serviço do Estado português.
Antigo quadro do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED) e da Polícia Judiciária, Henrique explica que o mercado da Privus é internacional. “Temos clientes institucionais em vários continentes e para isso foi preciso fazer esta aposta, resultante de um processo complexo, custoso e extremamente rigoroso. Desenvolvemos um produto de excelência para a proteção de comunicações.” Razão pela qual, durante o ano e meio de testes, puseram esta solução à disposição do Estado. O resultado superou as expectativas. “A utilização do SecurLine em tudo o mundo durante os últimos quatro anos, a certificação do GNS e as auditorias de segurança que temos feito confirmam o que já sabíamos: há know how nacional ao mais alto nível que assegura a qualidade, a segurança e a privacidade das comunicações”, sublinha Henrique. “Num mundo onde impera a vigilância sistémica e massiva de todas as comunicações, Portugal podem estar na vanguarda.”
Disponível para as principais plataformas mobile, o SecurLine não se foca apenas na segurança e privacidade: todas as ações feitas na aplicação são cifradas e qualquer informação, de ficheiros a imagens, é guardado numa base de dados independente e encriptada, impedindo o acesso caso o telemóvel seja comprometido ou perdido.
Tendo por base a experiência do ex-agente, a zero knowledge architecture da aplicação minimiza quer a área de ataque, quer os metadados utilizados, reduzindo ao mínimo qualquer vulnerabilidade e não sendo usado em nenhuma situação o número de telefone do utilizador. Por outro lado, as notificações ao utilizador são cifradas sem que o texto passe pelos servidores da Apple ou do Google; e a lista de contactos também é cifrada e nunca sai do dispositivo – características que o diferenciam de WhatsApp, Viber ou Signal, que “têm bons níveis de segurança, mas zero privacidade.” Da lista faz ainda parte um sistema de deteção que alerta o utilizador caso o aparelho tenha sido comprometido. “É um bónus importante”, explica Artur Goulão. “Até a Agência de Segurança Nacional dos EUA sabe que não consegue violar a tecnologia do SecurLine.”
O potencial da Privus rapidamente despertou interesse internacional, e daí à entrada de um conjunto de investidores foi um passo, apesar de 78% do capital e a gestão se manterem nacionais. “A nossa independência é uma vantagem numa altura em que a realidade digital quase erradicou o direito à privacidade e a segurança digital encontra-se sob ameaça”, defende Luís. Sobretudo agora que a pandemia nos empurrou para o trabalho à distância e reforçou o ritmo da digitalização.
Com a certificação garantida, a Privus pode ganhar espaço no universo estatal. “Seria uma forma de valorizar o know how nacional numa área crucial para a cibersoberania – temos a sorte de não precisa de importar tecnologia estrangeira”, sublinha Henrique. A Privus não esconde a ambição de poder contribuir para o desenvolvimento de um núcleo português de excelência na área da cibersegurança, setor fundamental no xadrez geopolítico. “Portugal tem uma enorme capacidade e maior influência do que se imagina de um país desta dimensão. É este soft power que nos evidencia. Temos excelentes profissionais e vejo aqui uma oportunidade para Portugal poder desenvolver uma alternativa por exemplo ao polo israelita – com a vantagem de sermos conhecidos pelo mundo e vistos com simpatia e como politicamente neutros”.
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