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A vida marinha do grande lago do Alqueva parece ter-se já habituado à presença dos painéis fotovoltaicos que compõem a Central Solar do Alqueva, instalada na zona da barragem com o mesmo nome. O enorme corpo estranho, que ali foi depositado em maio, serve já de refúgio para peixes, que procuram a sombra para se protegerem de predadores, ao mesmo tempo que se vão alimentando das algas que teimam em crescer nos flutuadores que mantêm os painéis à tona da água.
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Apesar desta utilização não autorizada, não foi para albergar peixes que os cerca de 12 mil painéis fotovoltaicos foram instalados naquela zona. A central, que é fruto de um investimento de seis milhões de euros da EDP, foi inaugurada ontem, com a presença do primeiro-ministro, António Costa, e do ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, e vai agora fornecer energia aos municípios de Portel e Moura.
Para o presidente executivo da EDP, Miguel Stilwell d”Andrade, “o Alqueva é hoje um exemplo de inovação e sustentabilidade” e a EDP vai em breve aproveitar estas condições, construindo outro projeto, ganho no primeiro leilão solar flutuante em
Portugal. Ou seja, até 2025, a empresa vai implementar uma nova central com uma potência de 70 megawatts (MW), o que corresponde à capacidade mais alta atribuída nesse leilão. Como explica a EDP, “este projeto irá reforçar a produção de energia a partir desta albufeira, sendo capaz de produzir 300GWh (gigawatt-hora) anualmente, de abastecer 92 mil casas e de evitar a emissão de mais de 133 mil toneladas de CO2”. Esta nova central será cerca de 15 vezes maior que a inaugurada ontem.
Projeto pioneiro
A Central Solar do Alqueva é, para já, o maior parque solar flutuante em albufeira de barragem da Europa e pioneiro a nível europeu no desenvolvimento da tecnologia de solar flutuante.
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Esta central solar pretende contribuir para diminuir a dependência energética de outras fontes e acelerar o projeto de descarbonização. Como explica a EDP, está em linha com a sua estratégia de ser 100% verde até 2030 e de aumentar o investimento em projetos de inovação e de renováveis. No total, esta plataforma ocupa quatro hectares, o equivalente a cerca de 0,016% do espaço total da albufeira do Alqueva.
Esta central terá uma potência de cinco MW, devendo produzir cerca de 7,5 gigawatt-hora, por ano. Quando em funcionamento existe a previsão de abastecer 30% das famílias de Portel e Moura, o que corresponde, sensivelmente, a 1500 núcleos, compostos, em média por quatro pessoas.
Pela primeira vez um parque solar deste género está a testar uma solução para flutuadores (produzidos pela espanhola Isigenere) que incluem compósitos de cortiça. Esta inovação nasce de uma parceria da elétrica portuguesa com a Corticeira Amorim
A EDP prevê, ainda, que no segundo semestre deste ano sejam instaladas baterias com uma capacidade de armazenamento de cerca de 2MWh, no solar flutuante do Alqueva.
Já em 2016 a EDP levou a cabo o projeto piloto no Alto Rabagão, inédito em Portugal e que começou a explorar o conceito de hibridização. Este projeto piloto teve como objetivo testar a tecnologia solar flutuante nas condições mais adversas de instalação numa grande albufeira, com elevada profundidade e variação do plano de água, e com ligação à rede elétrica, aproveitando a infraestrutura existente.
Como referiu o primeiro-ministro, esta central tem “múltiplas vantagens”. Para além de ocupar “um espaço que está disponível e que não tem outra utilização”, também “ajuda a controlar a evaporação da água”.
Outros projetos
Apesar destes projetos, o responsável da EDP considera que é possível fazer mais. “Existem outros mercados onde é possível levar a cabo outros parques semelhantes. Na Europa existe ainda muito potencial e em Portugal seguramente (e aqui o Alqueva é um exemplo), mas há outros”, afirma dizendo que desde que exista um espelho de água onde seja permitido instalar um equipamento semelhante, é possível usar esse espaço. E revela que a Ásia vai receber um investimento da EDP. “A Ásia tem muito potencial, a terra é mais escassa, muito mais densamente povoada e estamos a fazer lá um projeto no mar, porque lá é menos batido que o nosso. É possível alargar e ter mais megawatts lá. Do ponto de vista global será dos maiores projetos”, diz, não revelando valores de investimento.
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