Em duas semanas, eventos, congressos e conferências foram cancelados à medida que se espalhavam os receios com o covid-19. Com o país a passar de alguns casos suspeitos para mais de cem infetados, o setor travou a fundo e já se fala prejuízos estimados em mais de 15 milhões. Das agências aos media, entrou-se em estado de alerta e nem os mais otimistas acreditam que as estimativas de crescimento de 4% do investimento publicitário se irão manter. Qual a dimensão da crise? Vai depender da duração.
“A situação é de catástrofe”, resume o presidente da Associação Portuguesa de Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos. “O setor parou abruptamente aqui e lá fora e se os primeiros cancelamentos eram na ordem dos 40%, em 15 dias passámos a perdas de 100%.” Alguns eventos mantêm-se a aguardar melhor data, “não há novos pedidos”, confirma António Marques Vidal. “O impacto do abrandamento da economia vai fazer-se sentir nos eventos”, reforça o responsável, lembrando que Portugal era destino de congressos internacionais e encontros de quadros.
Da organização às produtoras de stands e brinde, o cenário na fileira é desolador. “Contas por baixo, estamos a ter mais de 15 milhões de prejuízos diretos e mais milhões de indiretos – e nem estou a incluir eventos desportivos”, diz o responsável, exemplificando com o adiamento de várias maratonas.
O covid-19 apanhou as empresas “sem tesouraria” e “alguns empresários já consideram fechar”, assume, revelando até dificuldades em “pagar os salários de março”. No setor onde atuam, incluem-se dez a vinte mil empresas e entre 60 e 120 mil empregos diretos – e já há negociações com o governo para encontrar formas de apoio que permitam “manter os empregos e a capacidade de alimentar as famílias”.
Nas agências de comunicação o cenário é semelhante. “O impacto é preocupante. O padrão tem sido, em 90% dos casos, o adiamento, sobretudo em eventos previstos para março e abril”, diz Teresa Figueira, presidente da Apecom. A grande esperança é que no fim de maio seja possível planear com maior segurança a segunda metade do ano. “O primeiro semestre será abaixo da expectativa, mas o segundo pode ajudar.”
“Aquilo que já é possível garantir é que as campanhas de publicidade e investimentos associados aos eventos estão a ser cancelados ou adiados”, confirma Manuela Botelho, secretária-geral da Associação Portuguesa de Anunciantes. O mesmo diz Manuel Falcão. “Há campanhas (em torno de eventos/conferências) a ser adiadas” e as habituais no período da Páscoa estão a ser repensadas”, afirma o responsável da Nova Expressão. O investimento no outdoor deverá ter uma quebra, admite.
“Não tenho dúvidas de que nesta fase as empresas já estão a repensar investimentos, porque os comportamentos de compra estão a alterar-se. Haverá campanhas que remetem para compras online, nos setores que estejam em condições de abastecer o mercado dessa forma”, diz Manuela Botelho. E lamenta: “O ano de 2020 começou muito bem e havia uma expectativa positiva em relação à evolução económica neste ano.”
“O crescimento neste ano andaria à volta de 4%. Não penso que vá ser atingido. Não é possível dizer que vai cair, mas não vai crescer ao mesmo ritmo”, refere Luís Mergulhão, presidente da Omnicom MediaGroup. Alberto Rui Pereira faz o diagnóstico. “Esta indústria vai ser fortemente afetada. Esperemos que o ciclo seja curto”, diz o CEO da IPG Mediabrands. “Se em maio a situação estiver controlada, há tempo para recuperar. Se entrar pelo verão fica o segundo semestre comprometido e não vai ser possível.”
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