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A Quinta do Cardo, em Castelo Rodrigo, na Beira Interior, é o mais recente projeto vitivinícola do casal Artur Gama e Eva Moura Guedes, que têm já a Quinta da Boa Esperança, em Torres Vedras, desde 2015. Decidiram agora alargar horizontes e apostar numa propriedade quase centenária, com 80 hectares de vinha em produção biológica, mas têm consigo outro membro da família, António Mexia. “É um apaixonado por agricultura e convencemo-lo a juntar-se a nós neste que se não é o maior projeto nacional de vinhas biológicas é, pelo menos, o mais antigo”, diz Artur Gama.
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A propriedade, que pertencia ao universo Companhia das Quintas, foi adquirida em novembro de 2021, pela Sociedade Agrícola da Gama e pela ALGM, com os sócios apostados em reabilitar as vinhas e o edificado, e em dar-lhe novo fôlego nos mercados internacionais. Jorge Rosa Santos é o enólogo e como feitor mantém-se Ermindo Coelho que soma já 35 vindimas na Quinta do Cardo.
Esta é uma propriedade com 180 hectares no total, dos quais 80 certificados em modo de produção biológica. A área restante contempla uma “extensa reserva” de sobreiros e floresta espontânea e três reservas naturais de água. A existência de um “ecossistema equilibrado e autossuficiente” foi precisamente o que conquistou os novos proprietários.
As primeiras vinhas foram plantadas em 1932 e, sob a atenção da Sociedade Agrícola da Gama, foram já plantados 10 novos hectares, das castas Malvasia Fina, Síria e Fonte Cal. Outros se seguirão, mas ainda estão a ser estudadas as necessidades a esse nível.
“Há vinhas velhas que, obviamente, não são para mexer, como as icónicas Vinha do Lomedo, Vinha do Pombal e Vinha do Castelo, mas, quanto ao resto, temos de avaliar até que ponto as podemos reabilitar ou temos de renovar. Achamos que algumas terão capacidade para produzir mais do que estão a produzir, mas as que não poderem serão para ser renovadas, mas de forma lenta, um a dois hectares ao ano. Mas temos de perceber primeiro o que está a responder ou não”, explica Artur Gama, que acrescenta: “Houve um certo desinvestimento nesta propriedade nos últimos 10 anos, nós queremos fazer precisamente o oposto”.
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Aos três milhões de euros de investimento acumulado até ao momento, e que inclui já melhoramentos na adega, vão seguir-se mais 1 a 1,5 milhões nos próximos três anos, ainda na adega, mas também na recuperação de três casas da propriedade. Uma delas, em pedra seca, está já a ser recuperada para se transformar na nova sala de provas do Cardo, no meio das vinhas. As duas restantes são para melhorar as condições dos trabalhadores agrícolas.
A grande prioridade, para já, é conseguir aumentar a produtividade da propriedade, que tem, para já, “produções muito baixas por hectare”. O objetivo é chegar a 2025 com uma produção anual de 500 mil garrafas, mais do dobro do que tiveram em 2022. “Vamos aumentando à medida que estamos no mercado. O objetivo aqui é ter um projeto sustentável, não apenas em termos ambientais, mas também financeiros”, diz o responsável.
A estratégia delineada é de um crescimento orgânico, muito assente na exportação, aproveitando os canais já existentes da Quinta da Boa Esperança, que está já presente em 31 mercados. E os vinhos da Quinta do Cardo estão já a ser vendidos no Brasil, Estados Unidos, Canadá e Inglaterra, que é um mercado “muito forte” para a marca, mas também na Coreia do Sul e no centro e norte da Europa. “Sendo este um projeto todo biológico, abre-nos outras portas a que não estávamos habituados. É uma mais-valia grande, porque são vinhos que vão ao encontro das tendências atuais das preferências dos consumidores. São vinhos de altitude e, por isso, muito frescos e não muito alcoólicos”, acrescenta.
O portefólio da Quinta do Cardo, que deve o seu nome à existência de grandes extensões de cardos leiteiros na propriedade, usados na produção de queijos, é atualmente composto por quatro vinhos, os Quinta do Cardo Superior Branco e Reserva Branco, ambos de 2021, e os Superior Tinto e Reserva Tinto, de 2019, cujos preços de venda ao público variam entre os 11,15 euros e os 17,25 euros.
Preparado está já o lançamento, ainda este mês, de mais cinco novos vinhos: os entradas de gama Cardo Branco e o Cardo Tinto, das colheitas de 2022 e 2021, respetivamente, e que vão custar 7,55 euros cada; o Grande Reserva Branco 2021, o Vinha do Lomedo Síria e o Vinha do Pombal Touriga Nacional, todos de 2021 e com um preço de venda ao público recomendado de 33,60 euros a garrafa.
O plano de negócios estabelecido prevê que, em 2025, a Quinta do Cardo esteja a faturar 2,5 milhões de euros.
Este é o segundo investimento de Artur e Eva em vinhos, que se junta à Quinta da Boa Esperança, em Torres Vedras, um projeto “mais pequeno”, com apenas 20 hectares, mas que tem um perfil de vinhos “muito interessante”, pela proximidade ao mar. Mas o casal não planeia ficar por aqui, admitindo que estão a olhar, “muito atentamente”, para o Algarve e para os Vinhos Verdes, dado que consideram tratar-se das duas regiões “com maior potencial de crescimento”. Uma ideia em maturação, mas que poderá trazer novidades dentro de dois ou três anos. A começar pelo Algarve.
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