Partilhareste artigo
Já lá vão mais de 30 anos desde que Roger Zannier, empresário francês do setor do vestuário infantil, se apaixonou pelo Douro, numa das suas muitas vindas a Portugal para visitar fábricas, e acabou a comprar a Quinta do Pessegueiro, em Ervedosa do Douro. Foi o seu primeiro investimento nos vinhos, a que se seguiu, mais tarde, a aquisição de uma propriedade em França, na Provença. Hoje, esta área de negócio é gerida pelo seu genro, Marc Monrose, que quer levar os vinhos durienses “às maiores e mais importantes mesas do mundo”.
Relacionados
O enoturismo é outra das áreas de aposta, a par do reforço nos vinhos brancos, com a empresa a admitir comprar mais parcelas no Douro para esse efeito e, eventualmente, na Região dos Vinhos Verdes.
“Queremos desenvolver mais o negócio dos brancos, quer no Douro quer eventualmente com um Alvarinho nos vinhos verdes. É um segmento de mercado em grande desenvolvimento em todo o mundo, mas será sempre uma aposta em vinhos de topo”, diz Marc Monrose, sublinhando que a procura por uma propriedade nos vinhos verdes foi atrasada pela pandemia.
“Acredito que em 2023 possamos encontrar uma pequena parcela para os brancos, uma aposta que se poderá estender, também, a outras regiões francesas”, admite, apontando as regiões de Beaujolais e da Saboia como as mais interessantes. “A verdade é que chegamos um pouco tarde, com os preços das propriedades a disparar”, refere, lembrando que o mesmo aconteceu já na Provença, onde “há dez anos se comprava um hectare de vinha por 20 mil euros e hoje não se encontra nada por menos de 200 mil euros”.
Presente em mercados como França, Bélgica, Alemanha, Suíça, Dinamarca, Itália ou Luxemburgo, mas também Canadá, Brasil, Estados Unidos, China, Macau e Vietname, a Quinta do Pessegueiro exporta 25% das cerca de 100 mil garrafas de vinho que produz ao ano. O objetivo é conseguir que os mercados externos assegurem metade das vendas da empresa, com um foco especial em Inglaterra, nos países nórdicos e em Angola, entre outros. Para dar corpo a este desafio foi contratado um novo diretor de exportação, que terá a seu cargo reforçar a presença dos vinhos do grupo Zannier nos mercados externos.
Subscrever newsletter
“Toda a gente conhece o Vinho do Porto, mas os tintos são menos conhecidos. O nosso trabalho será o de desenvolver embaixadores para a marca, dando a conhecer que temos grandes vinhos feitos em Portugal. Vinhos caros, porque são vinhos de terroir e que devem chegar às mesas dos grandes restaurantes em França e no mundo”, diz o empresário.
Levantar o preço
Marc Monrose admite que, no mercado francês, a tarefa não será fácil, não só porque o país conta com grandes regiões vitícolas, mas também porque, habitualmente, é um mercado que não importa vinhos caros. “Hoje, porém, os vinhos do Douro não deixam nada a dever em termos de qualidade e temos que os impor como tal, também em termos de preço. Até porque é muito mais difícil trabalhar uma vinha e fazer vinho no Douro do que na Borgonha ou em Bordéus”, lembra.
Com vendas de 1 milhão de euros em 2022, a Quinta do Pessegueiro tem um portefólio alargado de vinhos DOC Douro, que vão dos 12 aos 55 euros a garrafa, mas também de Vinho do Porto, cuja gama vai de 15,90 a 59 euros.
A propriedade, que tem vindo a ser alargada com a integração de novas parcelas, conta hoje com 28 hectares de vinha, com castas autóctones, predominando Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Souzão e Tinto Cão. Numa fase mais recente, foram ainda plantadas parcelas de Tinta da Barca, Tinta Amarela, Rufete, Alicante Bouschet, Rabigato e Folgasão. Os vinhos são da responsabilidade do enólogo João Nicolau de Almeida.
A Quinta do Pessegueiro está ainda a dar os primeiros passos no domínio do enoturismo, mas Marc Monrose acredita que a integração da propriedade na rede de hotelaria de luxo do grupo Zannier, com unidades no Cambodja, Vietname e Namíbia, a par do Château Saint-Maur, em Saint Tropez, na Provença, entre outras, vai ajudar a promover os vinhos e a região. “Os vinhos da Quinta do Pessegueiro estão disponíveis nos nossos hotéis no Camboja, Vietname ou Namíbia. Que melhor publicidade podemos fazer junto de quem não conhece o Douro ou os vinhos portugueses do que dizer-lhes que temos uma casa para os receber, desafiando-os a vir”, diz o empresário.
A casa tem oito quartos e vistas privilegiadas para o rio Douro, que têm de ser arrendados na totalidade e por um mínimo de duas noites. Os preços variam entre os três mil e os cinco mil euros por noite, consoante a altura do ano.
Com negócios na indústria têxtil, na hotelaria e vinhos e no setor imobiliário, o grupo Zannier fatura 40 milhões de euros ao ano, com o vinho a pesar 25%.
Deixe um comentário