Indissociável da história da Região Demarcada do Douro e do vinho do Porto é a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, conhecida por Real Companhia Velha. Fundada precisamente a 10 de setembro de 1756, por alvará régio de D. José I, a conselho do seu primeiro-ministro, Sebastião José de Carvalho e Mello, o futuro marquês de Pombal, a ela foi entregue o monopólio do comércio dos vinhos durienses com Inglaterra e o Brasil, e da produção e venda da aguardente a norte. Visava combater a grave crise que o vinho do Porto e o Douro atravessavam, em finais do século XVIII, “assegurando a qualidade do produto, evitando adulterações, equilibrando a produção e o comércio e estabilizando os preços”. A primeira demarcação da região, com 355 marcos de pedra, ficou a cargo da Real Companhia, que teve a seu cargo responsabilidades tão distintas como a construção de estradas, a cobrança de impostos, em nome do Estado, e a criação da Aula Náutica e da Real Academia do Comércio e Marinha, que vieram a dar origem ao ensino universitário no Porto.
Hoje intitula-se a mais antiga empresa de vinhos de Portugal, com 555 hectares de vinha, distribuídos por cinco quintas no Douro, que dá emprego a mais de 200 pessoas e que vende os seus vinhos em 45 mercados distintos. Propriedade da família Silva Reis, que detém 67,5% do capital, a RCV faturou 21,8 milhões de euros em 2017. Os vinhos DOP Douro valem já 52% das vendas. “Mais do que uma empresa de vinho do Porto, somos uma empresa do Douro que responde às tendências do mercado”, diz o CEO, Pedro Silva Reis, sublinhando que a Real Companhia procurou apostar nos vinhos do Porto premium, deixando de parte as gamas de entrada. “Sacrificamos volume por valor. Acreditamos que estamos a dar um bom contributo para a saúde financeira do setor”, defende.
Portugal é o principal mercado da RCV, seguindo-se a Alemanha, EUA, Brasil, Bélgica e Canadá. O objetivo da empresa neste ano é crescer 2% a 3%. Mas a grande aposta da Real Companhia Velha está agora no desenvolvimento do enoturismo, encarado como um negócio estratégico.
Inaugurado há dias foi o novo centro de visitas em Vila Nova de Gaia, o 17.56 Enoteca e Museu da 1.ª Demarcação do Douro, um investimento de 2,6 milhões de euros e onde é possível ver o alvará régio ou a garrafa mais antiga da Real, datada de 1765. Entre muitas outras peças museológicas. Segue-se a reconversão de alguns edifícios antigos na Quinta das Carvalhas, em São João da Pesqueira, numa “pequena unidade de alojamento rural de luxo e infraestruturas associadas ao acolhimento de turistas”.
Um projeto a desenvolver em duas fases. A primeira, avaliada em cinco milhões de euros, deverá estar pronta no espaço de dois anos. “Sem enoturismo, uma empresa fica um pouco incompleta, é uma atividade muito importante para a valorização das marcas”, defende o empresário, que espera que “dentro de uns anos” a atividade valha já 15% das vendas da RCV.
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