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Um vídeo publicado nas redes sociais por dois quadros dos Recursos Humanos da TAP, onde davam conta de um processo de recrutamento em Espanha, provocou ontem uma acesa polémica e conduziu a transportadora portuguesa a abrir um inquérito seguido dos procedimentos disciplinares aplicáveis. Pedro Ramos, diretor do departamento, e João Falcato, que exerce funções nos recursos humanos na área da manutenção e engenharia, avançavam no vídeo que estavam em Madrid em “assessment” (avaliação de competências) para selecionar um colaborador para a área de carga da companhia. Numa altura em que a TAP vive um processo de reestruturação, que já implicou a saída de cerca de 1300 trabalhadores, e quando prepara o despedimento coletivo de mais 200 funcionários, o post caiu como uma bomba.
Neste contexto, e “tendo tomado conhecimento de uma publicação nas redes sociais na qual intervêm, a título pessoal, dois trabalhadores da companhia, com responsabilidades na área dos recursos humanos, e dado o momento que a TAP vive, em que a todos são pedidos sacrifícios”, o conselho de administração da TAP decidiu “abrir, de imediato, um processo de inquérito seguido dos procedimentos disciplinares aplicáveis a esta situação”. Segundo esclareceu a transportadora ao Dinheiro Vivo, “o responsável comercial do negócio de carga em Madrid está de saída da empresa”, por iniciativa própria, e é necessário recrutar um novo colaborador para a TAP Air Cargo em Espanha, “uma função que exige um know-how muito específico do negócio de carga – que tem registado crescimentos significativos na TAP – e um profundo conhecimento do mercado espanhol”.
“Neste momento delicado da vida da companhia, o Conselho de Administração expressa a sua solidariedade para com todos os trabalhadores da TAP e apela ao bom senso e recato de todos”, adianta ainda.
Indignação
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Logo de manhã, o ministro das Infraestruturas e da Habitação, que tem a tutela da transportadora aérea, afirmou-se “indignado com o vídeo que circula com dois trabalhadores da TAP com elevadas responsabilidades na companhia”, tendo mais tarde clarificado que “não há um processo de recrutamento aberto, o que há é a necessidade de substituir alguém que vai sair voluntariamente”. À margem da inauguração da base sazonal da easyJet no aeroporto de Faro, Pedro Nuno Santos, esclareceu que só soube mais tarde desta situação. “Eu represento o acionista e o Estado enquanto soberano que está a fazer o auxílio à TAP. Não sou gestor da empresa”, disse.
O ministro sublinhou também que “a situação [da TAP] é crítica e complexa, é demasiado difícil de gerir e era importante que todos nas suas funções tivessem o recato e a sensibilidade para a situação que muitos estão a viver”.
“Cena triste”
Cristina Carrilho, coordenadora da Comissão de Trabalhadores (CT) da TAP, apelidou de “cena triste” a publicação nas redes sociais, que “roça o imoral” e “fora de senso”. “É muito injusto para os trabalhadores portugueses e, realmente, se estão a reduzir pessoas aqui, se há redução de salários, então vão para Espanha contratar?”, questionou à Lusa. Na sua opinião, se a companhia tivesse proposto a ida para Espanha a trabalhadores que saíram no processo de redução de pessoal, alguns aceitariam.
Ontem, o Bloco de Esquerda pediu um “esclarecimento cabal” do sucedido, exigindo que o Governo, o principal acionista da TAP, com uma participação de 72,5%, explique contratações em Madrid “no mesmo momento em que despede em Lisboa”.
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