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É um cenário desolador aquele com que Daniel Serra se depara quando vai a um dos seus restaurantes. Os espaços, em centros comerciais, estão abertos. Clientes nem vê-los. “As zonas de restauração estão praticamente às moscas. Estão a acontecer faturações nunca vistas, residuais. Quando digo que a saúde mental dos empresários é muito débil é justamente pelos compromissos todos que temos, olhamos para os nossos colaboradores que estiveram sempre connosco e não sabemos o que fazer. Eles não têm nada para fazer e nós não temos dinheiro a entrar e só temos dinheiro a sair”, diz Daniel Serra. Resultado: “Tinha 6 colaboradores e tive que reduzir”. Desde março, enfrenta quebras de faturação na ordem dos 80%. Na Grande Distribuição o fecho às 13h nos fim de semana significa perder mais de 20% de uma semana de faturação.
As novas medidas de restrição anunciadas pelo Governo, que abrangem a partir de segunda-feira 191 concelhos, foram recebidas por Daniel Serra com um misto de choque – “restauração foi o setor mais afetado” – e de desilusão. “O governo anuncia medidas restritivas de forma muito criativa”, mas “não tem tido a mesma criatividade apresentar apoios”, atira o também presidente da associação Pro.Var. “Esperávamos algo robusto e com significado”, diz. Não foi o caso. Veio “fora de tempo, devia ter sido conhecido logo quando foram conhecidas as restrições”, com um “forma de cálculo feita para atribuir a menor indemnização possível”.
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“O que só poderá ser por erro, de outro modo é inaceitável e até provocador”, diz indignado Daniel Serra, lembrando que em 10 meses, os restaurantes estiveram um 1/4 do tempo fechados e os dos centros comerciais, que só abriram em junho, mais tempo ainda.
Só o impacto das últimas restrições gerou, entre os dias 30 de outubro e 3 de novembro, perdas de faturação estimadas de 60 milhões de euros, em apenas 5 dias. Com 90,1% dos restaurantes a perder mais de 50% da faturação e quase metade 48,1%) a perder mais de 90% da faturação.
A ordem foi clara. Retalho é para fechar e nem o alimentar escapa. “Surpreende-nos, uma vez que garantimos ambientes seguros e controlados”, comenta António Sampaio de Mattos, presidente da Associação Portuguesa de Centros Comerciais (APCC), que representa shoppings com 8600 lojas. “O setor dos centros e as empresas em geral têm grandes dificuldades face a paragens de funcionamento forçadas, como esta, que provocam prejuízos avultados e potenciam perdas de emprego no setor e contribuem para o desacelerar da economia”, destaca.
Grande distribuição
A grande distribuição viu as regras endurecer. “É um golpe. Houve um volte face que lamentamos e consideramos que pode ser prejudicial para a saúde pública, pois promove aglomerações nos horários em que são permitidas fazer compras”, diz Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED). E um golpe duro. “Mais de 20% da faturação da semana é feita ao fim de semana.” O dirigente mostra-se satisfeito por ser permitido abrir às 8h, “sobretudo para o retalho especializado, que tem sido muito fustigado”.
A solução para quem quiser fazer compras passa pelo online, mas as aprendizagens e má experiência do primeiro confinamento parecem estar bem presentes. O Continente Online, “tendo em conta o previsível aumento da procura”, já reforçou a “infraestrutura de front-end, visível no site, com níveis de resposta muito elevados, e tempos muito reduzidos”, bem como a operacional, “o que nos permite servir hoje mais do dobro dos clientes”.
“Temos vindo a reforçar as nossas equipas (online) e também contado com o apoio pontual das equipas dos serviços centrais. Aumentámos o número de pessoas no atendimento, no embalamento, no picking e reforçámos os serviços de entrega e transporte, sobretudo nas rotas mais exigentes. Toda a logística está a ser muito reforçada, justamente para evitar atrasos nas entregas”, destaca fonte oficial do El Corte Inglés. “Neste momento, é possível efetuar pedidos para o dia seguinte e prevemos que assim se mantenha, considerando os reforços desta operação”, diz.
O DIA está a reforçar as equipas e a alargar os horários das entregas para responder aos pedidos, adianta Helena Guedes, diretora comercial da DIA Portugal. Cobrem Lisboa, Cascais, Amadora, Porto, “estando previstas, para breve, a abertura de mais lojas com a possibilidade de entregas domiciliárias e cobertas pela nossa plataforma minipreco.pt”. E ainda a reforçar parcerias de entregas em casa com a Glovo, Dott e 360hyper.
No 360hyper, que também trabalha com o Recheio e Makro com entregas na Grande Lisboa, Grande Porto, Braga e Torres Vedras num raio de 50km – já estão “a sentir uma maior procura e estamos já a reforçar tanto a nível de mão-de-obra, como a nível de servidores”, adianta Filipe Nery cofundador. “Temos cerca de 50 shoppers e à medida que for necessário conseguimos rapidamente escalar. Já estamos a aumentar cerca de 20%.”
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