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O Revolut Bank vai passar a sucursal em Portugal nos próximos meses, uma mudança na licença bancária que a empresa considera necessária para dar mais confiança aos clientes, ambicionado tornar-se a terceira maior entidade financeira em número de utilizadores.
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“Agora temos um Iban europeu, com base na Lituânia, com as mesmas garantias que qualquer outro banco, e temos ‘passaportada’ essa licença para Portugal. O próximo passo para converter a Revolut num produto que toda a gente usa no dia a dia, na conta principal do cliente, é oferecer um Iban local [número de identificação bancária português], pensamos ter essa licença nos próximos meses”, disse o responsável pela Revolut em Portugal e Espanha, Ignacio Zunzunegui, em entrevista à Lusa.
Em final de 2021, a empresa tecnológica de serviços financeiros (‘fintech’) Revolut lançou o seu banco em Portugal, Revolut Bank, uma instituição de crédito com sede e autorizada na Lituânia e que opera em Portugal ao abrigo do regime da livre prestação de serviços (pela qual qualquer banco autorizado num país da União Europeia pode operar em qualquer outro Estado-membro).
Já este ano, o Revolut Bank quer passar a sucursal em Portugal (está em processo de licenciamento no Banco de Portugal), uma mudança que considera fundamental para que os seus clientes não o olhem como complementar na gestão das finanças, mas como a sua principal ferramenta bancária, através da qual recebem salários, pagam contas, põem dinheiro de lado para poupanças, entre outras operações financeiras. Irá também disponibilizar a conta de serviços mínimos bancários.
“Queremos que os portugueses saiam da ‘app’ [aplicação] do seu banco e usem a Revolut”, disse Zunzunegui.
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Sendo sucursal, os depósitos de clientes do Revolu Bank continuarão a ser garantidos pelo Fundo de Garantia de Depósitos da Lituânia.
Todos os países da União Europeia garantem depósitos até 100 mil euros, contudo, os clientes percecionam de maneira diferente o risco quando o fundo de garantia de depósitos é o do seu país ou de outro.
Quanto à supervisão, sendo sucursal, a supervisão prudencial (avalia a estabilidade financeira dos bancos, designadamente a solvabilidade e a liquidez) continuará a pertencer às autoridades do país de origem (neste caso a Lituânia). Já a supervisão comportamental (relativa à comercialização de produtos e serviços bancários de retalho), passará a pertencer ao Banco de Portugal quando o Revolut Bank passar a sucursal, disse à Lusa o regulador e supervisor bancário.
Assim, será o Banco de Portugal a fazer a fiscalização comportamental, a receber as eventuais queixas de clientes bancários e a proceder a análise e eventuais sanções. De momento, e enquanto o Revolut Bank ainda estiver a operar em Portugal em livre prestação de serviços, reclamações de clientes são reencaminhadas para as autoridades da Lituânia.
Segundo Ignacio Zunzunegui, a Revolut “quer tornar-se um operador bancário chave em Portugal” e ser a terceira maior entidade financeira em Portugal em número de utilizadores.
A Revolut atingiu um milhão de utilizadores em Portugal em 2022, quando foi a ‘app’ financeira mais descarregada no país, segundo a empresa.
Ainda em 2022, em Portugal, as transações aumentaram 75% para mais de 32 milhões. Refere ainda que 90% das transações foram realizadas em Portugal e não quando os clientes estavam em viagem (sendo essas 10% das transações).
A empresa nascida no Reino Unido não divulga, contudo, receitas e resultados líquidos da operação em Portugal.
Outro dos objetivos da Revolut na operação em Portugal é fazer a “integração” com os serviços Multibanco, já que esses são serviços percecionados como muito importantes pelos clientes do país.
Ignacio Zunzunegui disse que, três anos e meio depois do início das conversas com a SIBS (gestora da rede Multibanco), “começa a haver progresso” para se chegar a um entendimento para ter na ‘app’ produtos como pagamentos ao Estado, pagamento em terminais de pequenos negócios ou MB Way.
A Revolut também quer disponibilizar empréstimos pessoais (em Espanha já existe e o crédito vai de 1.000 até 30 mil euros), mas ainda não tem data para isso acontecer em Portugal.
Para Ignacio Zunzunegui um passo importante em Portugal será o lançamento este ano da Revolut no Brasil, tendo em conta os muitos brasileiros a viver em Portugal.
“Vai permitir aos brasileiros a viver em Portugal mandar dinheiro para contas da Revolut do Brasil de graça, instantaneamente”, afirmou.
Aliás, disse Ignacio Zunzunegui, a Revolut quer ser um MBWay para o mundo: “Queremos converter a Revolut num MB Way Global, onde toda a gente pode mandar dinheiro a qualquer parte do mundo de forma instantânea, a nossa visão é que o dinheiro não tenha limites geográficos”, disse.
Ignacio Zunzunegui considerou que as comissões ficam “abaixo dos bancos tradicionais”, justificando que isso é possível desde logo devido à menor estrutura.
A Revolut tem cerca de 6.000 trabalhadores em todo o mundo. Por comparação, a Caixa Geral de Depósitos tem o mesmo número de empregados só em Portugal.
Os bancos tidos como ‘tradicionais’ têm sido críticos com as menores exigências às “fintech”, considerando que as diferenças são uma desvantagem competitiva e fazem com que percam negócio para atividades com menor regulação. Também as sucursais têm menores encargos do que bancos que têm sede em Portugal.
Em 2019 foram várias as intervenções do presidente do BCP, Miguel Maya, defendendo que o Fundo de Resolução nacional tem de ser pago por todos os bancos que fazem transações financeiras com clientes portugueses. “Porque é que uma sucursal não há de suportar? O BCP devia mudar a sede para deixar de pagar o Fundo de Resolução”, questionou.
Em Portugal, a maior parte dos utilizadores da Revolut tem entre 25 e 34 anos e a empresa diz que está a notar crescimento no segmento dos 18 aos 24 anos.
A Revolut tem 1.200 funcionários em Portugal, a trabalharem no centro tecnológico de Matosinhos.
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