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Ao contrário de algumas empresas que, perante a adega ainda cheia de vinho do ano passado, limitaram as compras nesta vindima, a Rozés não o fez. António Saraiva, presidente da empresa, reconhece que foi uma “má decisão de gestão”, mas garante que há uma responsabilidade social para os viticultores que tem de estar acima de tudo. “Isto é quase como um casamento, temos que estar para os bons e para os maus momentos”, defende o representante nos vinhos do Douro e do Porto dos franceses da Vranken Pommery Monopole.
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No entanto, e porque os tempos se anteveem particularmente difíceis, António Saraiva considera que o governo tem de apoiar mais uma destilação de crise que cubra, pelo menos, todos os vinhos do ano passado que ficaram por queimar, por falta de apoios (a medida foi sujeita a um rateio na ordem dos 50%), e subsídios para quem quiser abandonar a atividade e arrancar vinha. Apoios esses que podem mesmo promover a plantação de outras culturas na região, até porque, sublinha, “o Douro é património mundial, não pode ficar a monte”.
Solvabilidade dos viticultores preocupa
Com 230 hectares de vinha própria, a Rozés recebe uvas de uma centena de viticultores que asseguram, em norma, 59% das suas necessidades para a produção de vinho do Porto e de 20% para os vinhos do Douro. Este ano, comprou mais do que precisava, obrigando mesmo a investir em novas cubas, mas a preocupação com a solvabilidade dos seus parceiros a isso obrigou. “Em termos de vinho do Porto, vou manter os preços do ano passado. Não posso subir, mas também não baixo. No DOC Douro ainda nem sei muito bem, mas também sou viticultor e tenho consciência que os custos de produção dispararam”, admite.
O problema são as altas taxas de juro que fazem com que, num setor de capital intensivo como é o do vinho, e em especial o do vinho do Porto – a Lei do Terço obriga a manter em stock três garrafas por cada uma vendida -, o stock imobilizado tenha “um peso enorme” nas contas de resultados das empresas. “Nenhuma empresa consegue viver sem o apoio da banca. A questão é que, no ano passado, tínhamos ainda taxas de 1%, agora estão nos 4,8% a 5%, o que significa multiplicar o custo dos nossos stocks, em termos de financiamento, por cinco e isso tem um impacto brutal nos resultados”, admite o empresário, lembrando que o setor prevê fechar o ano com quebras de 6% em quantidade e de 4% em valor nas vendas de vinho do Porto. O turismo tem ajudado a que a situação não seja pior.
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Arranque de vinha só a quem não plantou
“Na Rozés não passámos incólumes. Estamos estabilizados, em termos de volume e valor de vinho do Porto, mas estamos com quebras nos vinhos do Douro”, explica o empresário. A empresa teve, em 2022, o seu melhor ano de sempre, com uma faturação global de 9,2 milhões de euros, muito influenciada, admite, pelo disparar das vendas de champagne. A Rozés representa em Portugal as marcas dos champagnes do grupo Pommery. Para 2023 estima uma faturação na ordem dos 9 milhões, mas assume “enorme dificuldade” na elaboração do orçamento para 2024.
Para o setor, António Saraiva acredita que a solução tem de passar por uma destilação de crise que, no caso do Douro, diz, pode ser suportada pelo saldo do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, que vive das taxas pagas pelo setor, mas que, por estar sujeito às regras aplicadas à despesa e à contabilidade públicas, vai acumulando saldos por usar e que acabam cativados pelo Estado.
Quanto ao arranque de vinha, António Saraiva admite que os excessos de produção são já crónicos, no país, mas recusa que se usem apoios para ajudar ao arranque em regiões que têm vindo a aumentar a área de vinhas nos últimos anos. “É um absurdo, foi uma perfeita inconsciência”, defende.
Novos vinhos
A Rozés exporta, anualmente, cerca de 1,5 milhões de garrafas de vinho do Porto e 350 mil de vinhos DOC Douro. Os mercados externos valem 83% das vendas de ‘Porto’ e 7% das de DOP Douro, sendo que, além de Portugal, os maiores destaques vão para países como França, Bélgica e Dinamarca.
A pensar no Natal, época de ouro para as vendas de vinhos, a Rozés acaba de anunciar o lançamento de três novos vinhos, os durienses Terras do Grifo Grande Reserva Branco, de 2019, com um preço de venda ao público de 34,50 euros, e Terras do Grifo Vinhas Velhas Tinto 2017, que custa 69,90 euros, bem como o vinho do Porto Dom Rozés 50 anos, que vai custar 350 euros a garrafa.
Além disso, há novas referências no mercado como o Douro Terras do Grifo Essência Branco 2022 (PVP de 42,50 euros) e Douro Rozés Noble Late Harvest 2022 (35 euros) e os vinhos do Porto Rozés 40 Anos ( 110 euros), Rozé s Colheita 2015 (27,50 euros), Rozés Vintage 2021 (29,00 euros) e Rozés LBV 2019 (27,50 euros).
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