Uma unidade de negócio para criar novas ideias para novas smart cities. Nicolas Keutgen, chief innovation officer da Schréder, afirma que “isto”, a digitalização das cidades, “vai mesmo acontecer e vai afetar tudo nas nossas vidas”. Por isso, a Schréder Hyperion abriu um centro de investigação e desenvolvimento no país para o qual está a recrutar ainda 50 pessoas, entre engenheiros e programadores, a maioria portugueses. “Tem sido uma ótima experiência, porque para estes 50 lugares tivemos mais de mil candidatos. Nem todos portugueses, mas a grande maioria, porque só estamos a contratar cá.”
A empresa, presente no país desde 1956, já tem fábricas em Carnaxide e Alverca e investe agora num centro destinado a desenvolver produtos para smart cities. “Queremos desenvolver desde novas ideias até ao suporte a produtos. A nossa filosofia tem em conta que, numa cidade, temos iluminação a cada 20 ou 50 metros, isso dá uma infraestrutura espetacular para a digitalização de serviços públicos. É uma rede que é replicável em todas as cidades, e em que cada ponto já tem eletricidade e está ligado a uma rede.”
Sem revelar valores, Nicolas Keutgen garante que o investimento da multinacional será de “metade de todo o investimento do grupo em todo o mundo – para a área de desenvolvimento é muito significativo. E vai ser de Portugal para o mundo. Esperamos chegar nos próximos anos a 10% das vendas do grupo Schréder só com a tecnologia desenvolvida em Portugal”.
O responsável da empresa acrescenta que “há talento aqui. Há uma geração de ouro e se os investimentos certos forem feitos, Portugal não vai estar tão dependente do turismo, mas muito mais da tecnologia.” O país foi escolhido “por causa do talento disponível no mercado e do movimento à volta das novas tecnologias em Lisboa e muitas de IoT (Internet of Things) no norte”. Este centro, com base na Nova SBE, em Carcavelos, visa o desenvolvimento de soluções de smart cities, IoT, conectividade 5G, mobilidade elétrica e iluminação inteligente.
Natalie Crutzen, diretora do Smart Cities Institute de Liège, lembra que “é importante que se perceba que transformar uma cidade é um processo, não se faz num dia. Se for tudo feito ao mesmo tempo vai ser um custo grande. Muitas autarquias pensam em gerir os projetos sozinhas, mas isto deve ser um ecossistema, com empresas e sociedade civil.
Nicolas Keutgen refere ainda que “a nível político, mesmo na UE, temos visto que este ainda não é um tópico discutido. Mas isto vai acontecer, vai afetar todas as nossas vidas e se calhar tem de começar pelas cidades pequenas. São processos que podem demorar cinco a dez anos.”
A Schréder trabalha já com cidades por todo o país, mas destaca o papel do Porto e de Cascais na digitalização das cidades. “As pequenas cidades até têm mais condições para serem smart cities. Para se ser eficiente há que partilhar infraestruturas e numa cidade pequena as pessoas conhecem-se, falam mais e chegam a acordos. Numa cidade maior, as instituições podem pertencer a partidos diferentes, têm outros interesses e orçamentos e por vezes é mais difícil. O orçamento não deve ser a questão principal. Na Bélgica, houve um apelo às cidades para que se digitalizassem e houve investimentos desde os 25 mil euros até a um limite de 250 mil euros.”
Cascais tem já um centro de controlo “com dois níveis de apoio aos cidadãos, em que veem todos os autocarros, bicicletas, árvores e que lhes permitem ser muito rápidos para resolver um problema na rua” e, com Oeiras, instalou as primeiras unidades Shuffle EV Charger para a mobilidade elétrica.
O Porto preocupa-se mais com a mobilidade. “Temos na cidade o projeto europeu Synchronicity, que já liga as câmaras de controlo do tráfego à iluminação pública. Um lado identifica os padrões do trânsito e o outro ajusta a iluminação para o tráfego.” Lousada apostou na iluminação inteligente e Lisboa, no Marquês de Pombal, tem os sistemas de iluminação conectados e controlados pelo Owlet City Management System.
A partir do novo centro de investigação, a empresa quer soluções baseadas em infraestruturas públicas, desde centros ambientais de medição da qualidade do ar e CO2, controlo de postos de carregamento para veículos elétricos e para a segurança, com câmaras de vigilância ou até sensores de cheias.
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