//Seguros cortam quase 8.000 empregos em 5 anos

Seguros cortam quase 8.000 empregos em 5 anos

O ano de 2020 começou com um tom amargo para cerca de 100 trabalhadores da seguradora Liberty. A companhia de seguros pôs em marcha um processo de despedimento coletivo que pode levar à saída de 25 trabalhadores, no mínimo. Mas a Liberty não é caso único: nos últimos cinco anos, o setor dos seguros perdeu mais de 7700 trabalhadores, entre funcionários das seguradoras e mediadores que encerraram portas. Os números serão superiores já que ainda não incluem os funcionários que terão saído das seguradoras em 2019 e visto que parte dos mediadores são sociedades com mais do um trabalhador.

No final de 2019, estavam registados 16763 mediadores de seguros em Portugal, segundo dados da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões, citados pela Aprose-Associação Nacional de Agentes e Corretores de Seguros. Em 2014 existiam 23465 mediadores no país. São menos 6700 em apenas cinco anos. Só em 2019 fecharam portas cerca de dois mil. “Antevejo a continuação da evolução negativa do número de mediadores a operar no nosso mercado, mercê da fusão de mediadores a que já vamos assistindo, timidamente, por enquanto, mas a aumentar no futuro próximo”, disse David Pereira, presidente da Aprose.

Tal como aconteceu com o setor da banca, o setor segurador enfrentou a crise financeira e o resgate do país, o que levou à venda de algumas companhias de seguros. À consolidação, que habitualmente acarreta redução de postos de trabalho, juntou-se a revolução digital que está a ser um catalisador para a completa transformação do setor financeiro e da economia.

Entre 2014 e 2018 – ainda não existem dados para 2019 – as seguradoras dispensaram 1020 trabalhadores, passando a empregar 10148 funcionários, segundo a APS-Associação Portuguesa de Seguradores.“Há constantemente saídas e entrada de trabalhadores no setor”, desdramatizou José Galamba de Oliveira, presidente da APS. No mesmo período, o setor teve uma quebra de 33% no volume de prémios brutos emitidos, de 4359 milhões de euros para 2940 milhões de euros. Quanto aos lucros, aumentaram mais de quatro vezes, de 77 milhões de euros para 346 milhões de euros, mas 2014 foi um ano de forte quebra do resultado líquido.

Liberty reestrutura

É já este mês de março que a norte-americana Liberty fecha 14 dos seus 16 escritórios no país, colocando trabalhadores em teletrabalho e transferindo ou despedindo outros, no âmbito de um plano de reestruturação do seu modelo comercial. Os que saírem, deverão receber uma indemnização correspondente a 1,7 vezes o seu salário bruto multiplicada pelo número de anos em funções.

“O setor vai viver grandes alterações num futuro próximo”, alertou Carlos Marques, presidente do STAS-Sindicato dos Trabalhadores da Atividade Seguradora, que receia que mais seguradoras sigam o exemplo da Liberty. “Há situações que nos preocupam. A Unidas foi comprada pela Generali e temos receio que possa haver redução do número de trabalhadores”, afirmou o sindicalista. A Seguradoras Unidas – dona da Tranquilidade e da Açoreana e da AdvanceCare – foi vendida pela Apollo ao grupo Generali por 600 milhões de euros. O negócio foi anunciado em julho do ano passado e era há muito aguardado.

A seguradora Tranquilidade pertencia ao Grupo Espírito Santo (GES) e passou na resolução do Banco Espírito Santo (BES) para o Novo Banco – a instituição de transição resultante da resolução do BES. Acabou por ser comprada pelo fundo de investimento Apollo em janeiro de 2015, num negócio em torno de 215 milhões de euros, dos quais 50 milhões de euros em dinheiro e mais de 150 milhões de euros para reforçar os capitais da instituição, segundo notícias da altura.Em 2016, a Apollo ficou com a Açoreana, seguradora do Banif antes da resolução do banco, e formou o grupo Seguradoras Unidas. Um ano depois, o grupo fez um programa de reestruturação com a saída de 380 trabalhadores, ficando com cerca 1.000 funcionários.

Antes, em 2015, foi a AXA que levou a cabo um despedimento coletivo de 67 trabalhadores, cerca de 11% dos seus efetivos.

“Apesar de tudo, as empresas têm mostrado alguma flexbibilidade em relação a trabalhadores em situação mais complicada”, ressalvou Carlos Marques. A saída de trabalhadores das seguradoras “não é completamente selvagem”, disse o dirigente sindical.

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