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O maior concurso de sempre de comboios em Portugal atraiu a atenção dos principais fabricantes de comboios mundiais. Seis participantes entregaram candidaturas para fabricarem 117 novas automotoras elétricas para os serviços suburbanos e regional da CP, no valor base de 819 milhões de euros.
O prazo para manifestação de interesse terminou na terça-feira; dentro de dois meses seguirão os convites para o fornecimento do novo material circulante e a construção de uma nova oficina em Guifões, concelho de Matosinhos.
A transportadora recebeu candidaturas de três empresas e de três consórcios, adiantou fonte oficial da empresa pública ferroviária ao Dinheiro Vivo.
A título individual, apresentaram-se os chineses da CRRC Tangshan, os japoneses da Hitachi Rail e os suíços da Stadler. Nos agrupamentos, há o consórcio dos franceses da Alstom (donos da Bombardier) com a construtora portuguesa DST; dos espanhóis da CAF, que juntou a unidade de fabrico de comboios com o departamento de engenharia; e ainda a parceria entre os espanhóis da Talgo e os alemães da Siemens Mobility.
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Ainda antes da confirmação oficial, alguns dos candidatos já tinham indicado que iriam participar no concurso. “A Alstom continua a trabalhar para poder oferecer à CP e à sociedade portuguesa a melhor proposta, fruto do conhecimento e experiência (…) em mobilidade ferroviária. Nesse sentido, teremos o maior prazer em fazer parte desta aposta em novos sistemas de mobilidade sustentáveis, inteligentes, digitais e inclusivos”, assinalou o diretor-geral da fabricante francesa em Portugal, David Torres.
A Siemens Mobility afirma-se como uma fabricante “que nunca abandonou Portugal, mesmo nos momentos mais difíceis”, e refere que “não poderia ficar alheia a este concurso”. A Talgo salientou as “décadas de experiência na produção de comboios e em tecnologia para comboios de alta velocidade”.
A CAF interessou-se pelo concurso “dada a sua importância e por decorrer num mercado como o português”, que tem estado na mira do grupo espanhol. Contactados, os suíços da Stadler não fizeram comentários. E não foi possível falar com a CRRC nem com a Hitachi Rail.
Praticamente todos os concorrentes já têm ou vão ter uma pegada na ferrovia em Portugal: a Siemens ajudou a construir as locomotivas 5600 (que rebocam carruagens Intercidades); a Alstom fabricou as locomotivas 2600 (ao serviço dos comboios interregionais na linha do Minho); a CAF produziu a estrutura das automotoras 3500, nas linhas de Sintra e Azambuja; a Stadler vai fabricar os 22 novos comboios regionais da CP (que chegam a partir de 2025); os chineses da CRRC vão fornecer os 18 novos veículos para o Metro do Porto.
As seis candidaturas serão agora analisadas pelo júri. Serão admitidas na próxima fase do concurso as empresas e consórcios que “cumpram os requisitos de capacidade técnica e financeira previstos”, lembra fonte oficial da CP.
Os participantes que forem admitidos terão de apresentar, em simultâneo, propostas para o fornecimento dos 117 novos comboios e para a construção da oficina de manutenção de material circulante, em Guifões.
Também em Guifões – onde a CP reabriu as oficinas em 2020 – será possível fabricar as 117 novas automotoras, se o vencedor assim o quiser. A encomenda será atribuída apenas a uma empresa ou a um consórcio.
A proposta ganhadora será escolhida tendo em conta cinco critérios, que valorizam mais a parte técnica do que o preço. Do total de 104,2 pontos, 56 terão em conta a qualidade do material circulante, 21 o preço e condições de pagamento, 8 referem-se ao prazo de garantia dos bens fornecidos e respetivos componentes; há uma bonificação, no máximo de 15 pontos, quanto maior for a incorporação do fabrico ou montagem em Portugal, utilizando operários nacionais.
Para que vão servir os comboios?
Os 117 novos comboios terão diferentes finalidades: a maioria das novas unidades (62) será utilizada nos serviços suburbanos da CP; as restantes (55) no serviço regional.
A linha de Cascais vai ter prioridade na chegada das novas unidades, a partir de 2026: será contemplada com 34 unidades das quais as primeiras 25 serão bi-tensão, necessárias para garantir a transição, na catenária, dos 1500 volts em corrente contínua para os 25 mil volts em corrente alternada. Com a aquisição, serão substituídas unidades com mais de 60 anos, que depois serão encostadas.
Outras 16 automotoras vão reforçar a operação nas linhas de Sintra, Azambuja e Sado; haverá ainda 12 automotoras para os serviços urbanos do Porto.
No concurso há ainda a opção para encomendar mais 24 composições para a Grande Lisboa e outras 12 para o Grande Porto. A decisão terá de ser sempre tomada até 2028, caso “o crescimento de procura nos transportes públicos volte ao ritmo de 2019 [acima dos 10%]”, devido à introdução do programa de apoio à redução do preço nos passes, explicou ao Dinheiro Vivo em dezembro o ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos. Também nessa altura é expectável que já haja mais capacidade nas linhas das duas áreas metropolitanas do país.
As 55 novas automotoras elétricas para o serviço regional deverão substituir mais de 50 unidades da série UTE 2240, com mais de 50 anos de serviço. A última modernização foi feita entre 2003 e 2005 e levou estes comboios a ficarem conhecidos, entre os ferroviários, como “Lili Caneças”
O vencedor do concurso será conhecido no final de 2022, “se tudo correr bem, dentro dos prazos, sem impugnações judiciais”. O ministro garante que “foram tomadas todas as medidas ao nosso alcance para que haja a maior transparência possível”.
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