Empresa de Paços de Ferreira já investiu “centenas de milhares de euros” em novos equipamentos para dar resposta à pandemia. 2019 tinha registado 74 milhões de vendas; abril foi “desastroso”.
Com as encomendas das grandes marcas de moda internacionais e do desporto de alta competição canceladas ou adiadas, a Petratex teve de encontrar novas soluções para manter a fábrica e os seus 600 trabalhadores a laborar. Os equipamentos de proteção individual para os hospitais, numa primeira fase, e as máscaras comunitárias de uso geral, na fase seguinte, permitiram-no. A têxtil de Paços de Ferreira está apostada em conquistar uma imagem de alta qualidade também nesta nova área de negócios, na qual já investiu “várias centenas de milhares de euros” em equipamentos, designadamente na área laboratorial.
O ano de 2019, que fechou com vendas de 74 milhões, 99% das quais obtidas nos mercados internacionais (com especial destaque para a União Europeia, EUA, Canadá e Inglaterra), tinha sido o melhor de sempre, embora Sérgio Neto, CEO da Petratex, admita que se sentiam já sinais de abrandamento, fruto da consciência ambiental dos consumidores.
A covid-19 precipitou tudo. Abril foi “desastroso”, e a empresa perdeu mais de 80% das vendas, entre adiamentos e cancelamentos, bem como pedidos de alteração de pagamentos, empurrados para o fim do ano de 2021. “A situação é grave. A moda está com quebras enormes e não há consumo”, diz o gestor. O adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio também não ajudou. “Um fato de competição demora três anos a desenvolver. São recursos significativos que foram investidos a contar com um retorno financeiro que, agora, fica adiado”, explica.
Desde o primeiro momento, a grande preocupação da empresa foi encontrar forma de reconverter rapidamente a produção para assegurar trabalho e rendimento aos seus funcionários, uma “obrigação social”, sobretudo numa altura em que muitos agregados familiares tinham já um dos elementos em lay-off. E a equipa respondeu à altura. “O capital humano é o nosso bem mais valioso e todos, da área administrativa à fabril, se disponibilizaram para o esforço enorme que esta adaptação exigiu. Foram fins de semana seguidos a trabalhar para o conseguir”, reconhece. Além dos 600 funcionários a que dá emprego, a Petratex é, ainda, responsável por alguns milhares de famílias, já que subcontrata produção a mais 50 ou 60 fábricas da região.
Conhecida por trabalhar com grandes marcas internacionais, a Petratex tem no segmento do luxo 30% das vendas. Mas faz também pronto-a-vestir e artigos técnicos para desporto de alta competição – o LZR Racer, o fato de natação com que Michael Phelps ganhou oito medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim, foi cocriado e produzido pela Petratex – e para a área da saúde, como o VitalJacket, a t-shirt com elétrodos incorporados que funciona como monitor cardíaco. E foi precisamente todo este know how acumulado que permitiu à empresa de Paços de Ferreira adaptar-se rapidamente para a produção de equipamentos de proteção individual para os hospitais. Que está já a exportar para toda a Europa. Foi, inclusivamente, chamada a liderar consórcios na área da saúde, para a investigação e desenvolvimento de novos produtos, mas sobre os quais Sérgio Neto não fala para já.
A ideia de começar a produzir para o mercado da saúde surgiu a 13 de março e nesse fim de semana já tinha fabricado 15 mil máscaras. Pelo caminho, investiu “centenas de milhares de euros” em novos equipamentos, incluindo a nível laboratorial. E tem mais investimentos previstos: “Levamos isto muito a sério e queremos ficar no mercado pela imagem de qualidade que nos é associada na moda e no desporto”, diz Sérgio Neto, que defende que, “mais do que nunca, as empresas precisam de apoio ao investimento”. Até porque acredita que esta é uma área de negócio que veio para ficar. Não só porque a covid-19 “não vai desaparecer tão cedo”, criando constantes necessidades de equipamentos de proteção individual, mas também de máscaras comunitárias, mas porque espera que os responsáveis políticos tenham percebido que a Europa “não pode estar tão dependente do exterior ao nível da saúde”.
As primeiras máscaras que lançou responderam à necessidade imediata de proteção, mas agora a Petratex está voltada para o desenvolvimento de artigos com padrões diferenciadores, que as tornam verdadeiros acessórios de moda, sem perder de vista a função protetora. E pensadas para o verão “e na forma de tornar mais fácil o seu uso com temperaturas altas”. Sem descurar as necessidades de profissionais de saúde.
Os tempos são difíceis, mas a Petratex não baixa os braços. “Não acredito na sorte, acredito em estarmos preparados, financeiramente e com uma equipa à altura. E, por isso, olho para a covid e para os novos produtos que lançamos como um desafio, mas também como uma oportunidade para mostrar o valor que temos”. Projeções de futuro não consegue fazer, mas não tem dúvidas que o próximo ano será ainda “muito difícil”.
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