Com 1,3 milhões de pessoas, a Estónia tem mais de cinco centenas de startups e quer quase o dobro até acabar 2020. O Skype foi a rampa de lançamento para muitos mais.
Poucos haverá nos dias que correm que não sabem o que é o Skype, mas mesmo entre os utilizadores frequentes a maioria desconhece que foi criado a partir da Estónia e que é um dos maiores símbolos do empreendedorismo daquele país. Atualmente detida pela Microsoft, esta aplicação transformou a forma como as pessoas comunicam (permitindo fazê-lo através da internet com recurso a vídeo e a áudio) e talvez até tenha aberto a porta a novas ferramentas usadas no dia-a-dia. Mas a sua dimensão deve ser avaliada pelo muito que o Skype representou para o país onde nasceu: foi fonte de inspiração e conhecimento para os que sonharam montar um negócio.
Nascido em 2003, nos arredores de Talin, conquistou rapidamente o sucesso: apenas dois anos depois de ficar ativo, o Skype foi comprado pelo eBay e, mais tarde, em 2011, pela Microsoft. O interesse suscitado por esta tecnologia made in Estónia teve um efeito multiplicador, permitindo que o país surgisse no mapa tecnológico. À volta do Skype – direta ou indiretamente – foi gerado um ecossistema de empreendedorismo que se alastrou aos 45 mil metros quadrados do território. E a experiência acumulada dentro da tecnológica, a primeira a alcançar o estatuto de unicórnio (com uma avaliação de mil milhões de dólares ou mais), deu a muitos dos profissionais ferramentas necessárias para lançarem a sua própria startup.
Taavet Hinrikus foi a primeira pessoa a ser contratada pelo Skype, onde trabalhou durante sete anos. A sua veia empreendedora conjugada com um problema que enfrentava por viver em Londres, levou-o a fundar com Kristo Käärmann, em 2011, a TransferWise, uma solução tecnológica que permite a transferência de dinheiro de um país para outro. “Provavelmente seria um empreendedor de qualquer maneira. Fi-lo antes do Skype, por isso, tenho a certeza de que o seria. Mas o impacto do Skype para mim foi enorme; ter visto um conjunto de coisas, ter visto como se pode construir uma tecnológica nos arredores de Talin” foi muito importante, conta ao Dinheiro Vivo.
“Saí do Skype ao fim de cerca de sete anos e depois disso sentia que seria muito estranho ter um trabalho normal, em algo que não fazia do mundo um local melhor. Por isso era natural que tentasse fazer qualquer coisa. O desafio é que as probabilidades de ser bem-sucedido são muito pequenas… Posso dizer que fui um felizardo por ter sido o primeiro funcionário do Skype e de certa maneira a TransferWise pode ver-se como continuação dessa história.”
Com uma população que ronda os 1,3 milhões de pessoas, a Estónia é o mais pequeno dos chamados Tigres Bálticos (que incluem ainda a Letónia e a Lituânia), mas tem mais de 500 startups – num país em que só são consideradas para esta categoria as tecnológicas – que dão emprego a cerca de 4700 pessoas. Destas, 80% estão no país, de acordo com dados da Startup Estónia. E no total, essas empresas captaram 328 milhões de euros em investimento. Com o crescimento destes negócios em velocidade cruzeiro, o objetivo agora é chegar às mil startups até ao final do próximo ano.
“A Estónia tem quatro unicórnios e é provavelmente por isso que temos atenção internacional. O Skype e a Playtech [empresa de software de jogos] são os da primeira geração. E porque dizemos da primeira geração? Porque têm dez anos e foram os que formaram os pilares para o nosso ecossistema começar a crescer. Quando o Skype se tornou o primeiro caso mundial de sucesso, os estónios começaram a acreditar que, a partir de um pequeno país como este, pode criar-se histórias de sucesso”, conta Maarika Truu, líder da Startup Estónia.
A ideia da Taxify – hoje Bolt – foi de Markus Villig, mas para lançar a aplicação de transporte de passageiros que na Europa concorre com a Uber, o então jovem de 19 anos contou com o apoio do irmão mais velho, Martin, que também andou pelos corredores do Skype.
“A Estónia teve muita sorte por ter o departamento de engenharia e os fundadores a trabalhar em Talin. Na época de pico, tínhamos 600 estónios na área de IT a trabalhar no Skype, a criar um produto global. Foi valioso para as pessoas que trabalhavam lá; perceberam que podiam construir um produto mundial”, reconhece o cofundador da Bolt acrescentando que, graças às stock options, muitos profissionais tiveram boas remunerações e alguns tornaram-se fundadores de startups.
* Jornalista viajou para a Estónia a convite do e-Estonia Briefing Centre, do Startup Leaders Club, da Startup Estonia, e do Ministério dos Negócios Estrangeiros
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