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Enquanto a Apple não lança óculos futuristas e o endereço do metaverso continua desconhecido, o panorama tecnológico em 2022 está a ser marcado por evoluções e regressos. Foi isso que se viu no CES Las Vegas, em janeiro, e no Mobile World Congress (MWC) que acaba de acontecer em Barcelona, depois de dois anos aos soluços por causa da pandemia de covid-19.
“O grande foco neste ano vai continuar a estar nos smartphones, como tem estado ao longo dos últimos 15 anos”, disse ao Dinheiro Vivo o vice-presidente associado da divisão de dispositivos na IDC EMEA, Francisco Jerónimo. A expectativa é de que surjam mais smartphones 5G com preços acessíveis e que o formato dobrável continue a expandir-se.
“Como é que marcas como a Apple e Samsung poderão oferecer telefones 5G mais acessíveis? Isso vai ser o grande foco”, indicou o especialista. “Num momento em que a maioria dos países já tem a rede comercialmente disponível, e apesar de os telefones 5G já estarem à venda há dois anos, a grande maioria das pessoas ainda não tem ou não renovou para um 5G nos últimos dois anos.”
A Apple prepara-se para lançar um iPhone SE 5G já a 8 de março, algo que permitirá aos consumidores acederem à nova geração móvel com um modelo considerado low cost dentro dos parâmetros da marca. Comparando o iPhone SE que está disponível neste momento, o preço de 499 euros é bastante mais baixo que o dos outros modelos (o iPhone 13 começa nos 829 e mesmo versões mais antigas, como o 11, só a partir de 609 euros).
“A Apple vai apostar em expandir a base de utilizadores e aí o telefone média gama 5G vai ser fundamental”, considerou Francisco Jerónimo. “A Apple está-se a preparar para ter receitas dos serviços maiores que as do hardware, e portanto tem de continuar a expandir a base de utilizadores e a roubar clientes ao Android”, explicou.
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Espera-se a chegada ao mercado de mais smartphones 5G a preços mais acessíveis. A Apple lança o iPhone SE 5G na próxima semana, dia 8 de març
Esta expansão da marca norte-americana não será feita no segmento premium, onde se encontra o formato alternativo mais quente do momento: os dobráveis. Não é expectável que a Apple lance um iPhone dobrável nos próximos anos, mas a IDC prevê um alargamento das opções para os consumidores.
“Os dobráveis vão continuar e este ano em Barcelona vimos várias marcas que já mostraram protótipos a anunciar produtos e entrar no mercado a preços mais atrativos”, indicou Jerónimo. “A categoria, apesar de ser pequena, está com um crescimento bastante interessante.” Os últimos telefones dobráveis da Samsung, que têm estado na linha da frente a inovar neste segmento, estão a ter uma boa recetividade. “Mesmo em Portugal tem-se vendido milhares e milhares de unidades todos os trimestres. Não é propriamente uma categoria que vende apenas umas centenas.”
Em 2021 foram vendidos 7,1 milhões de dobráveis e a IDC prevê que o mercado dará um salto para 27,6 milhões em 2025. A ideia é que, quando o mercado atingir esses volumes, o preço cairá de forma substancial porque o custo de produção será mais baixo.
Casa inteligente e o regresso dos e-readers
As outras áreas em que Francisco Jerónimo antecipa ver movimento em 2022 são a da casa inteligente e dos e-readers. Nenhuma é nova, mas ambas têm espaço para inovações.
“A casa inteligente é uma categoria que tem estado a crescer fortemente”, disse o especialista. É um segmento que estava muito focado em eletrodomésticos inteligentes, como os aspiradores-robô e as lâmpadas, e o que está a verificar-se agora é o surgimento de soluções mais avançadas, como termóstatos e videovigilância, que exigem instalações mais complexas.
“Isto demonstra que há interesse, porque as pessoas já percebem o valor de terem determinadas automações em casa e aparelhos inteligentes que lhes permitem gerir as habitações de uma forma muito diferente”, explicou Jerónimo. “Está-se a notar essa transição para sistemas mais complexos.”
Por outro lado, existe a necessidade de tornar a ligação entre os aparelhos mais inteligente, um problema que o mercado ainda não conseguiu superar.
“Esta revolução da casa inteligente já tem algum tempo mas ainda ninguém conseguiu resolver problemas básicos”, considerou o responsável, dizendo que nenhum fabricante tem um portfólio de soluções que possam facilmente ser integradas.
“Continua a haver uma grande fragmentação do mercado”, notou. “A área da casa inteligente está com fortes crescimentos, mas à medida que as pessoas vão expandindo os aparelhos inteligentes que têm em casa, apercebem-se das dificuldades.”
A previsão é de que muitas marcas vão apostar na diversificação do seu portfólio, ao estilo do que faz a Xiaomi, que tanto tem fritadeiras como scooters. “Vamos ver mais fabricantes a experimentarem novas categorias”, vaticinou Jerónimo. “Há muita oportunidade dos fabricantes para criarem soluções inteligentes. Todos estes aparelhos ainda são muito pouco smart neste momento e vamos caminhar para soluções mais inteligentes, que conseguem fazer uma previsão melhorada do que queremos fazer com o aparelho e os aparelhos a interagirem entre si.”
E não é só em casa, na garagem também. A expectativa é de que gigantes como a Apple e outras fabricantes afinem o foco no setor automóvel, seja através de serviços e soluções ou com carros – a Huawei lançou um carro elétrico no ano passado e espera-se que outros fabricantes venham a lançar os seus.
“Vamos muito em breve ver fabricantes a experimentarem categorias diferentes, e algumas pouco expectáveis”, disse Jerónimo. Uma das áreas em que se esperam novidades é a dos e-readers, algo que está integrado nesta veia experimental em que várias marcas vão expandir para mais segmentos.
“Poderá ser interessante toda a digitalização de notebooks e blocos de notas”, continuou o especialista, para quem a categoria dos e-readers tem tido pouca atenção, mas continua bastante forte, o que constitui uma oportunidade para novas marcas.
“Se combinarmos isso com a utilização de uma caneta inteligente temos um produto interessante.” Foi isso que se viu em Barcelona, onde a Huawei entrou no segmento dos e-readers com o lançamento do MatePad Paper, uma espécie de híbrido entre e-reader e tablet compatível com a caneta M-Pencil.
“Vai haver aí novidades em breve e vários fabricantes poderão entrar em coisas diferentes para experimentar novas categorias que precisam de ser revitalizadas”, disse Jerónimo.
Mas quanto aos rumores de uns óculos inteligentes da Apple? É não esperar de pé.
“Não sei o que é que a Apple pode trazer de valor acrescentado que leve a que haja um grande interesse por esta categoria”, afirmou o analista. “Ainda há muitas limitações na tecnologia para que eles possam fazer um bom trabalho”, continuou, “e a Apple não é conhecida por entrar numa categoria onde a tecnologia não é madura o suficiente para providenciar a melhor experiência possível.”
*Em Los Angeles
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