É a estreia da TAP a ter a sua dívida analisada por uma agência de notação financeira, à semelhança de outras grandes companhias, e nesta primeira vez fica abaixo do nível de água, mas ainda assim acima de companhias como as brasileiras Gol e Azul (também detida por David Neeleman), a Virgin Australia ou a American Airlines.
A avaliação da Standard & Poor’s dá à transportadora aérea a nota BB-, com um outlook estável. Trata-se de um nível considerado especulativo, conforme se vê no gráfico abaixo, mas que reflete “o sucesso na implementação do projeto estratégico definido pelos acionistas e valida a estratégia de crescimento em execução”, justifica a TAP, uma vez que se posiciona ao lado ou melhor do que outras grandes. A companhia portuguesa aguarda agora a atribuição de rating por uma segunda entidade internacional.
A decisão de se ver cotada surge como mais um passo num processo de estabilização da companhia que vem decorrendo desde a privatização (ainda que o governo tenha renegociado uma fatia de 50%, a gestão é totalmente privada), e no âmbito da renegociação da dívida existente com vista à extensão de prazos (que tem sido prosseguida com sucesso) e contração de nova dívida para garantir o crescimento — nomeadamente através da contratação de pessoal (que já soma mais de 3 mil desde a venda, sendo agora anunciadas mais 800 contratações para o próximo ano) e da compra de novos aviões para aumentar rotas e frequências e tornar a operação mais eficiente.
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Depois dos últimos recordes e de ter transportado uns inéditos 15,8 milhões de passageiros em 2018 (mais 1,5 milhões de passageiros do que em 2017), a TAP prevê voltar a fazer história, somando pelo menos mais um milhão a este valor. Maior transportadora entre Brasil e Europa e a terceira maior para destinos sul-americanos, a companhia portuguesa tem somado destinos e frequências, tendo inaugurado, só nos primeiros seis meses deste ano, oito novos mercados — incluindo um reforço brutal das rotas para os EUA e a abertura ao Médio Oriente. Segundo a Flight Global, a frota da TAP cresceu em quase um quarto da sua capacidade desde 2015, mais do que qualquer outra companhia aérea europeia.
“O rating obtido é elemento chave para continuar o processo de extensão do prazo de maturidade da dívida, permitindo reforçar a solidez financeira da TAP. Este rating reflete a tendência de recuperação dos resultados observada no segundo e terceiro trimestres de 2019″, refere a companhia em comunicado, no dia em que anunciou a intenção de ir ao mercado para emitir 300 milhões de euros em dívida.
O facto de a estrutura da TAP incluir o Estado português e a experiência da Atlantic Gateway em aviação “também contribuíram positivamente para a nota”, indica a empresa.
Melhorias e crescimento
Desde a privatização, em 2015, o prazo médio da dívida da TAP duplicou, para aproximadamente quatro anos no final do terceiro trimestre de 2019, e a companhia quer alongá-lo ainda mais, depois de, só neste ano, ter amortizado “mais de 170 milhões de passivo financeiro”.
“O peso da dívida, medido pelo rácio dívida líquida/EBITDAR, diminuiu mais de 40% desde 2015”, sublinha a TAP, que tem reforçado a tendência de recuperação também em número de passageiros (+11,1% até setembro), satisfação dos clientes (+9,2 pontos), receitas (+6,1% para 1052 milhões no terceiro trimestre)e e EBIT (+16,5% face a setembro de 2018), entre outros fatores.
- Parte destas melhorias de performance prendem-se com os novos aviões NEO e Airbus A321LR, que contribuíram para ganhos significativos de eficiência e redução de custos, mas ainda assim não chegaram para anular as variações cambiais sem as quais a TAP chegaria a terreno positivo, segundo a própria companhia. “Excluindo esta variação cambial, o lucro líquido consolidado do Grupo TAP, no terceiro trimestre de 2019, foi de 61 milhões de euros positivos, compensando em mais 50% o prejuízo gerado no primeiro semestre de 2019.“
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Com João Tomé e Ana Margarida Pinheiro
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