//Stephan Morais. Fundo Indico em Madrid para ajudar startups a voar mais alto

Stephan Morais. Fundo Indico em Madrid para ajudar startups a voar mais alto

Stephan Morais acredita que o histórico dos fundadores da Indico em ajudar a transformar startups em players internacionais é um dos motivos para terem um crescente interesse de empresas espanholas.

O diretor da Indico Capital Partners, que tem um fundo de capital de risco que investe em startups tecnológicas sobretudo nacionais, acredita que 2020 vai ser um ano positivo para o investimento.

Como carateriza o ecossistema de empreendedorismo nacional em 2019?
Foi um ano muito importante. Um ano em que entraram no mercado fundos como o nosso e mais um ou dois. Foi um ano de viragem para ecossistema no sentido em que, pela primeira vez, existe dinheiro privado a operar no mercado. Isso traduziu-se também seguramente num ano record de investimento. No nosso caso foram 17 milhões investidos em nove empresas e também houve rondas internacionais em empresas portuguesas.

E 2020?
Descontando questões macro que estarão fora do nosso controlo, nomeadamente a questão do coronavírus e outras que possam vir a impactar o sistema, 2020 não há razão para ser muito diferente de 2019.

Com mais investimentos?
O que se nota – tendência internacional – é uma concentração maior em menos empresas. Cada vez mais, e já em 2019 tinha acontecido, as rondas de investimento são maiores mas em menos empresas. O crivo para se obter financiamento nomeadamente de grandes fundos internacionais é cada vez mais apertado. É de prever que continue a haver rondas grandes em empresas portuguesas.

Em que empresas portuguesas?
O ecossistema português não tem sequer dez anos. Nas diferentes vagas, a percentagem de empresas que passa à próxima fase é sempre pequena. É natural que a cada ano, vão caindo empresas que, em tempos, pareciam promissoras. Não podemos esquecer que estamos à procura do crème de la crème de cada década. É natural que, as empresas que vão continuar a angariar dinheiro, sejam as que já estão a ficar consolidadas, que estão a atingir as métricas e que têm pessoas de alta qualidade.

Qual é a evolução das startups que têm surgindo?
Há uma evolução clara. Muitas das perguntas que investidores internacionais – temos mais de 40 investidores internacionais no nosso fundo – nos faziam era se existiam oportunidades de investimento suficientes em Portugal. Hoje há muitas empresas tecnológicas a surgir. Depois passamos à questão da qualidade e aí pode-se acelerar um bocadinho o ritmo de melhoria de qualidade. Os ecossistemas à escala mundial demoram anos a crescer – as árvores também demoram décadas a ficarem grandes. Não há nada que se possa fazer de extraordinário, pode se pôr um bocadinho mais de adubo mas as coisas demoram o seu tempo.

Temos posto adubo que chega?
Temos posto bastante adubo no sentido em que, sucessivamente, todos os governos têm sido bastante favoráveis porque perceberam que Portugal precisa de tecnologia, de se diferenciar à escala mundial para ter uma economia de maior valor acrescentado. Tem havido muito apoio público em diferentes áreas – às vezes melhor ou pior – mas sempre na direção certa de todos os governos da última década. Temos cada vez mais empreendedores mais experientes, pessoas que já falharam e que já estão a recomeçar e outros que não falharam e que vão aprendendo com os investidores e com empreendedores. O aparecimento de fundos privados é um traço de alguma maturidade do sistema porque não seria possível se esses investidores institucionais não vissem que há uma classe de ativos que potencialmente vão ser bem-sucedidos.

O fundo da Indico, que já tem um ano de vida, fez nove investimentos no valor de 17 milhões. Foi difícil chegar a estes nove investimentos?
Foi difícil e não foi. Ou seja, é difícil porque para se chegar a nove investimentos tivemos que ver 1200 no sentido em que a escala é importante.

Estamos a falar de empresas portuguesas?
90% portugueses apesar de termos cada vez mais casos espanhóis. É preciso ver muitas oportunidades de investimento para se poder ter um padrão nacional e internacional de escolha. Por outro lado, não foi completamente difícil no sentido em que havia várias empresas portuguesas que estavam prontas para serem investidas, que tinham as métricas necessárias e o mercado português estava descoberto de capital. Por isso, de certa forma, alguns dos nove investimentos que fizemos já os tínhamos debaixo de olho, seja porque eram da nossa anterior carteira, ou de carteiras existentes de outras empresas. Não vão ser nove este ano seguramente.

Vão ser mais ou menos?
Vão ser menos seguramente até porque os fundos têm um período de vida de dez anos e têm um período de investimento de cinco anos. Não vamos fazer os investimentos todos num ano um ou dois. O primeiro ano foi um ano muito forte, um ano de entrada em que tentamos ser muito criteriosos, mas havia já um conjunto de situações que eram óbvias.

Depois de um ano, vão dar um salto para a Espanha. Qual é o objetivo?
Temos vindo a analisar muitos casos de investimento em Espanha. Não tantos como em Portugal porque até agora não estávamos lá diretamente. Acabámos de abrir escritório em Madrid, com um pessoa que é um investidor muito experiente e que já trabalhou connosco no passado. O que acontece é que o mercado espanhol é mais desenvolvido que o português, mais maduro em que já houve exit, vendas de empresas, mas que tem uma caraterística diferente, não necessariamente melhor que Portugal. Portugal não tem um mercado local de venda disponível, porque é pequeno e com pouco capacidade de absorção de novas soluções tecnológicas. As empresas espanholas focam-se e crescem no mercado local e, às vezes, olham para a América Latina. As empresas portuguesas são mais globais desde o dia número 1. As empresas espanholas muitas vezes procuram-nos pelo nosso track record de transformar empresas portuguesas em globais. Muitos dos fundos espanhóis entram em contacto connosco, recomendando-nos como parceiros que tem um track record de transformar empresas de um pequeno país em empresas do mundo inteiro. E querem esse conhecimento e portanto o movimento para Espanha tem muito a ver com ser um mercado enorme, onde existem muitos mais fundos em Espanha que conhecemos.

Com quem se podem aliar?
De categoria mundial e com quem nos podemos aliar. Já o fazemos no nosso portefólio, com empresas portuguesas e estrangeiras, mas há uma apetência muito forte dos empreendedores espanhóis em estarem em contacto com fundos internacionais, neste caso portugueses, que os possam ajudar a dar o salto para o outro lado do Atlântico, para Inglaterra e Alemanha. Daí a nossa decisão de abrir em Espanha.

Já têm alguns investimentos no radar?
Já tivemos vários investimentos em análise em Espanha e até agora ainda decidimos avançar com nenhum precisamente porque achamos que as equipas não eram suficientemente globais. Mas vai acontecer naturalmente e Espanha tem mais empresas, mais fundos que Portugal e naturalmente faremos alguns investimentos mas não tantos como em Portugal, que é o nosso mercado de eleição.

Vão começar a investir em áreas diferentes ou vão manter-se só em tecnologia?
>Vamos manter só em tecnologia.

O que falta ao ecossistema nacional para dar mais um salto?
Há questões de juventude que ainda não permitiram que Portugal chegasse ao próximo patamar. Faltam as chamadas exit, vendas de empresas a valores significativos, porque não são a valores pequenos como tem havido.

É possível perspetivar isso no curto prazo?
É possível porque há várias empresas portuguesas que estão nesse caminho. Além da Farfetch, que é uma empresa que já fez o IPO, há várias que estão nesse caminho

Como por exemplo?

Uma Unbabel, uma Feedzai, uma Talkdesk, uma OutSystems, que é uma empresa já muito grande. São empresas que estão na liga da frente e, que se tudo correr bem, alguém tentará comprar ou haverá um IPO nos próximos anos.

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