//Super Bock cria joint-venture na China e põe fim a fábrica em Angola

Super Bock cria joint-venture na China e põe fim a fábrica em Angola

Os mercados internacionais são uma aposta crescente do grupo Super Bock. Perdido o mercado angolano, onde tem hoje “vendas residuais” e, por isso, suspendeu, definitivamente, o projeto de construção de uma fábrica local, a empresa liderada por Rui Lopes Ferreira reforçou a sua aposta na China, com a criação de uma joint-venture com o seu importador local. Na Europa, a estratégia passa por associar a marca a eventos musicais, de modo a alavancar o crescimento para além do mercado da saudade. É o caso do patrocínio ao Montreux Jazz Festival, que está a decorrer nesta cidade suíça, e no qual a Super Bock é a cerveja oficial.

Apesar da quebra significativa das exportações nacionais de cerveja em 2018 e nos primeiros meses de 2019, a China continua a ser o principal mercado externo da Super Bock que procura, com esta joint-venture, assegurar a “capacidade de acompanhar as grandes decisões estratégicas” da presença da marca no país. O grupo português tem 20% da Sociedade Bebidas de Macau que, por sua vez, detém a 100% a Xiamen Bock Brand Operation. A notoriedade que a cerveja portuguesa ganhou nos últimos anos criou dificuldades acrescidas, mas, apesar disso, a intenção é a de apostar crescentemente neste país.

“A cerveja portuguesa ganhou muita visibilidade na China. Entramos no radar [dos grandes grupos internacionais] e o ambiente competitivo aumentou substancialmente. A China é um mercado muito grande, muito competitivo e muito muito agressivo. Sendo a Super Bock uma das principais marcas importadas, passamos a ter os holofotes sobre nós e as coisas tornaram-se mais complicadas”, diz Rui Ferreira. No entanto, a aposta mantém-se e é reforçada com esta joint-venture. “Queremos continuar a crescer, estamos confiantes que este continuará a ser um mercado estratégico para a Super Bock e estamos, por isso, a lançar as bases para o crescimento futuro na China”, garante o CEO da empresa.

Presente em cerca de 50 cidades das províncias de Zhejiang e Fujian, onde vivem 200 milhões de pessoas, o objetivo é duplicar este número até 2020, só nestes duas províncias. Mas a Super Bock tem já a intenção de alargar a sua presença a três novas províncias, estando esse plano estratégico a ser construído um conjunto com o seu parceiro local.

Angola
Menos positivas são as notícias em Angola, que chegou a ser o principal mercado de exportação da empresa, mas onde o Super Bock Group tem hoje “vendas residuais”, devido à “crise económica complexa em que o país está mergulhado”. E o projeto para a instalação de uma fábrica da Super Bock no país morreu. “As nossas marcas são acarinhadas pelos consumidores, mas não há condições para fazer mais do que as vendas residuais que temos. Há um excesso de capacidade instalada muito significativo, estimo que de algumas centenas de milhões de litros, e, por isso, não faz sentido investir em mais unidades industriais no país”, sublinha Rui Ferreira.

O interesse no mercado mantém-se, à espera de melhores dias. “Mantemo-nos atentos a novas oportunidades que possam surgir para as nossas marcas. Acreditamos que Angola vai superar os seus problemas e voltar a ter a dinâmica que já teve no passado”, acrescenta. Este é o culminar de um projeto que nasceu em 2006, ainda, sob a égide de Manuel Ferreira de Oliveira, e retomado pelos seus sucessores, Pires de Lima, João Abecassis e, agora, Rui Lopes Ferreira. A Unica, a joint-venture criada em Angola com investidores locais, para facilitar o avançar do projeto, está hoje em liquidação. Pelo caminho fica um investimento que chegou a ser estimado em 130 milhões de euros. “Para nós este processo está fechado”, garante o CEO do Super Bock Group.

Suíça
Na Suíça, naquele que é o segundo maior mercado externo da empresa na Europa, a Super Bock representa já 10% do total das cervejas importadas no país, mas o objetivo é duplicar esta quota, a médio/longo prazo. “A nossa ambição maior é passar para lá do perímetro do mercado da saudade e a Suíça é o país onde temos feito mais progressos”, garante Rui Ferreira. E a música foi a plataforma eleita para promover este crescimento. Além dos vários eventos que tem apoiado em diversos mercados europeus, a Super Bock é, este ano, a cerveja oficial do Montreux Jazz Festival, que decorre até dia 13 nesta cidade suíça, e pelo qual passam, anualmente, mais de 250 mil visitantes.

“Conquistarmos a presença num dos festivais mais icónicos do mundo foi algo que nos encheu de orgulho! É uma parceria que reforça a nossa ligação cultural ao país, uma oportunidade que não descuraremos como alavanca para o desenvolvimento da nossa operação na Suíça. Super Bock é qualidade cervejeira, mas também amizade, convivialidade e partilha de emoções, valores que partilhamos com Montreux e isso foi visível logo nos primeiros dias”, diz o CEO do grupo.

Oportunidades
O patrocínio vai-se prolongar por mais dois anos, e Rui Ferreira espera que possa ser o primeiro passo para uma parceria mais profunda. “Há uma infinidade de oportunidades de colaboração. Pode passar por se alinhar o line up do Super Bock Super Rock com Montreux, pode ser dar palco nos vários eventos que organizamos aos novos valores que a fundação de Montreux descobre, ou pode ser, simplesmente, passar a haver as marcas da Super Bock nos Montreux Jazz Café. Há áreas muito alargadas, algumas até se calhar ainda nem sequer pensamos, mas que vão surgir com o tempo, à medida que estivermos a trabalhar em conjunto”, sublinha.

Mathieu Jatón, CEO do Montreux Jazz Festival, admite que ideias não lhe faltam para o mercado português, manifestando a vontade de começar por abrir um dos cafés temáticos do grupo – os Montreux Jazz Café -, eventualmente em Lisboa ou no Porto, para ajudar à notoriedade da marca com um espaço permanente. O segundo passo poderá ser a organização de eventos musicais em espaços especiais como a Casa da Música, da qual a Super Bock é um dos mecenas, e, mais tarde, se tal se justificar, poderá, então, avançar com um Montreux Jazz Festival em terras lusas, à semelhança do que já faz no Japão e no Brasil. “Mas temos de ser muito cuidadosos. Há muitos e excelentes festivais em Portugal e Espanha, se pensarmos em fazer algo terá de ser uma coisa muito especial, muito íntima, muito autêntica”, diz, para logo de seguida, sublinhar: “Ideias tenho muitas, mas preciso de aprender mais sobre o mercado português. Não queremos impor-nos”.

Resultados
Sobre os números de 2018 do Super Bock Group, recentemente aprovados em assembleia geral, Rui Lopes Ferreira reconhece que foi um ano de “estabilização”, mas diz-se satisfeito com os resultados obtidos. “Podíamos ter atingido mais, mas foi um ano em que consolidamos os patamares de rentabilidade do ano anterior. Em termos de resultados líquidos, foi um ano novamente recorde, mesmo que por uma unha negra”.

A adoção de novas regras contabilísticas – os valores relacionados com descontos que, até 2017, estavam relevados em fornecimentos, serviços externos e publicidade passam agora, com a adoção da normal internacional de contabilidade IFRS 15, a figurar na rubrica de vendas e prestação de serviços – em 2018 fez baixar para 458,041 milhões de euros a faturação do grupo, contra os 520, 865 milhões de 2017. Na verdade, e aplicando as mesmas regras ao exercício de 2017, a redução de vendas é de 11 milhões de euros, sendo que os resultados líquidos passaram de 51,279 milhões para 51,396 milhões de euros. “Foi um ano em que sofremos um bocadinho na China, que continua a ser o nosso principal mercado externo”, diz Rui Ferreira, sublinhando tratar-se do segundo ano consecutivo em que a rentabilidade da empresa se situou acima dos 100 milhões de euros.

“2018 foi um ano de preparação para novos projetos de crescimento no futuro”, garante. Sobre esses projetos não avança, para já, pormenores. “As exportações valem cerca de 20% das nossas vendas e mantemos a nossa estratégia de aposta nos mercados externos na Europa, em África e na Ásia. Temos equipas permanentemente a identificar oportunidades, mas não temos nada de concreto, apenas a procura permanente de novas oportunidades e novos mercados”, diz o gestor, apontando a joint-venture na China e a associação ao Montreux Jazz Festival como dois projetos que “irão alavancar a operação da Super Bock nos próximos anos”.

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