A TAP e a Ryanair, duas das companhias aéreas com mais ligações entre Portugal e o Reino Unido, já se lançaram na disputa do mercado britânico. Nem 24 horas se tinham passado desde a decisão do governo britânico de abrir um corredor aéreo com Portugal, eliminando a exigência de quarentena dos viajantes à chegada ao Reino Unido, e as duas transportadoras já estavam a lançar campanhas promocionais para captar esse tráfego.
A companhia portuguesa está a oferecer um desconto de 15% em viagens a partir do Reino Unido, para reservas efetuadas até 26 de agosto e para voos até 15 de dezembro. A campanha da TAP permite alterar o voo gratuitamente desde que a reserva seja feita durante agosto. A Ryanair avançou com tarifas a partir de 19,99 euros para viagens entre o final de agosto e setembro. A promoção da low-cost irlandesa, com tarifas “mais baixas alguma vez oferecidas para viagens de verão de última hora”, é válida até à meia-noite de domingo (23 de agosto), comunicou a transportadora.
A expectativa é grande entre os agentes turísticos, principalmente os que operam no Algarve – a região portuguesa mais procurada por turistas britânicos -, apesar de reconhecerem que a abertura do corredor aéreo “peca por tardia”. A Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo não notou, para já, nenhum movimento de reservas, mas “ainda é muito cedo” para aferir da procura, salvaguarda fonte oficial.
Elidérico Viegas, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve, lembra que “é preciso saber como os turistas britânicos vão reagir”, até porque muitos já terão as suas férias marcadas noutros destinos e não se sabe se estão dispostos a cancelar essas reservas e a vir para Portugal. E, a somar, muitos já terão desfrutado dos seus dias de descanso, nomeadamente porque as férias escolares estão a poucos dias do fim.
A evolução do surto pandémico também é determinante para o regresso dos britânicos. Aliás, o governo do Reino Unido lembrou aos seus compatriotas que a situação epidemiológica pode “mudar rapidamente” e esta decisão de levantar as restrições à entrada de pessoas oriundas de Portugal pode ser revertida caso os números da pandemia o justifiquem.
Elidérico Viegas vê essa questão como uma vantagem. Os números da pandemia no Algarve (ontem foram registados mais 11 casos, elevando para 1007 o total de pessoas infetadas desde o início do surto) dão segurança ao setor. Geografias concorrentes com a região estão a registar novas escaladas no número de infetados. Também João Fernandes, presidente do Turismo do Algarve, reconhece que a situação pandémica “é uma vantagem competitiva face a alguns dos principais mercados concorrenciais que se encontram numa situação mais desfavorável”.
Com o verão na reta final, as baterias estão agora centradas nos turistas aficionados do golfe, natureza e eventos desportivos. Elidérico Viegas recorda que setembro é a época alta do golfe na região e o levantamento das restrições pode ajudar a retomar a normalidade das operações. Os dados do Instituto Nacional de Estatística dizem que setembro é um dos meses de eleição dos britânicos em Portugal. No ano passado, registaram-se 262 960 hóspedes provenientes do Reino Unido em setembro, bem mais do que os 257 mil verificados em junho, dos 233 307 em julho e dos 228 903 de agosto.
Por sua vez, João Fernandes frisa que o Algarve tem um programa extenso de eventos até dezembro, alguns de impacto internacional, como a Fórmula 1 e que decorrem campanhas promocionais em companhias aéreas, operadores turísticos e até num canal televisivo britânico, o Channel 5. Todo este investimento porque esta luz verde britânica foi uma notícia de que já aguardavam e que “faz justiça às condições de segurança” existentes.
A decisão do governo britânico foi fortemente aplaudida em Portugal. Para o presidente da Confederação dos Empresários do Algarve, é “bom sinal para a economia” local. “Já não vem salvar muita coisa em termos de verão, mas pode ajudar na recuperação da economia nos próximos meses” e “beneficiar bastante a época de golfe que se aproxima”.
Para o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi “uma grande notícia” para o Algarve, para os 300 mil portugueses que vivem no Reino Unido e para os 50 mil britânicos que residem em Portugal. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, também corroborou essa opinião e lembrou que as autoridades britânicas consideram “seguras todas as deslocações a qualquer parte do território português”.
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