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Nos primeiros nove meses do ano os custos com pessoal caíram 39,1% na TAP. A companhia pagou 311,7 milhões de euros aos seus funcionários, entre janeiro e setembro deste ano, menos 200 milhões de euros que no mesmo período de 2019. A contribuir para esta poupança esteve, em primeiro lugar, o regime de lay-off simplificado a que a empresa aderiu no segundo trimestre e, posteriormente, o mecanismo que lhe sucedeu, o Apoio Extraordinário à Retoma Progressiva da Atividade. Mas não só. O grupo não renovou dezenas de contratos a prazo, nomeadamente porque aderiu aos apoios públicos.
“No âmbito deste programa , está previsto um mecanismo de redução do horário de trabalho entre os 70% e os 5%. Esta foi uma importante contribuição, embora a natureza temporária da mesma dite que soluções permanentes sejam atingidas através das interações com os sindicatos representativos dos trabalhadores da TAP. Refira-se ainda a não renovação de 729 contratos a termo cujo término ocorreu entre 1 de janeiro e 30 de setembro de 2020”, pode ler-se no documento enviado pela empresa ao mercado.
A TAP recebeu uma ajuda de Estado de 1.200 milhões de euros neste ano e, assim, terá de implementar um plano de reestruturação. O documento ainda estará a ser ultimado, mas tem de ser entregue à Comissão Europeia até 10 de dezembro. Oficialmente, os detalhes ainda não são conhecidos, mas o sindicato que representa os tripulantes esteve no final da semana passada reunido com a administração da empresa e tornou público que o plano de recuperação prevê o despedimento de 750 tripulantes efetivos. Além dos “mais de 1000 contratos a termo denunciados, o que perfaz uma extinção permanente de mais de 1800 postos de trabalho”.
O ministro das Infraestruturas, em outubro, no Parlamento, já tinha indicado que estava prevista a saída de 1600 funcionários com contrato a prazo (não apenas tripulantes, mas recursos humanos de várias áreas) do grupo até ao final deste ano. O SNPVAC, que representa os tripulantes, disse ainda na sexta-feira, que o plano de reestruturação vai impor uma redução de 25% da massa salarial, algo que será aplicado a todo o grupo.
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A não renovação de contratos a prazo, os despedimentos de efetivos e a redução de salários vão permitir poupanças de milhões de euros a médio prazo. Os despedimentos, a confirmarem-se, terão de ser negociados e poderão levar ao pagamento de indemnizações, o que pode a curto prazo levar a uma subida dos encargos, mas a médio prazo a uma redução dos custos. A imprensa avançou também na semana passada, que a empresa terá pedido autorização ao governo para aplicar um programa de reformas antecipadas voluntárias, o que a confirmar-se contribuirá para uma redução dos encargos do grupo com pessoal.
Prejuízos de 700 milhões e menos aviões
A fatura da pandemia sobre a aviação civil é elevada. No caso da TAP, levou a um agravamento dos prejuízos até setembro. Nos primeiros nove meses de 2020, a companhia teve prejuízos de 700,6 milhões de euros, bastante acima dos quase 111 milhões registados no período homólogo. Os rendimentos operacionais recuaram 66,2% até setembro, com as receitas oriundas da venda de passagens a afundarem 68%. Nos primeiros nove meses de 2020, as receitas de passagens ascenderam a 700 milhões, quando no mesmo período de 2019 tinham superado os 2,2 mil milhões.
Antes da pandemia, a TAP estava a crescer tanto em número de passageiros transportados, como nas rotas operadas e aeronaves. Contudo, o novo coronavírus fez com que a operação estivesse praticamente paralisada durante várias semanas do segundo trimestre e com a ajuda de Estado, a empresa vai diminuir a sua operação. A TAP renegociou já com a fabricante francesa Airbus contratos para o fornecimento de aviões.
“Os pagamentos relacionados com leasings operacionais decresceram em 43% YoY
refletindo as negociações com lessors para diferimento de pagamentos bem como a redução de rendas. Para 2020 é esperado que as negociações reduzam os pagamentos de leasings operacionais em aproximadamente 175 milhões de dólares americanos
. A este montante acresce a já anunciada redução de cerca de 1.000 milhões de dólares no período de 2020-2022 conquistada através da negociação com a Airbus para adiamentos de entregas de 15 aviões”, diz a TAP em comunicado ao mercado.
Têm surgido notícias que indicam que uma vacina contra a covid-19 estará próxima. As expectativas internacionais, quer para o turismo, quer para a aviação civil, sugerem alguma recuperação das atividades em 2021. No entanto, a retoma deverá ser só a partir de 2022. A TAP, em comunicado, diz que “estima que a redução da sua capacidade operacional no Inverno 2020/2021 seja entre 60% e 70% (comparando com a estação Inverno 2019/2020)”.
Ainda assim, o Dinheiro Vivo sabe que, no âmbito do plano de reestruturação, em cima da mesa está a possibilidade de a TAP conseguir atingir o break-even já daqui a três anos, chegando a resultados positivos em 2025. Em análise está, por exemplo, a possibilidade de a companhia passar a contar com uma espécie de low cost. Isso dependeria de reforçar a Portugália (TAP Express), que contaria com 28 aeronaves e estaria em competição com as low cost já a operar no país – incluindo easyJet e Ryanair, com bases em Portugal -, servindo destinos mais curtos e regulares.
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