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A taxa de desemprego voltou a subir no primeiro trimestre do ano, fixando-se em 7,2%, de acordo com dados lançados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), na semana passada. Mas se o quadro pintado pelos números pode parecer sugerir que há falta de emprego disponível, a realidade que se sente nas empresas é outra. De facto, 84% dos empregadores revelam ter dificuldades em contratar, de acordo com o Talent Shortage Survey 2023, do ManpowerGroup.
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A escassez de talento não está “necessariamente relacionada com falta de emprego ou de posições para preencher”, mas sim com o desencontro de competências que existe entre as necessidades das organizações e os recursos humanos disponíveis, explica Rui Teixeira, country manager do ManpowerGroup.
Por um lado, as intenções de contratação estão a aumentar, por outro, há determinados perfis que também se revelam mais “problemáticos” ao nível da disponibilidade, como é o caso do talento ligado às áreas tecnológicas de data science, automação e transformação digital, mas também dos “green jobs”, particularmente em áreas mais técnicas como a transformação energética.
Mas se a desadequação da formação dos recursos que saem das universidades é um fator relevante, também as expectativas dos jovens recém-formados têm contribuído para “abanar” o mercado de trabalho. Um salário atrativo já não pesa o suficiente na hora de aceitar um novo emprego, “a proposta de valor dos empregadores já não se pode resumir à remuneração, porque esta nova geração de jovens tem outras expectativas”, além de terem um mercado global que lhes confere outra visão e estímulo. Atualmente, a “disponibilidade para aceitar uma função é diferente, até menor, do que era há algumas gerações”.
Assim, e para colmatar o desequilíbrio e responder às necessidades do mercado de trabalho, as mudanças “têm de ser estruturais”. É necessário ir à base de todo o modelo de ensino, mas sem esquecer que já “não é suficiente ir buscar pessoas recém-formadas”. Por isso, é fulcral que os empregadores e os colaboradores estejam disponíveis e preparados para adquirir novas competências, uma vez que é mais fácil e rápido formar dentro das organizações “pessoas que conhecem a cultura e já têm, à partida, as soft skills e que precisam apenas de adquirir competências mais técnicas”.
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“A capacitação dos trabalhadores é absolutamente essencial”, sublinha Rui Teixeira, principalmente através da aposta em programas de reskilling e upskilling de determinadas funções. No entanto, nem só de mudanças estruturais no ensino e de formação se faz este caminho. É preciso “repensar modelos de negócio” e ter a tecnologia ao serviço das organizações, para que as tarefas de “maior e mais relevante valor” sejam executadas por pessoas.
Adicionalmente, e considerando também o já conhecido problema da fuga de talento, o country manager do ManpowerGroup refere também a imigração como uma das soluções para responder às necessidades de contratação das empresas. “Temos de estar disponíveis para receber outras culturas e conhecimentos, porque é mais uma forma de combater a escassez de talento. Esses recursos têm de ser e sentir-se bem-vindos”.
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