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A VisionWare identificou perto de 60 ataques informáticos a instituições e organizações públicas e privadas, em Espanha, entre os dias 19 e 25 de julho, em plena época eleitoral. Bruno Castro, fundador e presidente executivo da tecnológica do Porto, considera que os hackers tentaram colocar em causa a estabilidade da sociedade espanhola, apontando que Portugal pode ser um futuro alvo.
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No dia 23 de julho houve eleições gerais em Espanha e, tanto no período pré-eleitoral como no dia das votações e nos dias seguintes, diferentes sites do governo e de bancos, incluindo o da família real espanhola, estiveram offline. O motivo? Ciberataques perpetrados pelo NoName057(16), grupo de hackers cuja atividade tem sido publicitada desde março de 2022 a diferentes organismos europeus e norte-americanos, sendo os mesmos descritos como um grupo apoiante de Vladimir Putin, presidente da Rússia.
“Fruto do momento em que a política e a sociedade espanhola estavam a passar [estes hackers] optaram por alvos bastante direcionados à conjuntura. Reivindicaram ciberataques aos sites oficiais do primeiro-ministro de Espanha, assim como da família real e do conselho de ministros do país”, começa por relatar Bruno Castro ao Dinheiro Vivo (DV), notando que a “esta informação foi possível recolher graças ao VisionWare Threat Intelligence Center, o centro da VisionWare que monitoriza, em tempo real, ameaças cibernéticas à escala mundial”.
Além destes alvos, o gestor da VisionWare dá conta de ciberataques à Isdefe, empresa sob tutela do Ministério da Defesa espanhol, ao Tribunal Constitucional, bem como aos bancos Abanca, Caja Rural e Bankinter, e os jornais Expansíon e ABC.
Para Bruno Castro este ataques foram a face vísivel de “uma estratégia de terror direcionada a Espanha, arquitetada para colocar em causa a credibilidade e a estabilidade da sociedade espanhola”.
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De acordo com o CEO da VisionWare, o NoName057(16) “é um grupo muito ativo, que ataca os principais países que apoiam a Ucrânia” na guerra contra Rússia. E “exploram momentos e vulnerabilidades nas infraestruturas digitais dos mais críticos setores da sociedade para causar a maior disrupção possível”, prossegue.
Por isso, opina este especialista, os ataques identificados foram institucionais, na sequência de um novo pacote espanhol de apoio à Ucrânia, no valor de 55 milhões de euros. “É uma espécie de pré-aviso, e por essa mesma razão, a reposição da normalidade também foi rápida”, realça.
“É importante perceber que há aqui um timing envolvido, o que tem sido comum neste tipo de movimentos cibernéticos. Não nos podemos esquecer de que isto é um complemento da guerra convencional que está a ocorrer na Ucrânia. Faz parte”, argumenta Bruno Castro, notando que os hackers tentaram passar uma mensagem clara.
“Isto quer dizer ‘nós conseguimos fazer um conjunto de ataques dispersos, ao mesmo tempo, e num espaço de dois ou três dias interrompemos serviços’. Desta forma, passam a ideia de que podem e conseguem atacar outros serviços, como a energia ou comunicações, por exemplo”, prossegue.
A estratégia não é nova, nem foi registada qualquer inovação no conteúdo dos incidentes. No entanto, o especialista da VisionWare, considera que há uma probabilidade “enorme” de os ataques se repetirem noutros organismos públicos e privados espanhóis relevantes.
E Portugal, estará seguro? “Alvos em Portugal? Claro, e essencialmente tudo o que envolva Defesa e Estado”, afirma.
O presidente da VisionWare nota que todos os países da Organização do Tratado Atlântico Norte (NATO) podem ser atacados. “A narrativa nem é ‘podem vir a ser atacados’, mas sim ‘serão atacados’ – se é que não estão já a ser, neste momento, alvo de ataques cibernéticos, seja numa ótica de espionagem ou até de ataques com disrupção de serviços”, assevera.
O especialista lembra que já houve “vários” incidentes em Portugal levados a cabo por grupos que se acreditam ser pró-Kremlin, considerando que o Estado português está incluindo “num tabuleiro geopolítico” em que quem concretiza ataques informáticos procura “a instabilidade e o caos social”.
“Portugal tem feito imensos esforços a nível do Estado e a nível empresarial para aumentar a sua maturidade em termos de segurança cibernética. Temos sofrido imenso no pós-pandemia. Não nos esqueçamos do ataque que a Vodafone sofreu… Com este atual panorama de guerra, no qual Portugal é um alvo, e tendo em conta que somos apoiantes da Ucrânia e membros da NATO, tornamo-nos, automaticamente, num alvo direto de espionagem – ainda que não seja oficialmente. Diria que Portugal está num patamar ao nível da Europa e sobre isso não tenho quaisquer dúvidas”, alerta.
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