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Para os bancos trata-se de ajustar os custos à redução da rentabilidade no setor e adaptar os quadros ao “novo” mundo da banca digital. Para os sindicatos e trabalhadores, os bancos estão a aproveitar a crise económica de 2020 para despedir e reduzir os salários médios praticados no setor e substituir bancários “com direitos” por trabalhadores com salários mais baixos. E falam em casos em que trabalhadores dispensados de algumas funções são de imediato substituídos por outros, “mais baratos” e sem experiência para a função.
Em 2020, a banca perdeu cerca de 2000 trabalhadores. Em 2021, na primeira metade do ano, os cinco maiores bancos perderam cerca de 600 trabalhadores. Será no segundo semestre deste ano que se espera um acelerar do número de trabalhadores que deverão deixar o setor. Sindicatos preveem que deverão sair da banca entre 2500 e 3000 trabalhadores este ano.
Na base destas saídas estão sobretudo os processos de reestruturação no Santander e Millennium bcp. Mas também há preocupações em torno de saída de trabalhadores da Caixa Geral de Depósitos e do Montepio, a que se junta a saída prevista de entre 60 a 70 trabalhadores da Parvalorem – veículo público criado para ficar com os ativos tóxicos do antigo banco Português de Negócios. No caso do Santander e do BCP, estão em risco de despedimento coletivo cerca de 450 trabalhadores com os quais os dois bancos não conseguiram um acordo de rescisão mútua ou saída por reforma antecipada. No total, o BCP prevê a saída de entre 800 e 900 trabalhadores do banco este ano e o Santander cerca de 600. Na sexta-feira, o BCP confirmou que vai prosseguir com o despedimento coletivo de mais de 80 trabalhadores que recusaram as propostas para a sua saída.
“Na sequência da reunião dos seis Sindicatos – SNQTB, Mais Sindicato, SBN, SIB, SBC e SinTAF – com a comissão executiva do BCP e face à posição intransigente assumida pelo banco de avançar com o despedimento coletivo de pouco mais de 80 bancários, não resta outra alternativa a estes sindicatos que não seja a greve”, referiram os sindicatos num comunicado conjunto. Os sete sindicatos do setor anunciaram na última semana que deverão avançar para uma greve conjunta em setembro. O SNQTB criou um fundo para apoiar os trabalhadores que pretendam impugnar processos de despedimento coletivo.
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Para os sindicatos, as explicações dadas pelos bancos para justificar a onda de despedimentos não convencem. “Parece-me uma explicação curta que a pandemia tenha feito uma revolução digital que ficou de vez”, disse Paulo Marcos, presidente do Sindicato Nacional dos Quadros Técnicos Bancários (SNQTB). “De facto, há mais compras online, há outro tipo de utilização (dos serviços), mas o que estava a acontecer nos bancos em Portugal, mais que no resto da Europa, é que estavam a encerrar balcões e a reduzir capacidade de forma muito mais rápida do que nos outros países”, adiantou.
Para o sindicalista, “o que aconteceu foi o conjunto de duas coisas: os trabalhadores em teletrabalho e, portanto, mais difíceis de organizar do ponto de vista de resistência sindical; e um aproveitamento de uma pseudo-verdade porque, há mais movimentos digitais, mas não houve uma alteração absolutamente drástica em coisa nenhuma”. Admitiu que as medidas restritivas adotadas na gestão da pandemia “vieram reforçar algumas tendências” nos serviços digitais, mas “não vieram causar uma disrupção que justifique porque um banco espanhol em Portugal quer reduzir uma em cada quatro pessoas em poucos meses”.
Lembrou que um banco de retalho reduzia entre 3% a 4% ao ano o seu número de trabalhadores, na última década. Atualmente, “no espaço de poucas semanas, querem reduzir 17% a 25%”. Paulo Marcos reforçou a ideia de que os acionistas – “estrangeiros” – do BCP e do Santander estão a pressionar para a obtenção de mais lucros e dividendos.
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