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As próximas 48 horas são decisivas para o futuro da Autoeuropa. Os mais de 5100 operários da fábrica de Palmela votam hoje e amanhã o pré-acordo laboral que poderá ajudar a garantir o futuro da fábrica de Palmela depois do fim da atual geração do veículo utilitário desportivo T-Roc. A aprovação do documento assegurará pelo menos dois anos de paz social numa das maiores empresas exportadoras nacionais.
Negociado entre a administração e a comissão de trabalhadores, o pré-acordo prevê aumentos salariais de 2% neste ano e no próximo, no montante mínimo de 25 euros, em 2022, e de 30 euros, em 2023. Além disso, caso a taxa de inflação seja superior a 2% nestes dois anos, esse fator será tido em conta em futuras negociações laborais.
O documento também garante a continuidade dos trabalhadores associados ao quarto turno de laboração, mesmo que a crise dos semicondutores obrigue a sucessivas paragens de produção ao longo deste ano.
A administração também irá criar um novo escalão (letra G) para os trabalhadores atualmente no topo da carreira (letra F) e que também serão contemplados com o acrescento de 2% no vencimento mensal.
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Nota ainda para o aumento do tempo das duas pausas diárias, dos sete para os dez minutos, uma das reivindicações mais antigas dos operários da unidade do grupo Volkswagen em Portugal.
Aos funcionários, a comissão de trabalhadores salientou que a aprovação do pré-acordo laboral “é um fator importante na perspetiva de apresentar, junto da casa mãe, argumentos para garantir investimento para a fábrica nesta fase de transição para a eletrificação”.
Os representantes dos operários também assinalam que a “luz verde” é importante também para, de uma vez por todas, a empresa anunciar o produto que nos garanta o futuro além de 2025“.
No final de 2021, o grupo automóvel alemão anunciou um investimento de 500 milhões de euros ao longo dos próximos cinco anos em produto, equipamento e infraestruturas. A injeção de capital será crucial para a fabricante automóvel escolher o modelo que irá suceder ao T-Roc, em produção desde julho de 2017 e que foi recentemente “refrescado” (facelift, na gíria da indústria automóvel).
Atualmente, mais de 90% da linha de montagem da Autoeuropa pertence ao SUV. A restante parcela cabe aos monovolumes Volkswagen Sharan e Seat Alhambra, que partilham a plataforma e que deverão ser descontinuados no final deste ano.
Trimestre de dias úteis
A proteção dos postos de trabalho é fundamental porque, até ao final de março, a Autoeuropa não irá funcionar aos fins de semana, mantendo-se a laboração contínua de segunda a sexta, com um máximo de 890 automóveis por dia.
A situação terá impacto nas contas finais da produção anual, que poderá ficar 53 mil unidades abaixo da capacidade máxima de laboração, segundo previsão da comissão de trabalhadores divulgada no final do ano passado.
O patamar máximo de fabricação de carros foi atingido em 2019, quando saíram 254 600 automóveis. Nos últimos dois anos, a fábrica de Palmela produziu 192 mil unidades, em 2020, e 210 754 veículos, em 2021.
Por prevenção, o pré-acordo laboral admite um máximo de 20 dias adicionais de não-produção ao longo deste ano em vez do habitual prémio de desempenho, no valor de 1400 euros. Caso esses dias não venham a ser necessários – para responder ao aumento das encomendas – o bónus será pago em janeiro e março do próximo ano.
Além dos 22 dias de férias, os contratos dos trabalhadores da Autoeuropa contemplam 22 dias de não-produção, sem perda no salário.
800 saídas desde 2017
O início da produção do T-Roc, em 31 de julho de 2017, levou a fábrica a implementar um novo modelo laboral, com produção contínua nos dias úteis e ainda turnos ao sábado – e, depois, também ao domingo.
De 2016 para 2017, a equipa de operários subiu de 3295 para 5912 pessoas. Desde aí, no entanto, o número de funcionários tem descido: no final do ano passado, a Autoeuropa contava com 5124 funcionários nos seus quadros, menos 788 do que no primeiro ano de montagem do SUV.
O maior número de saídas coincidiu com o ano recorde de produção da unidade de produção: só em 2019, 268 pessoas deixaram de trabalhar na linha de montagem.
Além da ida para reforma de mais de 200 elementos, as saídas da fábrica de Palmela prendem-se com fatores específicos. “É necessário apostar em estudos para análise emocional e psicológica dos trabalhadores. Há muitas pessoas de baixa e que são substituídas por outras, de forma temporária”, alerta ao Dinheiro Vivo o coordenador das comissões de trabalhadores do parque industrial da Autoeuropa.
O dirigente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Sul (SITE Sul), Eduardo Florindo, avisa que “os ritmos de trabalho são cada vez mais intensos” e estão a gerar “cada vez mais doenças profissionais”, com custos para a empresa.
A comissão de trabalhadores e a administração da Autoeuropa não quiseram comentar esta informação.
Os resultados da votação serão conhecidos na noite de amanhã e terão impacto no início de mandato do novo diretor-geral da fábrica, Thomas Hegel Günther, e da comissão de trabalhadores da unidade de Palmela.
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