A consultora Mercer tem um inquérito às empresas a decorrer em tempo real na internet sobre a resposta à pandemia. Já cerca de 2500 empresas, sobretudo dos EUA e Europa Ocidental responderam ao estudo Globally, how are companies supporting their employees during this outbreak?, cujos resultados podem ser acompanhados aqui.
O inquérito teve início no dia 18 de março e é atualizado automaticamente. Mais de 60% das empresas revela ter um plano de combate à pandemia, sendo que 24,6% admite um impacto “significativo” nas suas operações, e 45% um impacto “moderado”. Quase 66% afirma ter já encerrado escritórios e 11,6% fechado unidades industriais. 36,4% avança ter suspendido as novas contratações e 13,4% revela ter feito cortes nos salários dos executivos.
No espaço de um mês “houve alguma evolução” nas conclusões do inquérito, avança Tiago Borges, Rewards Leader da Mercer Portugal, que sublinha “o aumento ao recurso de determinadas medidas”. Por exemplo, adianta o responsável da Mercer, “aumentou o número de empresas que encerraram totalmente os seus escritórios (atualmente 2/3 das organizações inquiridas), bem como diminuiu para cerca de 5% o número de empresas que não planeiam encerrar qualquer tipo de instalações. Basicamente, todas as métricas de mitigação dos efeitos do COVID aumentaram – disponibilização de equipamentos de proteção, recurso a regimes de trabalho flexíveis e/ou rotativos, formas de mitigação de problemas psicológicos dos colaboradores, linhas de apoio financeiro, entre outros. De uma forma geral, todos os items analisados no estudo (flexibilidade, infraestruturas, remunerações) registaram um reforço das medidas tomadas pelas empresas”.
Quase 78% das empresas dizem que reforçaram a higienização das suas instalações, 69% revelam que disponibilizam equipamento de proteção aos trabalhadores, como máscaras, e 40,4% tiram a temperatura aos funcionários.
As empresas europeias, refere Tiago Borges, parece que estão mais ativas no combate à pandemia. “Em termos genéricos, podemos concluir que as medidas tomadas são mais generalizadas na Europa do que na América. Dentro da Europa, verificam-se algumas diferenças, mas pouco significativas”.
Lay-off e corte de salário
Relativamente à remuneração dos trabalhadores, o responsável da Mercer destaca que “para além dos colaboradores em regime de lay-off, verifica-se que as empresas têm chegado a acordo com alguns colaboradores para a redução do horário de trabalho (e respetiva redução proporcional dos salários). Também se verifica a tendência, particularmente em funções de topo / administração, de se verificar um corte temporário da remuneração fixa enquanto durarem os constrangimentos causados pela situação que atravessamos. Por último, existe um movimento de reformulação dos modelos de incentivos, com o objetivo de por um lado defender os interesses de colaboradores que tenham a sua remuneração muito alavancada na componente variável”.
As contratação de novos colaboradores está suspensa. “Para já, a esmagadora maioria das organizações estão a sinalizar quer um hiring freeze (cancelamento das contratações programadas), bem como a intenção de não renovar com colaboradores não permanentes e temporários. Eventualmente, numa segunda fase, poderão avançar com despedimentos e restruturação das suas estruturas. Estes dois efeitos terão como consequência um inevitável aumento significativo da taxa de desemprego”, afirma o responsável da Mercer.
Empresas preocupadas com a produtividade
Muitas empresas colocaram os empregados em trabalho remoto a partir de casa, nomeadamente por causa do encerramento das escolas e a necessidade de ficarem em casa com os filhos, permitindo a flexibilidade de horário para melhor gestão da situação.
“Neste momento, é uma opinião generalizada de que esta situação de pandemia obrigou muitas organizações a darem um “salto tecnológico” de 10 anos, de forma a conseguirem manter a operação em funcionamento numa lógica de trabalho remoto. De acordo com as respostas a este survey, cerca de 55% das empresas já estão a permitir, na totalidade ou em parte, a possibilidade de trabalho remoto aos seus colaboradores”, sublinha Tiago Borges.
No entanto, o inquérito mostra também que 56,5% das empresas estão “preocupadas” com a produtividade dos funcionários a trabalhar remotamente, e 24,3% dizem-se mesmo “muito preocupadas”.
Mais de 77% das empresas também afirmam que antes da pandemia tinham menos de 25% dos recursos humanos a trabalhar remotamente.
Quanto aos equipamentos utilizados em trabalho remoto, 22,6% das empresas revela que os profissionais estão a usar computadores pessoais, 23,5% dizem que deslocaram os computadores do trabalho para casa e 35,4% avançam ainda que distribuíram os computadores portáteis disponíveis na empresa.
Quase metade das empresas inquiridas (42,2%) tentam equilibrar momentos de trabalho e lazer e dizem que promovem encontros virtuais das equipas para descontração e convívio.
Portugal pior por causa da dependência do turismo
A sondagem da Mercer não permite segmentar as respostas das empresas por país, mas a perceção é de que a situação em Portugal segue a realidade que se vive no resto do mundo, mas com uma vulnerabilidade adicional, nomeadamente o facto de ser uma economia muito dependente do turismo.
Para Tiago Borges, “a realidade portuguesa está muito em linha com o descrito acima e com as tendências internacionais, com a agravante de que se prevê que o impacto do covid-19 seja particularmente gravoso no nosso país, pela dependência da economia do setor dos serviços, e em particular do turismo, altamente expostos no momento atual”.
Das empresas que já responderam a este inquérito da Mercer, 57% têm menos de 5000 trabalhadores, 10,3% entre cinco e 10 mil, e 20,2% entre 10 e 50 mil.
Quase metade das empresas são da América do Norte (47,8%), da Europa Ocidental participaram 18% e da Ásia 11,3%, sendo estas as geografias mais representadas no estudo.
Quanto a setores de atividade, destaque para as ciências da vida (9,5%), high tech (8,7%) e indústria dos bens de consumo (7%). Mas responderam também empresas dos serviços financeiros (4,%), indústria alimentar e de bebidas (4,73%), energia (5,46%), retalho e comércio por grosso (5,25%), consultoria (5,2%), indústria automóvel (3,9%), química (3,4%) e construção (2,4%) e outras.
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