Nos últimos anos, fruto do boom do turismo, têm surgido muitos negócios ligados direta ou indiretamente a esta atividade. Para se ter uma ideia, em 2017, existiam em Portugal perto de 2300 empresas que operavam no segmento da animação turística; em meados de março eram já quase 8350, de acordo com dados cedidos pelo Turismo de Portugal ao Dinheiro Vivo.
E a tecnologia parece ser cada vez mais a chave para triunfar neste setor. Numa era em que as pessoas viajam cada vez mais, sendo turistas exigentes e que querem ofertas cada vez mais personalizadas, só há uma forma de o conseguir de fazer de maneira sustentável: aliando-se à tecnologia.
“Hoje, os turistas querem tudo, neste momento e personalizado. E não se pode dar isso a menos que seja com recurso a tecnologia. Apenas a tecnologia consegue”, diz ao Dinheiro Vivo, Itai Green, fundador e especialista em corporate open innovation do Innovate Israel. Até porque, sublinha, há muitas áreas do turismo em que há muitas coisas a fazer em termos tecnológicos, como na ótica do preço, marketing e operações.
Itai Green, que está em Portugal para participar na conferência “Pensar a Inovação no Turismo”, promovida pelo Centro de Inovação do Turismo, acredita que “à medida que damos aos viajantes o que esperam em termos de serviços e em termos de preço” eles visitam os países. “Desde que o façamos, eles vêm mas só o conseguimos com tecnologia. O principal desafio é fazer com que os players locais, a indústria, tenha noção que querem bater” os concorrentes, sejam locais ou estrangeiros, têm de implementar tecnologias. “Vai ajudá-los a poupar dinheiro, a serem mais eficientes mas também a aumentar receitas, porque podem dar novos produtos, mas o desafio é fazer com que tenham uma mente mais aberta”.
Olhando para o caso português, o especialista considera que é “bom mercado para testar tecnologias” porque, apesar de ter uma população com cerca de 10 milhões de habitantes, tem visto o número de turistas crescer de ano para ano. No ano passado, o país recebeu mais de 24,7 milhões de turistas (dos quais quase 15 milhões eram estrangeiros). Mas apesar desta vantagem, o setor precisa de ter consciência que “estão a concorrer com outros países. Por isso, se potenciarem a tecnologia, ganham. E todos estão a tentar fazer o mesmo, mas quem vai ganhar é quem concretizar”.
“Portugal tem uma posição boa, porque entende que é importante fazerem as coisas certas”, diz. “Os players do ecossistema entendem que é importante, sabem como fazê-lo e fazem-no. É muito importante porque sabem que concorrem com Espanha e outros países para atrair turistas”.
O segredo é a alma do negócio?
Há um ditado popular português que diz que o segredo é a alma do negócio. Mas o caso israelita mostra que pode não ser bem assim. Itai Green explica que Portugal pode aprender sobretudo duas coisas com o seu país natal.
“A primeira é que a academia [as universidades] está comprometida com os empreendedores na promoção empreendedorismo”, havendo mesmo casos em que nas universidades, num dos semestres, os alunos têm uma cadeira de empreendedorismo, independentemente do curso que frequentam. “Imagine em Portugal que todos os estudantes teriam de ter um semestre em empreendedorismo, independentemente da área?! Isto é algo que torna os empreendedores muito profissionais. [Depois] há uma coisa que é única em Israel, que é o facto de as pessoas, mesmo que sejam concorrentes, partilharem [conhecimentos], colaborarem”, conta.
Israel é considerada por muitos como a Startup Nation – tendo várias centenas de startups com soluções altamente tecnológicas, que atraem milhões em investimento de capital de risco, e chegam aos mercados financeiros. O serviço militar obrigatório no país, e consequente contacto com soluções tecnológicas, são algumas das sementes que fazem com que neste país com cerca de oito milhões de habitantes floresçam muitas soluções altamente inovadoras e seja considerado por muitos como um dos principais locais a estar no mundo da tecnologia. Mas não só.
“Em Israel há mais de 500 multinacionais ativas em inovação, pesquisa e desenvolvimento e investimento. Os representantes destas multinacionais são normalmente israelitas. Todos os trimestres se reúnem e partilham. Partilhar é uma questão de personalidade”, remata.
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