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Ajudar a melhorar a qualidade de vida de pacientes com cancro foi o mote que fez nascer a Luminate Medical, uma startup de saúde luso irlandesa que nasceu em 2018 e está a desenvolver o Lily, um dispositivo portátil que, com tecnologia inovadora, impede a queda de cabelo em doentes submetidos a quimioterapia, sem criar desconforto para o paciente. Os três fundadores trabalhavam no Translational Medical Device Lab, no Hospital Universitário em Galway, Irlanda – Bárbara Oliveira era investigadora num ensaio clínico para pacientes com cancro da mama, Aaron Hannon investigador de dispositivos médicos para qualidade de vida, e Martin O”Halloran diretor do laboratório -, e foram confrontados com uma necessidade, focando os seus esforços para lhe responder.
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“No decorrer do nosso trabalho, verificámos que a queda de cabelo durante a quimioterapia é uma necessidade médica altamente visível e importante para os pacientes, para a qual não há soluções viáveis – o que existe são perucas, o que não previne o trauma psicológico associado à doença, ou dispositivos criogénicos para prevenir a queda, que são desconfortáveis, por vezes dolorosos e pouco viáveis do ponto vista da implementação clínica”, explica ao DV Bárbara Oliveira. A equipa concebeu então uma nova tecnologia para prevenir a queda de cabelo, “indolor, portátil e eficaz.”
Empregando hoje nove pessoas nas áreas de R&D, qualidade e regulação, a Luminate tem angariado fundos através de investidores privados, como a sociedade de capital de risco portuguesa Faber, assim como de projetos financiados pelo governo irlandês, incluindo o Disruptive Technologies Innovation Fund, da Enterprise Ireland. “A nossa missão é clara: ajudar a melhorar a qualidade de vida de oito milhões de pacientes que todos os anos perdem o cabelo devido ao uso de quimioterapia durante o tratamento de cancro. A necessidade de uma solução é ampla e imediatamente compreendida por todas as pessoas a quem expomos o problema”, sublinha a especialista, mesmo porque todos conhecem alguém afetado por esta doença, e que reconhecem o impacto psicológico num momento já tão difícil.
E como funciona o dispositivo Lily? Bárbara explica: “É importante entender por que cai o cabelo durante a quimioterapia. Os tumores são compostos por células que se multiplicam muito rapidamente; a quimioterapia reconhece isto e ataca estas células, tratando o cancro. No entanto, o cabelo também é composto por células que se dividem muito rapidamente, razão pela qual a quimioterapia também ataca estas células. O Lily é um capacete que usa uma tecnologia de compressão inovadora desenvolvida por nós, que se propõe a limitar a quantidade de quimioterapia absorvida pelos folículos capilares, prevenindo a sua destruição.”
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Até agora, a Luminate Medical já angariou cerca de cinco milhões de euros, dos quais 2,1 milhões pelo Disruptive Technologies Innovation Fund e os restantes 2,9 milhões através de financiadores privados como a Faber VC em Portugal, a Elkstone Partners na Irlanda, e a SciFounders na Califórnia, EUA.
De momento, a equipa está a finalizar a produção do dispositivo, e a preparar-se para tratar os primeiros pacientes num ensaio clínico piloto a acontecer no final do ano. Seguir-se-á um ensaio clínico de maiores dimensões entre a Irlanda e os EUA, com vista à obtenção de autorização de comercialização pela FDA. “O nosso objetivo é comercializar o dispositivo Lily diretamente aos pacientes, a um preço equiparável com as unidades criogénicas”, revela Bárbara Oliveira.
Novos voos
Este não é, porém, o único projeto que têm em mãos. O contínuo envolvimento com pacientes, médicos e outros stakeholders para entender as necessidades que estes experienciam durante o tratamento para o cancro é um trabalho em contínuo. “Além dos oito milhões de pacientes que sofrem de queda de cabelo induzida pela quimioterapia, 12,4 milhões sofrem de neuropatia periferal induzida pela quimioterapia, que causa a perda de sensação nas mãos e pés e é altamente debilitante, impedindo os pacientes de realizarem atividades básicas e podendo por vezes ser permanente. Na Luminate Medical já começámos a investigar e a desenvolver um novo dispositivo médico, baseado na mesma tecnologia de compressão, para prevenir esta doença.” E o caminho que se revela com o desenvolvimento de tecnologias baseadas em inteligência artificial (IA) é entusiasmante. “Traz enorme potencial para tratar cada vez mais pacientes, mais eficazmente”, admite a responsável, explicando que a IA permite aprender sobre cada paciente durante cada tratamento, o que poderá ajudar a identificar mais padrões entre diferentes tipos de populações e ajudar a tornar mais eficazes padrões de tratamento. “Por exemplo, na prevenção de queda de cabelo durante a quimioterapia com a criogenia, é sabido que a técnica não funciona da mesma forma com certos tipos de químio e em cabelos mais espessos e encaracolados. A IA poderá ajudar a entender porquê e talvez a corrigir.”
O que nos deixa um passo mais perto dos cuidados de saúde à medida de cada um. “Quanto mais aprendermos sobre as características de cada paciente e de como certos tratamentos funcionam, maior é a possibilidade de personalizar e melhorar a qualidade.”
De resto, a Luminate está focada no desenvolvimento de dispositivos médicos para a prevenção de efeitos secundários da quimioterapia, mas continua interessada na integração do potencial de data para a melhoria progressiva dos tratamentos.
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