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A visão é manifestamente futurista, mas abre a porta para a discussão do aproveitamento do tempo durante as viagens urbanas. Num projeto que se afasta dos cânones do automóvel, mas não da filosofia da Citroën de procurar soluções para problemas de mobilidade, os conceitos de condução autónoma, eletrificação e partilha cruzam-se num protótipo de mobilidade digno de ficção científica, tendo por objetivo, acima de tudo, lançar a discussão em torno das deslocações limpas e do bem maior que é o tempo.
No centro do projeto Citroën Autonomous Mobility Vision está aquele que é o Citroën menos parecido com um Citroën alguma vez produzido. Recorrendo à tecnologia de condução autónoma testada pela marca ao longo dos últimos anos, o skate totalmente elétrico e 100% autónomo é uma base móvel sobre a qual podem ser acopladas cápsulas (pods, em inglês) criadas por parceiros com diferentes atividades. Não obrigando a trabalhos substanciais na malha urbana, estes veículos teriam direito a uma via própria com o intuito de reduzir as probabilidades de disrupção do serviço e de aumentar a segurança dos utentes da via, uma vez que a a velocidade máxima estaria limitada a 25 km/h. As rodas (ou bolas) resultam de uma parceria com a Goodyear, com pequenos motores elétricos a possibilitarem total liberdade de movimentos.
Foi sob estas premissas que a marca do grupo Stellantis apresentou a ideia a algumas empresas completamente distantes do universo automóvel, como a cadeia de hotéis Accor e a fornecedora de mobiliário urbano JCDecaux, que embarcaram nesta visão, dando origem ao The Urban Collëctif. Sempre posicionado como uma alternativa de mobilidade e não um substituto dos transportes públicos, o Citroën Autonomous Mobility Vision permite, sobretudo, dar uma ideia do potencial de reinvenção de modelos de negócio por parte das empresas, como refere o diretor de Design da Citroën, Pierre Leclercq, durante a revelação do projeto.
“Se vos devolvermos duas horas [desperdiçadas] no trânsito, vão fazer o quê? Só ver filmes ou vão fazer muitas outras coisas? O formato do carro tradicional já não se adequa. Por isso pensámos em desenvolver um robô como se fosse um Uber da mobilidade. Depois, decidimos que íamos trabalhar com parceiros e eles iriam reinventar o seu negócio e reinventar a forma como vamos do ponto A ao B”, explica este responsável belga, apontando que os parceiros abordados demonstraram grande entusiasmo desde o primeiro momento. “Escolhemos alguns de entre os mais de 60 designs que a nossa equipa criou e fomos procurar parceiros: falámos com a Accor e com a JC Decaux e quando lhes mostrámos o conceito ficaram com os olhos brilhantes. Ficaram felizes e satisfeitos com a ideia e ficámos com a sensação de que poderiam reinventar a experiência de viajar além da simples noção de ver um filme”, acrescenta Leclercq, para quem o potencial deste tipo de soluções é real, já que “em cidades como Paris é realmente duro conduzir e perder todo esse tempo [no trânsito]. Os carros já não fazem sonhar. Fora das cidades, sim, fazem sentido e a Citroën continuará a fazer carros, porque os adoramos”.
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Cápsulas do tempo
O conceito é open source, ou seja, aberto a qualquer um que quisesse criar a sua cápsula seguindo os requisitos para a junção ao skate elétrico. Mas, a partir daí, as possibilidades são inúmeras, dando azo a serviços de reparações, entregas ao domicílio ou recolha de lixo, entre outros. Em três exemplos, a Accor e a JC Decaux criaram visões distintas. A primeira mostrou duas cápsulas, uma de âmbito hoteleiro, a Sofitel En Voyage, um paralelepípedo em vidro e marchetaria com interior intimista em que não faltam sofá e bar, enquanto a outra seria direcionada àqueles que lamentam a falta de tempo para fazer exercício, a Pullman Power Fitness, uma bolha de vidro com luz LED ambiente, sistema de som e máquinas de remo e de ciclismo, com que o próprio utilizador ajudaria a carregar a bateria do skate. Por fim, em figurino mais clássico, o JCDecaux City Provider é uma cápsula aberta num cruzamento entre uma paragem de autocarro e uma carruagem modernista.
Tal como muitos outros negócios de mobilidade, a conectividade é essencial, já que também aqui seria necessário recorrer a uma aplicação de smartphone: o skate da Citroën trataria de encontrar a cápsula pretendida para se dirigir depois ao utilizador, num serviço que estaria disponível a todas as horas do dia. A bateria do skate Citroën poderia garantir cerca de 20 horas de utilização diária, recarregando-se por indução nos momentos em que não está em funcionamento. Tudo seria supervisionado por um software central de gestão de frota de skates e cápsulas.
Porém, ver esta solução futurista nas estradas ainda não está para breve, carecendo de mais desenvolvimento e de abertura por parte das cidades, como afirma Anne Laliron, do departamento de Produtos Futuros da Citroën: “Neste momento, é uma visão muito futurista, um conceito. Queremos lançar o debate e mudar o paradigma em torno da mobilidade autónoma, pensando em primeiro lugar nas suas utilizações, por exemplo, no centro das cidades, onde há muito trânsito, e nos recursos que são raros e que temos de usar racionalmente, como o espaço”, afirma, apontando que é cedo para falar de quaisquer outros aspetos, como custos de utilização. Já Leclercq é mais direto, assumindo que, por si, estariam na rua “já amanhã”, mas de forma otimista, “gostaria de os ver nas cidades dentro de dez anos”.
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