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Quando deixada sem controlo humano, a inteligência artificial pode fragilizar ainda mais a democracia ou pôr em risco a saúde de alguém. A Unbabel quer mostrar que esta solução pode, pelo contrário, trazer benefícios para a sociedade.
A tecnológica portuguesa associou-se a mais de uma dezena de parceiros e candidatou-se, com um centro de inteligência artificial responsável, para receber apoio do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). O projeto irá avançar mesmo que não haja verbas comunitárias.
“Acreditamos que os produtos de inteligência artificial da próxima geração terão de ter em conta tecnologias que enderecem estes riscos e que tratem todas as pessoas de forma justa, que sejam capazes de explicar as suas decisões e que permitam controlar o seu comportamento”, destaca o diretor de produto da Unbabel, Paulo Dimas.
Algumas das soluções já pensadas vão ter benefícios para os cidadãos. Na área da saúde, a tecnológica vai usar a inteligência artificial no tratamento de doentes no Hospital da Luz (em Lisboa) e no Hospital de São João. “Os dados clínicos podem ajudar nas terapias”, acredita o responsável.
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Também nesta área, haverá uma parceria com a Bial para acelerar a tradução de ensaios clínicos, que deixará de estar reservada a pessoal especializado. Novos medicamentos poderão chegar mais depressa ao mercado e poderão ser compreendidos mais facilmente junto dos mercados internacionais.
O investimento previsto para o novo centro de inteligência artificial varia entre 80 e 90 milhões de euros. O PRR “traz um sentido de urgência para o desenvolvimento dos produtos, para tornar a nossa economia muito mais competitiva a nível internacional”.
Mesmo que o projeto fique de fora das agendas mobilizadoras, “havemos de chegar na mesma aos produtos, embora com um intervalo de tempo maior. Não serão abandonados”, garante Paulo Dimas.
O gestor da Unbabel acredita que a inteligência artificial pode ser a “oportunidade da década” ao promover a ligação entre centros de investigação e universidade. Tal como está, o projeto poderá criar até 300 empregos nos próximos anos e gerar 44 novos doutorados e 94 mestres.
Os produtos nascidos a partir da iniciativa poderão proporcionar, até 2030, um total de 1,4 mil milhões de euros em exportações.
O centro de inteligência artificial também vai desenvolver novos produtos na área financeira, em parceria com a Feedzai. Irá nascer uma nova plataforma de dados para equilibrar o género e a representação das diversas etnias na hora de atribuir crédito a algum cliente. “Temos de ter essas preocupações asseguradas para que qualquer empresa que ofereça serviços nessa área não corra riscos de credibilidade da empresa”, lembra o diretor de produto.
No turismo, os hóspedes vão chegar aos hotéis do grupo Pestana e passarão a ser tratados na língua nativa. A esta iniciativa também se juntou a tecnológica de centros de contacto Talkdesk, fundada em Portugal. “Há turistas que chegam ao hotel e não falam inglês. Vamos desenvolver uma solução para comunicar com eles, por escrito, através de canais como o WhatsApp”.
A preocupação ambiental também está nas prioridades do projeto. “Treinar os nossos modelos de inteligência artificial, sobretudo na área da linguagem, leva à emissão de grandes quantidades de dióxido de carbono. Temos de mitigar o nosso impacto no planeta, através de tecnologias que aumentem a eficiência energética.”
Cada produto que for criado ao abrigo do centro de inteligência artificial terá de ter uma pegada ecológica positiva, numa classificação “semelhante à das lâmpadas e dos eletrodomésticos”, que varia entre as letras A e G.
Com a nova aposta, Unbabel e parceiros querem evitar cenários em que uma plataforma de inteligência artificial, “sem qualquer controlo, espalha notícias que provocam situações muito graves em países como Etiópia e Myanmar”.
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