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Juntar especialistas, debater ideias, divulgar boas práticas com o objetivo de repensar, reformular e interagir com as formas modernas de desenvolver hardware. Lisboa acolheu o primeiro encontro mundial dedicado ao mundo da engenharia de hardware. Uma forma de promover a inovação e fomentar a modernização de um setor que ainda usa técnicas dos anos 70, reunindo especialistas de engenharia de todo o mundo na Iteration22. O Dinheiro Vivo conversou com Marco Witzmann, co-founder e CEO da Valispace, empresa sediada em Portugal e responsável pela organização do Iteration22, que não só faz uma avaliação do setor, estado atual e para onde evolui, como explica os benefícios desta iniciativa para o país.
O que levou à organização do Iteration22 em Lisboa?
O Iteration22 nasceu da necessidade de modernizar a forma como a engenharia é feita para desenvolver mais rapidamente as inovações altamente complexas que podem vir a mudar o mundo. É absurdo que, em 2022, a maioria dos projetos de engenharia sejam desenvolvidos da forma lenta e arcaica dos anos 70, recorrendo a inúmeras documentações físicas e fluxos de comunicação desadequados. Isto diminui drasticamente o desenvolvimento de produtos, implicando gastos excessivos no orçamento e longos atrasos na entrega que são a norma para os grandes projetos de engenharia atuais. Escolhemos Lisboa porque é onde se encontra a sede da Valispace, empresa de software responsável pela organização, mas também pelo excelente clima, comida fantástica e pela rede de transportes que facilita a deslocação para várias cidades do mundo, e que fazem dela um local perfeito para sediar eventos importantes para um público internacional. A Web Summit, a mais importante e maior conferência de software e tecnologia do mundo, realizar-se em Lisboa atesta a capacidade da cidade para acolher eventos desta natureza.
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No que concerne ao mundo da engenharia como está Portugal?
A indústria de engenharia de hardware está a começar a passar pela mesma mudança que aconteceu com o desenvolvimento de software há 20 anos. As empresas de software começaram a trabalhar de maneira mais ágil e fluida, o que significa que grande parte dos softwares hoje são construídos por equipas mais pequenas com um ritmo muito mais célere. Tomemos como exemplo o WhatsApp. Hoje é utilizado por quase mil milhões de pessoas por todo o mundo e toda a sua base de código é escrita e monitorizada por cerca de 50 engenheiros de software. Esta é uma realidade que teria sido considerada impossível na mudança do século; seriam necessários centenas e centenas de engenheiros para tornar um produto popular.
E o mundo da engenharia de hardware agora parece estar a passar por essa mesma transformação de processos. Muitas startups que estão a construir produtos rebuscados, como máquinas de captura de carbono, estão a fazê-lo através de processos de design simples e metodologias ágeis, tornando as suas ideias concretizáveis a uma velocidade inesperada. As empresas tradicionais estão a começar a perceber que elas mesmas precisam de transformar as suas formas de trabalhar e projetar inovações, caso contrário poderão tornar-se irrelevantes antes de sequer conseguirem mudar.
Para onde caminha a engenharia mundial? Que desafios tem?
Através da combinação de ativos de energia renovável bruta de Portugal – como a eólica e a solar, que combinadas com os recentes investimentos em projetos de engenharia que envolvem hidrogénio verde, fábricas de baterias de lítio, habitações energeticamente eficientes e muito mais – é provável que o papel de Portugal neste futuro da engenharia seja influente e ousado. Com governos, ONG e o público em geral a acordar para a realidade da nossa necessidade em encontrar soluções tecnológicas para as alterações climáticas, rapidamente as histórias de sucesso nascidas em Portugal poderão ser replicadas por todos os cantos do mundo. Portugal já é anfitrião de várias empresas que predominam no setor da engenharia, mas também é cada vez mais conhecido por todo o mundo como uma hub fértil para startups. Com ótimos incentivos fiscais para as novas empresas se mudarem e iniciarem os seus negócios em Portugal, além de ser uma casa realmente tentadora para os funcionários dessas empresas, é extremamente possível que as próximas organizações que vão salvar o mundo o façam a partir de Portugal. Certamente ficaremos de olho nelas.
“O Iteration terá sempre lugar em Portugal. É o local perfeito.”
O que tem Portugal a ganhar com este evento? Será o primeiro de vários do género?
Bom, nós comprámos os direitos do Iteration para os próximos dez anos, por isso esperamos que este evento aconteça todos os anos, e que cresça em tamanho, reputação e influência. O Iteration terá sempre lugar em Portugal. Para nós, e pelas razões explicadas antes, é o local perfeito para encontros internacionais de todos os tipos. E temos a certeza de que os nossos estimados convidados ficaram entusiasmados com a calorosa receção que receberam dos anfitriões portugueses e estarão entusiasmados por regressar a este país para futuras edições do Iteration. Quem sabe se até não decidem construir as próximas versões dos seus produtos tecnológicos aqui.
Qual o papel da Valispace na organização da Iteration22?
A Valispace foi fundada em 2016, por mim e pela atual CPO, Louise Lindblad, com o desejo de mudar fundamentalmente a maneira como o trabalho da engenharia é feito. É um software que permite que a etapa de conceção de projetos de engenharia seja feita de forma muito mais ágil, eficiente e inteligente, permitindo que o “re-desenvolvimento” de produtos seja feito de forma mais rápida e barata. Nos anos em que a empresa foi fundada, tivemos muitos líderes de tecnologia e fundadores de empresas verdadeiramente impressionados com o que estávamos a fazer e alinhados com a nossa visão do futuro da engenharia. Tive muitas conversas com alguns líderes de empresas muito inteligentes que estão frustrados com a natureza desajeitada da engenharia tradicional e que têm um grande desejo de fazer as coisas de maneira diferente e melhor. Então, foi por isso que criámos o Iteration. Porque quisemos reunir algumas das mentes mais brilhantes do mundo para repensar, reformular e interagir com visões mais modernas de desenvolver hardware e partilhar essas ideias com a comunidade de engenharia.
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Qual a estratégia da Valispace para o futuro e que papel desempenha Portugal?
A Valispace tem vindo a crescer a um bom ritmo, ano a ano, e esperamos que continue, – e que continue aqui em Portugal. Já ultrapassámos a capacidade do nosso recente escritório em Alvalade e, à medida que a equipa cresce, a necessidade de encontrar novo escritório em Lisboa também cresce. Temos a missão de capacitar engenheiros para construir mais rapidamente os produtos que ainda nos parecem mágicos hoje. Queremos mudar o mundo da engenharia e acreditamos que, fazendo-o, a humanidade irá beneficiar.
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