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Um sistema automático de segurança poderia ter evitado que um veículo de manutenção tivesse entrado inadvertidamente na linha, junto a Soure, e, em 31 de julho de 2020, fosse abalroado por um comboio Alfa Pendular a 190 km/h.
O acidente provocou a morte de dois trabalhadores da Infraestruturas de Portugal (IP) que estavam dentro do veículo – também conhecido como dresina; o comboio ficou totalmente destruído. Precisamente um ano depois, a IP compromete-se a instalar o sistema em todas as suas máquinas até setembro de 2023.
A solução tecnológica está a ser desenvolvida pela portuguesa Critical Software. O contrato com a IP custa 3,9 milhões de euros (sem IVA) e prevê o “desenvolvimento, fornecimento e supervisão de montagem de um sistema complementar de segurança“, que será instalado nas 50 máquinas de manutenção.
Dentro dos veículos da IP será colocado um equipamento tecnológico que conseguirá ler os sinais instalados junto à linha. Por exemplo, se o sinal estiver vermelho e o maquinista não se aperceber, o sistema irá impedir automaticamente que a máquina avance.
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Para ler os sinais, o sistema da Critical Software inclui uma antena que emite constantemente ondas eletromagnéticas e está em contacto com as balizas, posicionadas na linha junto aos sinais luminosos.
É uma versão simplificada do sistema de controlo automático de velocidade, o Convel. Chegou a Portugal no início dos anos 1990 e protege os maquinistas do excesso de velocidade nos troços ou mesmo da ultrapassagem de sinais vermelhos. Está presente em mais de 1500 dos 2562 quilómetros da rede ferroviária nacional.
No acidente de Soure, a dresina ultrapassou inadvertidamente o sinal vermelho e entrou na linha principal. Dois minutos depois, a máquina foi abalroada pelo Alfa Pendular, que tinha acabado de ultrapassar o sinal verde.
A 190 km/h, a frenagem do sistema Convel já não foi a tempo de evitar o embate, segundo o relatório preliminar redigido pelo GPIAAF – Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários. O documento final deverá ser publicado dentro de várias semanas.
Fonte oficial da IP indica ao Dinheiro Vivo que o contrato “está em execução desde 13 de maio”, após a obtenção do visto do Tribunal de Contas. Atualmente, a gestora ferroviária e a Critical Software estão a elaborar as especificações técnicas e desenho do sistema.
A próxima etapa deverá iniciar-se dentro de seis meses, com “os primeiros testes, para receção dos cinco protótipos”, entre fevereiro e maio do próximo ano. Depois da validação dos equipamentos, “prevista para maior de 2022”, o sistema “será instalado, progressivamente, na restante frota” de veículos de manutenção da gestora de infraestruturas.
A solução da Critical Software foi encontrada apenas em 22 de julho do ano passado, uma semana antes do acidente de Soure. Foram necessários dois anos de pesquisa no mercado, iniciada em julho de 2018, apesar de, até ao início de 2016, as máquinas da IP terem passado o sinal vermelho mais de uma dezena de vezes.
Até à instalação do sistema, as máquinas de manutenção da ferrovia, além do sinal verde, só podem circular na linha de comboio e avançarem para a estação seguinte após uma nova autorização por parte do centro de comando operacional. A solução já existia para as linhas sem Convel antes do acidente de Soure.
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