A quebra em Portugal foi compensada pelo aumento das exportações em mercados como Bélgica, Rússia, Brasil e EUA, mas também pelas vendas na loja da adega.
Uma presença diversificada nos vários canais de distribuição, desde os mais tradicionais, como a restauração e as garrafeiras, aos mais modernos, como o e-commerce, é o segredo da Casa Relvas para ultrapassar as dificuldades causadas pela pandemia. Nos primeiros sete meses do ano, a empresa liderada por Alexandre Relvas aumentou a faturação em 7%, apesar da quebra do mercado nacional. Na exportação, para onde destina 70% da sua produção, Bélgica, Rússia, Brasil e Estados Unidos estão com resultados muito positivos.
O objetivo de crescimento orçamentado para o atual exercício era de 5%. A quatro meses do fim do ano, Alexandre Relvas Júnior mostra-se cauteloso. “Vamos ver como corre o último trimestre, se há, ou não, uma segunda vaga e como se vão comportar os mercados”, diz. E socorre-se de uma velha máxima na família – “Não vale a pena morrer de véspera” – para sublinhar: “Até agora as coisas têm corrido bem. Se isso mudar, cá estaremos para dar o litro e fazer por que corram bem novamente.”
Ainda assim, nem tudo está a crescer. No mercado nacional, onde a empresa tem uma presença maior na hotelaria e restauração, a quebra de vendas é da ordem dos 10%. Compensada pelas vendas diretas que realizou durante a quarentena. É que, mesmo sem visitas, as vendas na loja da adega cresceram 50%. Anualmente, passam pelo centro de enoturismo da Casa Relvas cerca de quatro mil visitantes, 95% dos quais turistas estrangeiros. Neste ano “há muitos portugueses a deslocarem-se à Herdade da Pimenta, em São Miguel de Machede, Évora, “não para visitar a adega, mas para comprar vinho”.
Assim se explica que as vendas estejam neste ano a subir 10% em volume, acima dos 7% em valor. O decréscimo do preço médio deve-se, entre outros fatores, a um menor consumo de vinhos de média e de alta gama, que habitualmente ocorre na restauração e nas garrafeiras, segmento de mercado duramente atingido pela pandemia.
Com 350 hectares de vinhas sob a sua gestão, dos quais 250 hectares próprios, divididos pelas Herdades da Pimenta, de São Miguel, no Redondo, e dos Pisões, na Vidigueira, a Casa Relvas chega à vindima de 2020 com seis milhões de litros em casa. Por opção.
“Temos sempre, pelo menos, o equivalente a uma vindima em stock, porque podemos perder uma colheita – estamos sempre sujeitos ao que a natureza nos dá e não nos podemos arriscar a estar seis meses sem vinhos para vender”, explica Alexandre Relvas.
A vindima de 2020 está a arrancar, tornando difícil fazer grandes previsões. Mas é esperada uma colheita “ao nível da do ano passado”, com uma qualidade “média-alta”. E a empresa está também já preparada para começar a receber todos aqueles que querem participar nas vindimas na Herdade de São Miguel, “com todas as medidas de segurança e com o selo Clean & Safe”.
O programa de vindimas arrancou nesta semana e prolonga-se até 20 de setembro, estando sujeito apenas a reservas com 72 horas de antecedência para grupos de até dez pessoas. Inclui um passeio na vinha, o corte das uvas, uma prova de mostos e de vinhos, e a pisa a pé se o grupo for composto por pessoas da mesma família. O programa tem a duração de cinco horas e custa 70 euros com almoço. Sem almoço fica por 40 euros. Cada participante receberá um kit de oferta, composto por uma t-shirt Harvest Crew 2020 e um chapéu.
“Neste ano reduzimos a metade o número de participantes no programa de vindimas para que possamos recebê-los com todas as condições de segurança”, diz o responsável da empresa. Habitualmente, a Casa Relvas recebe cerca de duas centenas de visitantes nas vindimas; neste ano considera que se conseguir chegar aos 100 “já será fantástico”. Até ao momento têm sido sobretudo os nacionais a mostrar interesse pelo programa, bem como alguns estrangeiros residentes.
O enoturismo é visto pela empresa como uma “importante ferramenta de marketing”, no contacto direto com o consumidor, mas, também, como uma fonte de rendimento. “É um sector que se tem desenvolvido muito nos últimos anos e que é já autossustentável. E que acaba por ser, também, uma forma de rentabilizarmos os ativos que temos, caso da adega, uma peça arquitetónica com algum valor, toda forrada a cortiça”, refere Alexandre Relvas Junior. Alojamento para os turistas não têm, nem pretendem ter. “Não está nos nossos planos. É um sector completamente diferente, que requer investimentos significativos e a criação de toda uma nova equipa, neste momento não estamos preparados para isso”, frisa.
Tal como não está nos planos da família um investimento noutra região vitivinícola. “Somos especialistas em Alentejo, por paixão, e acreditamos que ainda há muito para explorar no Alentejo, muitos terroirs para descobrir e desenvolver aqui. Temos é parcerias com produtores de outras regiões, designadamente em Lisboa e no Vinho Verde, cujos vinhos comercializamos com algum sucesso em alguns mercados”, refere. Quanto a comprar mais propriedades no Alentejo, a intenção não existe, para já. “Este é um ano em que, em termos de investimentos, isso não está nas nossas perspetivas. Claro que também não sabemos que oportunidades é que esta crise vai criar, mas não estamos à procura, nem estamos compradores, mas o futuro o dirá”, sublinha Alexandre Relvas Junior.
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