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Vítor Bento, antigo presidente do Novo Banco, disse esta terça-feira que a equipa de gestão inicial do banco percebeu de imediato que a dotação de capital da instituição era “insuficiente”.
O economista, que foi o escolhido para substituir Ricardo Salgado na liderança do Banco Espírito Santo (BES) em 2014, está hoje a ser ouvido na Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução.
Vítor Bento acabou por abandonar o cargo em setembro de 2014, dois meses depois de assumir a liderança do BES. O banco foi alvo de uma medida de resolução no início de agosto, tendo sido criado o Novo Banco como banco de transição.
“Na madrugada de segunda-feira, percebemos que a dotação de capital do banco era insuficiente”, disse Vítor Bento. Salientou que a equipa de gestão do banco não foi envolvida no processo de decisão do montante a definir. “O capital dotado estava demasiado à pele”, o que “era negativo para os ratings do banco”, adiantou.
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Para Vítor Bento, existiam vários fatores que suportavam aquela preocupação da equipa de gestão, nomeadamente o facto de os valores do balanço provisório do banco estarem calculados com base nas contas de 30 junho daquele ano. Salientou que, durante o mês de julho, ocorreu uma “desvalorização assinalável da participação da PT (Portugal Telecom), superior a 100 milhões de euros”. Havia ainda que levar em conta o impacto “das exposições indiretas”, incluindo obrigações e o papel comercial, que teriam um impacto que ainda não estava “clarificado”. A somar, havia que contabilizar também as exigências regulatórias relacionadas com os testes de stress.
Precisou que, quando aceitou liderar o BES, lhe foi transmitido que o banco tinha um problema de exposição ao Grupo Espírito Santo (GES) “mas que o problema estava contido na almofada de capital” existente. Indicou que foi ainda informado que “podia haver um problema adicional com a carteira de Angola (BESA)” mas que existiam negociações entre o Banco de Portugal e o Banco Nacional de Angola, que estavam “muito bem encaminhadas” e que o tema “não viria a ser fonte de preocupação”. Em todo o caso, se viesse a constituir um problema, “estaria disponível a linha de recapitalização pública” (da troika).
Grande parte das perdas registadas no banco deveu-se à exposição ao BES Angola. João Costa Pinto, coordenador do relatório ‘secreto’ e ex-presidente do conselho de Auditoria do Banco de Portugal, disse, na sua audição perante a mesma Comissão, que o Banco de Portugal foi complacente em relação à exposição do BES ao BESA.
A posição de Vítor Bento vai em linha com informações já divulgadas em anteriores audições na comissão. O diretor do Departamento de Supervisão do Banco de Portugal, Luís Costa Ferreira, afirmou que o supervisor defendia que o Novo banco fosse dotado de mais 500 milhões de euros, além dos 4,9 mil milhões de euros que acabaram por ser injetados inicialmente no banco.
Vítor Bento disse que a equipa de gestão do banco foi informalmente informada de que a dotação de capital do Novo Banco seria de 5,5 mil milhões de euros.
A Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução foi criada em 15 de dezembro de 2020. As audições começaram no dia 10 de março.
Atualizada às 17H10 com mais informação
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